«O reencontro com o público da Festa será uma experiência sobretudo emotiva»

Definindo-se a si mesma como um «animal sentimental, expressão que dá título ao seu mais recente projecto – um livro, um disco, um espectáculo - , é este trabalho que Mísia apresentará neste seu aguardado regresso à Festa do Avante! e reencontro com o público que, confessa, sempre a «tratou muito bem».

«As minhas escolhas são sempre intuitivas e livres» Entrevista a Mísia

O espectáculo que traz à Festa do Avante! tem como base um projecto invulgar que decidiu lançar em 2022 e que juntou um livro com um disco e, depois, um espectáculo, tudo sob o título comum Animal Sentimental. Pode explicar esse projecto e como se complementam os três lados deste triângulo?

Este trabalho foi desde o início, sentido e pensado como um todo com três vertentes. Os capítulos do livro estão directamente ligados aos temas musicais do disco, sendo sempre o título do capítulo uma frase de uma música. Tudo isto desagua no Concerto cujo repertório ilustra partes da vida do Animal Sentimental (que sou eu) e que são contadas em pequenos monólogos. É um todo construído por três partes inseparáveis.

 

Há algo de autobiográfico no conjunto das três vertentes de Animal Sentimental? É uma espécie de balanço à sua vida pessoal e artística?

Eu defino-me como um animal sentimental, fui assim toda a minha vida. Sentir salvou-me nos maus momentos e fez-me valorizar os bons. Não faço balanços à minha Vida. Ela ensinou-me a ser humilde e não pretender formatá-la ou controlá-la.

«Sentir constitui-nos mais do que qualquer outra das funções psíquicas; dir-se-ia que temos as outras, no entanto somos “o sentir”». Maria Zambrano

 

O disco inclui canções e fados com letras de poetas e escritores portugueses que raramente associamos a autores de canções – uma das características, aliás, de todo o seu repertório. Em Animal Sentimental temos Fernando Pessoa, Lídia Jorge, Mário Cláudio, Natália Correia e Vasco Graça Moura. Como é que chegou a esta escolha?

Alguns poemas tinham sido cantados anteriormente no álbum Garras dos Sentidos e outros. Poemas agora com outras músicas, com outros arranjos de Ricardo Dias (Brigada Victor Jara). As minhas escolhas são sempre intuitivas e livres. Estou sempre muito atenta à opinião do disco. Ele é que manda.

 

O poema de Mário Cláudio, por exemplo, é apontado por si no livro como «um dos fados mais fortes que alguma vez cantei». Explica também que recuperou, para novas melodias ou novos arranjos, algumas poesias que tinha usado anteriormente (julgo que, se não estou em erro, são duas: a Dança da Mágoa de Fernando Pessoa, com música de Mário Pacheco e Se a Morte Me Despisse, de Natália Correia, para o fado Hilário). O que é que liga a poesia que repete neste disco com a poesia que usa pela primeira vez?

Dança de Mágoas foi inicialmente cantada em 1998 no fado tradicional Carriche. Nada une essas duas poesias. Não sinto necessidade dessa união. Este álbum tem muito a ver com um olhar para trás , um rewind, agora com um olhar diferente construído pela passagem do tempo e pelas experiências belas e terríveis da vida, contadas no livro. Não é um livro de escândalos suculentos, nem que convide ao voyeurismo, mas penso que o que nele digo, revela uma parte desconhecida da pessoa que fui e sou. A editora disse que era um livro belo e honesto e eu estou de acordo.

 

A forma como selecciona a poesia para os fados que canta obedece a algum critério em particular, a algum método específico? Tem alguma intencionalidade genérica? Foi sempre igual ao longo do tempo?

Depende dos trabalhos. Garras do Sentidos penso que foi o primeiro disco de Fado com um conceito uno e fechado - Fado tradicional e grandes poetas. Delikatessen Café Concerto era um jantar de músicas na época da troika. Para Amália, uma prenda para Ela, com quatro inéditos escritos especialmente em sua honra.

Não sigo nenhum padrão, seria incapaz...

 

Por outro lado, usa poesia em língua espanhola (Violeta Parra e Luís Eduardo Alte) em duas canções. Porquê?

Simplesmente porque gosto dessas duas canções desses cantautores que admiro e estão em relação com os capítulos do livro

 

Gravou este disco sob a direcção de Wolf-Dieter Karwatky, um prestigiado e premiado produtor e engenheiro alemão de discos de música clássica. Que som procurava obter quando decidiu chamar uma pessoa como ele? Resultou?

Procurava um som orgânico de qualidade excepcional. Gravamos todos juntos, no mesmo espaço, como nas gravações de música clássica, takes inteiros, eu não tinha nem auriculares, tudo o mais natural possível. Foi uma experiência em que aprendi imenso. Uma experiência epifânica para mim.

 

Este regresso à Festa do Avante! tem algum significado especial para si?

Fiz alguns concertos muito importantes para mim na Festa do Avante! no início do meu percurso. Depois foram anos de itinerância pelos palcos do Mundo. Agora para o animal sentimental ( risos) será uma experiência sobretudo emotiva, um reencontro com um público que me tratou muito bem sempre.

Não faltem!





Mais artigos de: Festa do Avante!

Alegria da juventude na construção da Festa do Avante!

Dos dias 11 a 15 de Agosto, os jovens comunistas, vindos de norte a sul do País, reuniram-se na Quinta de Atalaia, para a Jornada Nacional da JCP onde a alegria, a camaradagem e o entusiasmo estiveram presentes em todos os momentos.

Organizações Regionais do Partido reflectem a luta de todos os dias

É todo um país que está ao alcance do visitante. Conhecê-lo, na sua diversidade e no que tem de melhor: desde logo as suas gentes, os que produzem a riqueza, os trabalhadores, as suas aspirações e a sua luta pelos direitos laborais e sociais, por uma vida melhor. Mas também a sua cultura, o património, a gastronomia, produtos de excelência como a doçaria, os vinhos, queijos ou enchidos, o artesanato. É tudo isto que durante três dias as organizações regionais do PCP oferecem ao visitante da Festa.

«Temos os valores de Abril bem presentes na nossa música e nas nossas vidas»

Depois de ver o seu primeiro EP acolhido pelo público com os maiores elogios, a que se seguiu muita estrada e inúmeras actuações, o Expresso Transatlântico tem um novo álbum pronto a sair em Setembro. Duas músicas novas desse trabalho entrarão no alinhamento do seu concerto na Festa, revela a banda lisboeta nesta entrevista ao Avante!.