Professores em grande jornada pela carreira e pela Escola Pública

Com todo o sim­bo­lismo de uma data que grita os seis anos, seis meses e 23 dias de tempo de ser­viço cum­prido e ainda por re­cu­perar, os pro­fes­sores e edu­ca­dores deram ontem «uma ex­tra­or­di­nária res­posta».

A luta, de­ter­mi­nante para im­por­tantes avanços al­can­çados, vai con­ti­nuar

Ao in­tervir de manhã, no Porto, pe­rante mi­lhares de pro­fes­sores dos vá­rios dis­tritos a Norte, o Se­cre­tário-geral da Fen­prof as­se­gurou que os do­centes «não vão de­sistir, não vão parar de lutar», re­al­çando a grande adesão à greve na­ci­onal, que deixou as es­colas «pra­ti­ca­mente sem provas de afe­rição», apesar de pres­sões e dos ser­viços mí­nimos «ile­gais».

As in­ter­ven­ções de di­ri­gentes das es­tru­turas sin­di­cais que con­vo­caram esta jor­nada – que iria ter também uma ma­ni­fes­tação em Lisboa, do Marquês de Pombal para a As­sem­bleia da Re­pú­blica, du­rante a tarde, já de­pois da hora de fecho da nossa edição – ti­veram lugar na Ave­nida dos Ali­ados, para onde os pro­fes­sores se des­lo­caram em ma­ni­fes­tação, desde o Campo 24 de Agosto.

Acom­pa­nhou a luta, re­a­fir­mando a so­li­da­ri­e­dade do PCP, uma de­le­gação da Di­recção da Or­ga­ni­zação Re­gi­onal do Porto do Par­tido, da qual fi­zeram parte Cris­tiano Castro, do Se­cre­ta­riado da DORP, e Diana Fer­reira, da DORP.

No per­curso e du­rante os dis­cursos, foram re­pe­tidas pa­la­vras de ordem, como «car­reira só há uma, a do­cente e mais ne­nhuma», «não pa­ramos», «não ce­demos nem um dia» e «a luta con­tinua nas es­colas e na rua».

Mário No­gueira lem­brou, a pro­pó­sito da data e rei­vin­di­cação «6-6-23», que «com luta, con­se­guimos a re­po­sição de sa­lá­rios, con­se­guimos des­con­gelar as car­reiras, con­se­guimos repor os sub­sí­dios, con­se­guimos re­cu­perar uma parte do con­ge­la­mento». Da mesma forma, «vai ser com luta, até onde for pre­ciso, que vamos con­se­guir re­cu­perar até ao úl­timo dia dos 2393 dias que o Go­verno nos está a roubar».

Foi re­a­fir­mada a exi­gência de que o Mi­nis­tério da Edu­cação «res­ponda à pro­posta que re­cebeu destes sin­di­catos, a 13 de Março» e que, «nos termos da lei», devia re­sultar na aber­tura de um pro­cesso ne­go­cial. Nessa al­tura, «pro­pu­semos a re­cu­pe­ração fa­seada; pro­pu­semos que não dis­pen­sassem de vagas só al­guns, mas todos, porque é justo que, até ao fim das vagas, ne­nhum pro­fessor volte a perder tempo à es­pera de vaga no 4.º ou no 6.º es­calão; pro­pu­semos que quem está à beira da apo­sen­tação e já não tem tempo para re­cu­perar o que lhe foi re­ti­rado, possa usá-lo para ma­jorar a pensão ou para des­pe­na­lizar a an­te­ci­pação da apo­sen­tação».

Mas «o mi­nistro fingiu que não re­cebeu qual­quer pro­posta».

Co­men­tando a «ga­rantia» de que «60 mil pro­fes­sores vão con­se­guir chegar ao 8.º, ao 9.º, ao 10.º es­calão», de­cla­rada pelo mi­nistro, Mário No­gueira disse que «não que­remos três car­reiras». A car­reira do­cente, «de todos os pro­fes­sores, tem dez es­ca­lões, não tem oito para uns, nove para ou­tros, dez para mais al­guns, já para não falar na­queles que fi­carão no 7.º, se o tempo de ser­viço não for con­tado e se as vagas não aca­barem para todos».

 

A raiz dos pro­blemas

Para lá do «tempo que é dos pro­fes­sores», o Se­cre­tário-geral da Fen­prof sa­li­entou que «há muitos ou­tros pro­blemas que têm de ser re­sol­vidos, sob pena de, não tarda, não haver pro­fes­sores na mai­oria das es­colas ou de ou­tros di­plo­mados, que não têm for­mação pe­da­gó­gica, lá irem subs­ti­tuir pro­fes­sores qua­li­fi­cados».

Mário No­gueira re­alçou que «estão a roubar a mi­lhares de pro­fes­sores o di­reito a uma vida es­tável», re­fe­rindo que, para mais de 20 mil pro­fes­sores con­tra­tados que têm mais de três anos de ser­viço, foram abertas «pouco mais de oito mil vagas para vin­cu­lação di­nâ­mica».

«Os pro­blemas das es­colas e dos alunos não são cri­ados pelos pro­fes­sores, re­sultam da falta de in­ves­ti­mento na Es­cola Pú­blica e nos seus pro­fis­si­o­nais», frisou o di­ri­gente sin­dical, re­fe­rindo vá­rios exem­plos: «As es­colas so­frem com a falta de pro­fes­sores qua­li­fi­cados; so­frem com o ex­ces­sivo nú­mero de alunos em muitas turmas; so­frem com a falta de re­cursos para ga­ran­tirem uma Edu­cação ver­da­dei­ra­mente in­clu­siva; so­frem com a falta de tra­ba­lha­dores não do­centes e de téc­nicos su­pe­ri­ores; so­frem com uma Acção So­cial Es­colar que não faz a di­fe­rença, neste tempo de em­po­bre­ci­mento das fa­mí­lias; so­frem com a falta de uma gestão de­mo­crá­tica e com o pro­cesso de mu­ni­ci­pa­li­zação da Edu­cação».

O Se­cre­tário-geral da Fen­prof as­se­gurou que «vamos estar no dia 10 de Junho, em Peso da Régua» (onde vão de­correr as co­me­mo­ra­ções ofi­ciais do Dia de Por­tugal, de Ca­mões e das Co­mu­ni­dades Por­tu­guesas), «para dizer que este País também é dos pro­fes­sores, que estão em luta, exigem res­peito e não vão parar».

 



Mais artigos de: Trabalhadores

Greve da Mala é um exemplo de coragem para os que lutam

A Fec­trans e o STRUP as­si­na­laram, no dia 1, o 55.º ani­ver­sário da jor­nada de luta na Carris que ficou co­nhe­cida como a «Greve da Mala». A evo­cação re­a­lizou-se na an­tiga es­tação de Santo Amaro, em Lisboa.

Semana de luta na CM Lisboa

Com paralisações de duas horas, em todos os horários de trabalho e em todas as instalações, com concentrações no exterior, os trabalhadores da Higiene Urbana da Câmara Municipal de Lisboa levaram a cabo uma «semana de luta», de 29 de Maio a 2 de Junho. No essencial, como referiu o Sindicato...