Na próxima terça-feira, em centenas de iniciativas, o povo português sairá às ruas em todo o País para comemorar o 49.º aniversário do 25 de Abril, já no clima mais geral das comemorações do seu 50.º aniversário, que no próximo ano se assinala. Como sempre, as comemorações terão forte expressão de rua, com destaque para os desfiles populares em Lisboa e no Porto.
Em Lisboa, o desfile tem início às 15h00 na Praça do Marquês de Pombal, terminando no Rossio. É promovido, como habitualmente, por uma comissão que congrega inúmeras organizações e associações de âmbito diverso – de partidos políticos a estruturas sindicais, passando por colectividades, associações juvenis e outras, que todos os anos levam à Avenida da Liberdade os seus problemas, anseios e aspirações. Porque Abril foi, acima de tudo, uma realização do povo português, que deitou mãos à obra de construção do seu próprio futuro.
As comemorações populares no Porto estão igualmente a cargo de uma comissão composta por organizações e estruturas variadas, à semelhança do que sucede na capital. A concentração para o grande momento das comemorações – o desfile popular – está marcado para as 14h30 na Rua do Heroísmo, junto à antiga sede da PIDE no Porto, onde será prestada uma homenagem aos resistentes antifascistas, seguindo-se o desfile na Avenida dos Aliados. No final há intervenções evocativas da Revolução e um espectáculo musical com Jorge Lomba e Brigada Victor Jara.
Na véspera, à noite, também na Avenida dos Aliados, há fogo de artifício e concertos de Luta Livre e do Coral de Letras da Universidade do Porto, igualmente inseridos no programa de comemorações populares.
Por todo o País estão constituídas comissões semelhantes para comemorar o 25 de Abril, conferindo à data o carácter popular que por definição é seu: Em Coimbra, há manifestação às 15h00, a partir da Praça da República; em Faro a manifestação «Abril é Futuro» tem início marcado para as 15h30 de dia 25, no Jardim Manuel Bivar; na Moita, o desfile começa cedo, às 9h00, junto ao mercado municipal da Moita até à Praça da República, e tem como lema «Pela Paz, contra o aumento do custo de vida, pela saúde pública». Em Braga, às 15h00, na Avenida Central, realiza-se o desfile «Cumprir Abril, construir o futuro». Em Leiria, às 15h00, no Largo Goa, Damão e Diu, há «Canções de Abril», com um vasto naipe de músicos. Em Almada, o movimento associativo promove às 9h30 um desfile entre a Praça São João Baptista e a Praça do MFA. Em Alpiarça, há uma concentração às 12h00 no Largo Salgueiro Maia, junto ao monumento do cravo. Promovido pela URAP, realiza-se às 10h00 um desfile em Vila Franca de Xira, com concentração marcada para junto da estátua do escritor neo-realista Alves Redol. Em Valado dos Frades, concelho da Nazaré, há uma homenagem aos resistentes antifascistas locais na Praça 25 de Abril pelas 17h30, seguindo-se um debate.
Na Covilhã, realiza-se no dia 24 às 22h00 uma arruada da Avenida Frei Heitor Pinto até ao Pelourinho, acompanhada pela Banda da Covilhã.
Por todo o País
Em muitos concelhos, as autarquias têm programas próprios de comemorações, com iniciativas de rua, espectáculos de fogo de artifício e concertos.
Em Évora, por exemplo, a data será assinalada na véspera com o espectáculo «Liberdade», com Sara Correia, Mari Segura (Colômbia), Montse Cortés e Javier Limón (Espanha), Martín Sued, (Argentina) e Gabriel Selvage (Brasil). No Seixal actuam Kady, Soluna, Elláh, Yeni e Yeri, Gospel Collective, finalistas do The Voice. Branko, Vado Más Ki As, Prétu e Batukadeiras Madame X sobem ao palco ao lado de Dino d’ Santiago. Em Alcácer do Sal actua Mariza Liz, em Grândola Ana Moura e em Santiago do Cacém Carlão. No Sobral de Monte Agraço, o espectáculo musical fica a cargo de Rogério Charraz e Banda do Coreto.
Os Xutos & Pontapés estarão em Setúbal a 24 e no dia seguinte, em Azeitão, actua Dino d’ Santiago. Em Palmela, as festividades começam já no fim-de-semana: Sérgio Godinho a 21, Rogério Charraz a 23 e, a 24, Capicua, com a participação especial de Bardoada – Grupo do Sarrafo e o Grupo Coral Ausentes do Alentejo. A 25 é a vez dos Cais Sodré Funk Connection.
Também em Sesimbra, a festa prolonga-se por vários dias: a 22 há dança, com «Liberdade Minha», interpretada por Laura Póvoa, Nádia Fernandes, Fábio Simões e Tiago Coelho; a 24, JP Simões com Ruca Rebordão e Nuno Ferreira interpretam canções de José Mário Branco; a 25 há música em três locais do concelho: Sebastião Antunes e a Quadrilha em Sesimbra; Trio da Terra na Corredoura; e Luta Livre, na Quinta do Conde.
