Valentina Terechkova: a primeira mulher a ir ao espaço

Regina Marques

 

 


A pri­meira mu­lher a ir ao es­paço foi a cos­mo­nauta so­vié­tica Va­len­tina Te­resh­kova, lan­çada na Vostok 6 em 16 de junho de 1963, per­ma­ne­cendo no es­paço por 71 horas e re­a­li­zando 48 voltas à Terra. Faz agora 60 anos.

Va­len­tina Te­re­ch­kova nasceu em 6 de março de 1937, em Bolshoye Mas­len­ni­kovo. Mar­cada na his­tória so­vié­tica como uma he­roína, teve uma origem hu­milde. Os pais eram cam­po­neses. O seu pai, Vla­dimir Te­re­chkov, tra­ba­lhava como mo­to­rista de tractor e fa­leceu quando ela tinha apenas dois anos. De­pois do fa­le­ci­mento do pai, a mãe, Elena Te­re­ch­kova, co­meçou a tra­ba­lhar numa fá­brica têxtil. Aos 10, Va­len­tina ini­ciou a sua edu­cação formal, e, com 18, co­meçou a tra­ba­lhar, pri­meiro numa fá­brica de pneus e de­pois numa fá­brica têxtil.

Formou-se de­pois em en­ge­nharia pela Aca­demia Mi­litar da Força Aérea. Pi­loto-cos­mo­nauta, co­ronel do exér­cito, membro do Co­mité Cen­tral do PCUS, ganha uma di­mensão po­lí­tica de grande re­levo. Abraça a luta pelos di­reitos das mu­lheres e de­fende a sua par­ti­ci­pação no de­sen­vol­vi­mento dos povos, em todos os campos.

Va­len­tina Te­re­ch­kova é o exemplo da po­sição que uma mu­lher in­te­li­gente e co­ra­josa pôde ocupar numa so­ci­e­dade so­ci­a­lista, de uma mu­lher que quer ser útil ao seu povo e à Hu­ma­ni­dade. São dela estas pa­la­vras, ao Avante! (5.6.1975): «Não penso nas gló­rias da minha fa­çanha no Cosmos. Apenas penso que foi um triunfo para o Homem.»

A missão es­pa­cial faz dela uma mu­lher re­co­nhe­cida e o seu pres­tígio leva-a a vi­sitar di­fe­rentes países, es­ta­be­le­cendo laços de ami­zade com am­plos sec­tores de mu­lheres em prol da paz e de um fu­turo ra­dioso para as cri­anças. Abraça a causa da eman­ci­pação das mu­lheres e, como vice-pre­si­dente da FDIM, dis­cursa em as­sem­bleias ge­rais da ONU con­sa­gradas ao de­sar­ma­mento, le­vando longe o apelo das mu­lheres do mundo para se pôr fim à cor­rida aos ar­ma­mentos, como ex­pressão da von­tade de sal­va­guardar esta casa comum que é nossa.

A Re­vo­lução de Abril e a vi­sita a Por­tugal
Va­len­tina Te­re­ch­kova es­teve no nosso país entre 31 de Maio e 5 de Junho de 1975, a con­vite do Mo­vi­mento De­mo­crá­tico de Mu­lheres (MDM), no âm­bito das co­me­mo­ra­ções do Ano In­ter­na­ci­onal da Mu­lher. Era então pre­si­dente do Co­mité das Mu­lheres So­vié­ticas. A sua vinda ao nosso país é o sím­bolo de uma nova era nas re­la­ções de Por­tugal com ou­tros povos, aberta pela Re­vo­lução de Abril.

Ela veio e par­ti­cipou em ini­ci­a­tivas em Lisboa, Se­túbal, Grân­dola, Se­simbra, Al­verca, Gon­domar e Porto. Ini­ci­a­tivas de massas. Nas ruas. É re­ce­bida ca­lo­ro­sa­mente por mu­lheres e ho­mens ávidos de par­ti­cipar li­vre­mente. É acla­mada com honras mi­li­tares e de Es­tado. Vi­sitou mu­ni­cí­pios e sedes do PCP e do MDM. Teve en­con­tros com tra­ba­lha­doras, tra­ba­lha­dores e mi­li­tares do MFA. Foi con­vi­dada para con­fe­rên­cias de im­prensa. Re­cebeu me­da­lhas mi­li­tares e flores. Muitas flores.

Usando sempre da pa­lavra, agra­dece com na­tu­ra­li­dade e sin­ge­leza. Pa­la­vras sim­ples, es­cla­re­ce­doras, res­pon­sá­veis. No seu país, as mu­lheres ocupam lu­gares em todas as pro­fis­sões. São ope­rá­rias e en­ge­nheiras. Estão na in­ves­ti­gação es­pa­cial e têm di­reitos na ma­ter­ni­dade, na gra­videz e no parto, fé­rias pagas e podem ser mães e tra­ba­lha­doras. As mu­lheres so­vié­ticas par­ti­cipam ac­ti­va­mente no de­sen­vol­vi­mento da cul­tura, da eco­nomia, da ci­ência. Estão em lu­gares de poder e de­sem­pe­nham altas res­pon­sa­bi­li­dades.

O grande co­mício no Pa­vi­lhão dos Des­portos, pre­si­dido por Maria Lamas – apre­sen­tada por Fer­nanda Lapa como sím­bolo da re­sis­tência an­ti­fas­cista dos mo­vi­mentos de mu­lheres –, é de festa, ale­gria, ami­zade e so­li­da­ri­e­dade. Na mesa estão di­ri­gentes do MDM, estão Va­len­tina Te­re­ch­kova, Maria Alda No­gueira e Álvaro Cu­nhal, di­ri­gentes do PCP, e ele­mentos do MFA. É aqui que Va­len­tina ex­prime a pre­mência em alargar ainda mais as re­la­ções, os con­tactos e a co­la­bo­ração entre a opi­nião pú­blica fe­mi­nina dos dois países – em nome do fu­turo lu­mi­noso das cri­anças e do triunfo da jus­tiça.

«O su­cesso de qual­quer re­vo­lução de­pende da forma como as mu­lheres par­ti­ci­parem nela»: o dis­curso de Álvaro Cu­nhal va­lo­riza o al­cance da Re­vo­lução de Abril e suas con­quistas para as mu­lheres e toda a so­ci­e­dade. O MDM saudou a luta pela dig­ni­fi­cação da mu­lher so­vié­tica e tes­te­mu­nhou que as mu­lheres por­tu­guesas, que sempre lu­taram pela me­lhoria das suas con­di­ções de vida, nas fá­bricas e nos campos, en­con­tram com o 25 de Abril con­di­ções mí­nimas para uma vida au­tên­tica, de pro­gresso e de paz.

A his­tória nunca é li­near, faz-se ven­cendo re­sis­tên­cias e in­si­nu­a­ções. Sempre e sempre, a me­lhor ho­me­nagem a esta mu­lher, a pri­meira cos­mo­nauta em tempos pi­o­neiros das in­ves­ti­ga­ções no es­paço, é não perder de vista que os avanços ci­en­tí­ficos devem servir a Paz e o bem-estar da Hu­ma­ni­dade.

 

Sou a gai­vota
sou a gai­vota
– um traço azul
um traço azul
É a terra
Tudo vai bem

Pa­la­vras pro­fe­ridas por Va­len­tina Te­re­ch­kova a bordo da Vostok 6





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