- Nº 2591 (2023/07/27)

Gente fina é outra coisa

Opinião

Um apartamento de 70 milhões de dólares, considerado a compra mais cara feita em Nova Iorque nos últimos anos. Uma garrafeira avaliada num milhão de euros, com uma área de 400 metros quadrados. Uma garagem de 1500 metros quadrados em dois andares climatizados. 32 automóveis avaliados em 20 milhões de euros.

Parece coisa de filme, mas é só uma parte da bem real lista dos luxos citados na chamada «Operação Picoas», a investigação judicial sobre o esquema de corrupção associado à Altice, a antiga PT. Estes luxos não explicam o esquema nem a dimensão dos crimes, mas ilustram uma ostentação que choca com as enormes desigualdades e injustiças com que a esmagadora maioria do povo vive.

Pode dizer-se: é o capitalismo. E é! Para que fortunas como estas existam, muitos trabalhadores e recursos foram espremidos até ao tutano, muitas privatizações e leis foram feitas à medida. Nem Portugal, nem estas pessoas agora detidas, são casos únicos.

Vale a pena, ainda assim, fazer meia dúzia de perguntas: é esta a inquestionável superioridade da gestão privada? Foi para isto que se privatizou a PT (ou os CTT, ou mais uma série de empresas nacionais vendidas ao desbarato)? Quanto amealharam os grupos económicos e os «empresários» que enriqueceram à conta das privatizações, incluindo os que, sendo ricos há mais tempo ou com gostos menos espalhafatosos, deram menos nas vistas do que estes «milionários excêntricos»? Quantos problemas reais poderiam ser resolvidos, quantas potencialidades aproveitadas, se estes recursos fossem postos ao serviço do País, em vez de estoirados em caprichos? Que nome se daria a estes «empreendedores» se actuassem no «Sul Global» em vez de num país da União Europeia e da NATO – oligarcas?

E vale a pena fazer uma última pergunta ao Governo PS, ao PSD, ao CDS, à IL, ao Chega e aos muitos comentadores, especialistas e peritos que repetem há décadas as mesmas banalidades: se está mais que visto que as privatizações prejudicaram o País: querem fazer o mesmo à TAP e à Efacec porquê? Ou para servir os interesses de quem?

 

Margarida Botelho