Jornada Mundial da Juventude encontro com jovens de todo o mundo

Muitos milhares de pessoas de várias nacionalidades participaram na Jornada Mundial da Juventude (JMJ/2023), que decorreu em Lisboa, de 1 a 6 de Agosto.

Discurso do Papa teve significado na condenação das injustiças e no apelo à paz

Iniciada no dia 1 de Agosto em Lisboa a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) teve uma grande dimensão de participação, nomeadamente juvenil, com uma larga expressão multicultural, ao promover a vinda a Lisboa de milhares de jovens de muitas nacionalidades.

O Papa – que presidiu à JMJ – chegou à capital portuguesa no dia 2 de Agosto, tendo privilegiado, durante os quatro dias seguintes, o encontro com jovens de todo o mundo.

Nesse seu primeiro dia em Portugal, após uma reunião em privado com o Presidente da República, deslocou-se até ao Centro Cultural de Belém para uma recepção institucional com entidades, promovida por Marcelo Rebelo de Sousa, onde esteve presente o Secretário-Geral do PCP. Paulo Raimundo, considerou que o discurso do Papa teve «significado na condenação das injustiças, das desigualdades, da guerra, dos problemas ambientais, das dificuldades e da precariedade que muitos jovens enfrentam, nomeadamente aqui em Portugal e na Europa e que não estarão desligadas, nem o poderão estar, das opções e do caminho traçado pela União Europeia. Este retrato tem causas e responsáveis.» O dirigente comunista sublinhou «as preocupações de Francisco com «a justiça social e o apelo à paz», destacando «a esperança no futuro» enunciada pelo Papa, «certamente não exactamente da mesma forma como nós [PCP] o fazemos, mas que tem muita relevância».

No dia seguinte, 3, João Ferreira, representando os vereadores do PCP na Câmara Municipal de Lisboa, marcou presença no acolhimento dos muitos milhares de jovens que visitaram a cidade, que «queremos que seja ela própria um espaço de solidariedade e de multiculturalidade». Também sobre o discurso do Papa, destacou «o apelo à paz», com «o questionamento sobre quem prefere os conflitos e o armamento ao investimento no combate às desigualdades sociais e na promoção do progresso social», bem como o «alerta para o drama das migrações», com particular expressão no Mediterrâneo, e a «protecção do ambiente como condição de construção deste futuro, a que os jovens têm direito e pelo qual têm de lutar».

No Twitter, a JCP frisou que a JMJ, «enquanto momento de grande dimensão juvenil, representa um potencial espaço de partilha, reflexão e convergência em defesa de valores como a paz, a fraternidade, o combate à pobreza, precariedade e às desigualdades», a que a Juventude Comunista Portuguesa «atribui uma importância redobrada».

 

Algumas notas a propósito da JMJ 2023

1. A realização da Jornada Mundial da Juventude 2023/Lisboa, que decorreu entre os dias 1 e 6 de Agosto, constituiu uma iniciativa que pelo seu impacto e participação ultrapassou em muito a dimensão religiosa a que mais directamente estava associada. A Jornada representou uma oportunidade para um amplo encontro multicultural, para dar a conhecer o nosso País e o seu povo a milhares de jovens de muitos países de todos os continentes.

2. A sua dimensão e exigências de preparação, designadamente para o acolhimento de centenas de milhar de participantes, pôs em evidência muitas das insuficiências que persistem no País designadamente no plano das infra-estruturas e de acesso a serviços. Muitas das dificuldades e incómodos com que os que aqui vivem e trabalham se viram confrontados neste período – sejam os da mobilidade e transportes ou de alguns serviços essenciais – radicam nessas mesmas insuficiências e debilidades estruturais que para serem atenuadas exigiram concentração de meios e recursos com prejuízo para a sua garantia e cobertura mais geral.

3. Portugal é um Estado laico, com a separação da igreja e do Estado e a liberdade religiosa garantida pela Constituição da República Portuguesa. Esta separação entre as igrejas e o Estado, que envolve a responsabilidade das igrejas nas suas próprias iniciativas, não exclui que, em função de critérios públicos, haja cooperação de vário tipo na realização de iniciativas, particularmente com a Igreja Católica dada a sua expressão em Portugal. A separação do Estado e da Igreja, que genericamente se classifica como «Estado laico» não é sinónimo de hostilização de crentes ou de recusa de relacionamento e cooperação com entidades que representam as vária confissões de fé, designadamente a católica. A laicidade do Estado afirma-se e realiza-se, particularmente pela não ingerência de poderes religiosos sobre as esferas de decisão política, pela não assumpção e difusão da doutrina religiosa, a partir de poderes e instrumentos públicos. É no respeito pela separação entre Estado e religiões e, em simultâneo, no respeito pela liberdade de culto, em si mesma constitutiva da liberdade política de cada um, que o PCP se posiciona, recusando divisões artificiais ou acessórias que não favorecem a luta e a intervenção comum, a unidade e a convergência na acção.

