- Nº 2575 (2023/04/6)

Mais um passo para a confrontação

Opinião

A Finlândia foi formalmente integrada na NATO a 4 de Abril, data em que este bloco político-militar belicista e ofensivo assinalou 74 anos. Recorde-se que a NATO foi criada pelos EUA em 1949, contando com o alinhamento inicial de mais 11 países, incluindo da ditadura fascista em Portugal.

Há mais de 30 anos que a Finlândia está a ser gradualmente envolvida na NATO, sendo considerada «um dos mais activos parceiros e um valioso contribuinte para as operações e missões dirigidas pela NATO nos Balcãs, no Afeganistão e no Iraque» (1). A Finlândia tem vindo a participar em estruturas, manobras, programas e operações – ou seja, em guerras e ocupações – promovidas por este bloco político-militar. Como afirma o presidente da Finlândia, «temos estado a bordo há já muito tempo» e «sempre desenvolvemos as nossas capacidades de trabalhar em conjunto com a NATO» (2). Os desenvolvimentos que agravaram a guerra na Ucrânia em 2022 serviram de pretexto para integrar a Finlândia como membro pleno da NATO.

O Secretário-Geral da NATO repetiu até à exaustão que se tratou de um «dia histórico». De certa forma assim será, mas não pelos motivos que proclama. Efectivamente, tratou-se de um dia que marca o completo abandono por parte da Finlândia da sua tradicional política de não-alinhamento, prosseguida após a Segunda Guerra Mundial, durante a qual, recorde-se, havia sido aliada da Alemanha nazi.

Uma política de não-alinhamento que permitiu à Finlândia acolher a Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa, que haveria de adoptar a Acta Final de Helsínquia, em 1975. Acta que reafirmou importantes princípios para as relações internacionais, a segurança colectiva e o desenvolvimento de relações de cooperação, entre os quais a igualdade soberana dos Estados, a resolução pacífica dos diferendos internacionais ou a autodeterminação dos povos.

A adesão da Finlândia à NATO é o corolário do ensejado abandono do estatuto de neutralidade deste país – e das posições de principio que o caracterizam – e a sua assumida inserção na estratégia de confrontação e guerra determinada pelos EUA, em que se insere o cerco militar à Rússia. Um cerco concretizado através dos incessantes alargamentos da NATO ao Leste da Europa – duplicando os seus membros em duas décadas –, um dos factores que está na origem do agravamento da situação na Europa e da actual guerra na Ucrânia, onde é cada vez mais evidente que se trata de uma guerra por procuração da NATO contra a Rússia.

A realidade demonstra que o alargamento da NATO e a ampliação do seu âmbito de intervenção à escala global – incluindo à Ásia-Pacífico, visando particularmente a China –, nunca significou maior segurança, mas sim uma maior ameaça à paz e à segurança na Europa e no Mundo. A inserção da Finlândia neste processo representa um salto qualitativo, particularmente grave, que reforça a presença da NATO junto às fronteiras da Rússia, colocando aquele país nórdico na primeira linha da estratégia de confrontação e guerra promovida pelos EUA, a NATO e a UE.

Os povos aspiram à paz, à segurança, à cooperação, ao desarmamento – e não ao caminho do militarismo, do alargamento de blocos político-militares, da escalada armamentista e da guerra para o qual o imperialismo está a empurrar a Humanidade.

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(1) https://www.nato.int/cps/en/natohq/topics_49594.htm

(2) https://www.nato.int/cps/en/natohq/opinions_213464.htm?selectedLocale=en


Pedro Guerreiro