Direito à creche exige resposta do Estado

«O PCP de­fende a cri­ação de uma rede pú­blica capaz de su­prir a ca­rência de vagas que hoje se ve­ri­fica em Por­tugal e que cons­titui, na prá­tica, a ne­gação do di­reito à creche e da sua gra­tui­ti­dade para de­zenas de mi­lhares de cri­anças».

Cri­anças, fa­mí­lias e País pre­cisam de uma rede pú­blica de cre­ches

A po­sição foi rei­te­rada ontem, em con­fe­rência de im­prensa, por Mar­ga­rida Bo­telho, membro do Se­cre­ta­riado do Co­mité Cen­tral, que su­bli­nhou as ca­rên­cias exis­tentes: «mesmo so­mando todas as vagas exis­tentes no País em IPSS e no sector pri­vado, seria pre­ciso du­plicá-las para cor­res­ponder ao nú­mero de cri­anças dos 0 aos 3 anos».

«É essa falta de vagas que ex­plica a di­fi­cul­dade com que de­zenas de mi­lhar de fa­mí­lias se estão a con­frontar», con­si­derou ainda a di­ri­gente co­mu­nista.

Mar­ga­rida Bo­telho re­cordou, de­pois, que «em re­sul­tado da ini­ci­a­tiva do PCP, a gra­tui­ti­dade das cre­ches co­meçou em 2020 a ser apli­cada, abran­gendo, na al­tura, cerca de 30 mil bebés. No ano lec­tivo que agora ter­minou, cerca de 60 mil cri­anças nas­cidas de­pois de 1 de Setembro de 2021, ti­veram di­reito a creche gra­tuita. É um im­por­tante passo num ca­minho que tem de se fazer mais ra­pi­da­mente e que en­frentou sempre adi­a­mentos e pro­te­la­mentos por parte do Go­verno PS».

Ora, para o PCP, «não há ne­nhum mo­tivo para que as cri­anças nas­cidas antes de Setembro de 2021 e que estão a fre­quentar uma creche, não te­nham desde já acesso à gra­tui­ti­dade. (…) O Go­verno só não o as­sume se não quiser», acusou.

Ur­gente e justo

«As cri­anças, as fa­mí­lias e o País pre­cisam de uma rede pú­blica de cre­ches», alertou Mar­ga­rida Bo­telho, antes de as­si­nalar que o Par­tido «tem igual­mente de­fen­dido que as cre­ches não devem apenas dar uma res­posta so­cial, de guarda das cri­anças en­quanto os pais tra­ba­lham». Devem ser, «so­bre­tudo, uma res­posta edu­ca­tiva de qua­li­dade, capaz de ga­rantir a todas as cri­anças, in­de­pen­den­te­mente das suas cir­cuns­tân­cias e con­textos fa­mi­li­ares e so­ciais, a me­lhor edu­cação desde o mais cedo pos­sível», con­si­derou.

A di­ri­gente co­mu­nista anun­ciou, por isso, que «no início da sessão le­gis­la­tiva, o Grupo Par­la­mentar do PCP en­tre­gará um pro­jecto-lei que es­ta­be­lece um novo pa­ra­digma». Os objec­tivos fun­da­men­tais são quatro, de­ta­lhou: «assegurar uma res­posta edu­ca­tiva de qua­li­dade; as­sumir a gra­tui­ti­dade; ga­rantir vagas a todos as cri­anças dos 0 aos 3 anos; con­tri­buir para a in­versão do dé­fice de­mo­grá­fico».


O PCP propõe

Na con­fe­rência de im­prensa, Mar­ga­rida Bo­telho pre­cisou al­guns dos as­pectos da ini­ci­a­tiva le­gis­la­tiva do PCP e os seus pro­pó­sitos:

  • Al­terar a Lei de Bases do Sis­tema Edu­ca­tivo, in­te­grando as idades dos 0 aos 3 anos na tu­tela do Mi­nis­tério da Edu­cação, com­pe­tindo ao Es­tado a ga­rantia da uni­ver­sa­li­dade e gra­tui­ti­dade da oferta pú­blica;

  • Re­forçar a qua­li­dade das cre­ches, no­me­a­da­mente me­lho­rando o rácio entre cri­anças e pro­fis­si­o­nais nas salas, ga­ran­tindo a exis­tência de um edu­cador de in­fância por sala, bem como téc­nicos es­pe­ci­a­li­zados quando se jus­ti­fique;

  • Va­lo­rizar os tra­ba­lha­dores e a sua for­mação es­pe­cí­fica, no­me­a­da­mente as­se­gu­rando a con­tagem do tempo de ser­viço dos edu­ca­dores e equi­pa­rando as con­di­ções la­bo­rais às dos pro­fis­si­o­nais da rede pú­blica;

  • Es­ta­be­lecer cri­té­rios, prazos e ob­jec­tivos para a cri­ação de uma rede pú­blica de cre­ches, dis­po­ni­bi­li­zando 100 mil vagas até 2026 e 148 mil até 2030.

  • Re­cen­sear as zonas em que faltam mais vagas, as­se­gurar verbas no Or­ça­mento do Es­tado para 2024, mo­bi­lizar fi­nan­ci­a­mento co­mu­ni­tário e ga­rantir que este in­ves­ti­mento não conta no en­di­vi­da­mento pú­blico;

  • Iden­ti­ficar imó­veis pro­pri­e­dade do Es­tado que possam ser adap­tados, lo­cais onde é ne­ces­sário cons­truir de novo e ad­mitir o fun­ci­o­na­mento de cre­ches iti­ne­rantes em zonas de baixa den­si­dade po­pu­la­ci­onal.

Criar «uma rede pú­blica de cre­ches, de grande qua­li­dade, gra­tuita e uni­versal, é es­tra­té­gica na cons­trução de um Por­tugal com fu­turo», in­sistiu Mar­ga­rida Bo­telho. «O ca­minho não é alargar os ho­rá­rios das cre­ches para cor­res­ponder aos des­re­gu­lados ho­rá­rios de tra­balho dos pais, mas criar con­di­ções para que os pais te­nham mais tempo para os seus fi­lhos. O ca­minho é res­peitar os di­reitos dos pais en­quanto tra­ba­lha­dores, ga­ran­tindo me­lhores sa­lá­rios, as­se­gu­rando li­cenças de ma­ter­ni­dade e pa­ter­ni­dade pagas a 100% pelo menos até aos 7 meses do bebé e o res­peito pelos di­reitos de ama­men­tação e alei­tação; di­mi­nuir o ho­rário de tra­balho para as 35 horas se­ma­nais e com­bater os ho­rá­rios sel­va­gens, por turnos, à noite e ao fim de se­mana», con­cluiu Mar­ga­rida Bo­telho.




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