4. Num balanço final a realizar importa avaliar o grau de investimento próprio realizado pela entidade organizadora – a Igreja Católica – nesta iniciativa, bem como a dimensão dos investimentos públicos e o seu equilíbrio e proporcionalidade face aos meios disponíveis para fazer face às dificuldades reais com que os trabalhadores e a população se confrontam. Neste quadro ainda mais necessário se torna que esses meios sejam agora efectivamente postos à disposição da população garantindo equipamentos de regular usufruto com preservação do espaço para o uso a que se destinam. Questão tão mais pertinente quanto a experiência vivida ali ao lado, no território da então Expo 98, revela como são fortes as pressões para adulterar as funções originárias a partir dos interesses urbanísticos e especulativos a eles associados.

As notícias que sugerem situações de práticas e actos de menor escrutínio e rigor em aspectos de gestão, designadamente de contratação pública devem ser esclarecidas. São questões que não são exclusivas da Jornada, e se por um lado representam a linha de ataque à gestão pública a pretexto das limitações extremas que lhe são impostas para tolher a sua eficiência, são por outro lado, caso se venham a comprovar irregularidades e aproveitamentos, em muitas circunstâncias resultado directo de opções e práticas ligadas à política de direita e a interesses económicos dominantes. Podendo e devendo ser escrutinados investimentos e recursos públicos alocados à realização da Jornada, em grande parte em equipamentos que vão perdurar, não deve deixar de se registar o silêncio de alguns quando se trata da entrega de recursos vultuosos e cíclicos a eventos associados ao grande capital de que é exemplo a Websummit.

5. Para lá de tentativas ou actos de instrumentalização e aproveitamento político da Jornada, de que o papel da CML e do seu presidente é expressão, o PCP deplora e denuncia os que a partir da realização deste evento viram uma oportunidade, como já antes ocorrera a partir de outros pretextos como o da epidemia, para questionar direitos, criminalizar a luta dos trabalhadores, legitimar a limitação de liberdades e garantias.

6. Para lá da sua dimensão religiosa, esta Jornada fica sobretudo marcada pela introdução de temas que o Papa fez questão de sublinhar quer quanto a posicionamentos e olhares sobre processos políticos, sociais, económicos e ambientais, quer quanto a palavras de estímulo à iniciativa dos jovens na superação de obstáculos e dificuldades ou no enfrentamento de medos neles inculcados para tolher a sua intervenção.

O tema da paz e dos caminhos para a solução dos conflitos e guerras, o contraste entre a aposta armamentista em prejuízo da resposta e combate às desigualdades, o avolumar das injustiças e o seu alimento em formas de exploração e precarização da vida, designadamente dos jovens, a questão das migrações, a protecção do ambiente e a sua relação com o social, constituem, sem prejuízo de pontos de vista e ângulos de abordagem distintos, afirmações com inegável significado e actualidade. São palavras e posicionamentos que devem ser vistos à luz do tempo em que foram expressos. Podem ou não ter prolongamento ou seguimento na acção da Igreja ou mesmo conhecer percursos de colisão com a prática dos que, fingindo enaltecer as palavras do Papa, as ignorem na hora de agir.

7. O respeito pela liberdade religiosa, o relacionamento e a cooperação, a atitude de não confronto com a(s) igreja(s), que se assume como questão programática, logo duradoura e não conjuntural, não significa que se prescinda de ideias e apreciações próprias sobre o que elas representam como espaço e suporte de concepções idealistas, de difusão de um misticismo desfavorável à apreensão dos fenómenos objectivos, de um atentismo susceptível de tolher a acção verdadeiramente transformadora do mundo, a luta dos trabalhadores, da juventude, dos povos, dando concretização a sonhos milenares da humanidade. Nem tão pouco de abandono da concepção materialista e dialéctica da vida e da sociedade que assumidos na consciência das massas são um instrumento decisivo no processo de emancipação social.



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