A riqueza dessa diversidade de iniciativas (que não se ficam por aqui) e dos seus promotores é também espelho e tributo à Revolução portuguesa, ao seu papel libertador, ao seu carácter de massas e às suas conquistas.
PCP, força de Abril
Ainda no âmbito das comemorações do 25 de Abril, o PCP promoveu um grande almoço no passado domingo, em Vila do Conde, com a participação do Secretário-geral Paulo Raimundo e desenvolve um vasto conjunto de iniciativas por todo o País (ver página 6). Dando, assim, o seu contributo para a denúncia do que foram os 48 anos de fascismo, para a afirmação da importância da Revolução e das suas conquistas, para a promoção dos valores de Abril que, empenhadamente, incorpora na sua luta e no seu projecto de Democracia Avançada.
A Resolução do Comité Central do PCP aprovada ainda em Dezembro, sobre o 50.º aniversário do 25 de Abril, realça que «comemorar o 25 de Abril de 1974 é informar e esclarecer sobre o que foi a opressão e o terror fascista, o que foi a resistência e a luta antifascista, a luta dos trabalhadores e do povo, dos democratas e patriotas.
«É comemorar o levantamento militar dos capitães de Abril e o imediato levantamento popular que o transformou em Revolução, a conquista da liberdade, da paz e do regime democrático consagrado na Constituição da República e as suas componentes política, económica, social e cultural.
«É afirmar a resistência ao processo contra-revolucionário e a luta pela ruptura com a política de direita e pela alternativa patriótica e de esquerda, pela Democracia Avançada – os Valores de Abril no futuro de Portugal, pelo socialismo.»
Daí o apelo do PCP a todos os democratas e patriotas, aos que aspiram à libertação da exploração e da opressão, para que, com a sua vontade, a sua voz e a sua luta, afirmem e projectem os valores de Abril no futuro de Portugal.
Hoje, perante a longa e intensa ofensiva conduzida pelos partidos da política de direita (PS, PSD e CDS, a que se vieram a juntar, mais recentemente, o Chega e IL) contra direitos alcançados com a Revolução de Abril, há quem considere o povo português despolitizado, apático e conformado. Nada mais falso: apesar de todas as dificuldades que enfrenta, não baixou os braços e continua a lutar pelos seus direitos e condições de vida – a grande manifestação de 18 de Março, contra a exploração e o aumento do custo de vida, é disto exemplo (de tantos outros que podiam ser dados). Tem os olhos na Revolução de Abril, cujas marcas e valores são sementes de futuro.
Por isso mesmo, vai marcar presença nas comemorações do 25 de Abril, na jornada de luta do 1.º de Maio e nas muitas lutas que virão. Porque todo o tempo é de Abril, quando é de luta o tempo que vivemos.
Nada do que se conseguiu foi dado, foi tudo conquistado através da luta
Abril pertence ao povo, a quem o construiu e a quem se destina a sua construção. Não pertence àqueles que nunca o quiserem e muito menos a cada um daqueles que faz tudo para o destruir.
A importância de assinalar Abril coloca-se agora com a mesma intensidade do que no passado. A luta pela memória e pela História faz-se também aqui.
É fundamental lembrar a todos e em todo o lado que não houve avanços nem transformações, da mais simples à mais profunda e radical, sem a determinada acção das massas populares, que num curto espaço de tempo venceu todas as resistências e alcançou tudo com as suas próprias mãos.
Nada do que se conseguiu foi dado, foi tudo conquistado através da luta. Foi ontem, é assim hoje e será assim amanhã!
Há um caminho a fazer para concretizar os valores de Abril, e vamos fazê-lo com a luta e com proposta!
Cá estamos prontos a assumir todas as nossas responsabilidades, quando o povo assim o entender, e mais cedo ou mais tarde, o povo vai entender que é esse caminho que serve os seus interesses.
Façamos das comemorações populares do 25 de Abril grandes momentos de afirmação também nas ruas, dos seus valores, do seu projecto e acima de tudo da sua actualidade.
E porque Abril foi e é o que é porque houve muitos Maios de luta, é preciso que o próximo dia 1º de Maio seja também uma grande jornada de luta, uma grande demonstração da força dos trabalhadores, da sua luta, um grande momento de exigência de aumento dos salários, dos direitos, um momento de combate contra a exploração e o aumento do custo de vida.
Cá estamos para resistir ao processo contra-revolucionário e lutar pela ruptura com a política de direita e pela alternativa patriótica e de esquerda, pela Democracia Avançada com os Valores de Abril no futuro de Portugal, rumo ao socialismo.
Temos a firme convicção que o generoso e avançado projecto de Abril e os seus valores e conquistas acabarão por se revelar como uma necessidade objectiva na concretização de um Portugal fraterno e de progresso!
Temos uma confiança inabalável de que as forças que construíram Abril, os trabalhadores, os democratas e as populações, mais cedo ou mais tarde voltarão a pegar nas mãos os destinos da sua vida e concretizar aquilo que ficou por acabar.
(Paulo Raimundo em Vila do Conde, 16 de Abril de 2023)