O CineAvante começou na sexta-feira com a projecção de dois filmes da Célula de Cinema do PCP — Paredes Pintadas da Revolução Portuguesa (1977) de António Campos e As Desventuras do Drácula von Barreto em Terras da Reforma Agrária (1977) —, recentemente digitalizados pela Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema. O sub-director desta instituição, Rui Machado, esteve presente e explicou que estas obras foram produzidas em película de 16 mm e estavam preservadas em arquivo. Sem esta digitalização, ficariam nos cofres e teriam poucas exibições. Desde 2014 que a Cinemateca tem digitalizado o cinema português para o preservar, incluindo neste lote filmes sobre a Revolução de Abril como Cravos de Abril (1976) de Ricardo Costa, incorporado nesta sessão. José Augusto Esteves, em representação do PCP, salientou a importância da celebração dos 50 anos da Revolução numa Festa que emergiu das suas transformações e dos seus valores. O realizador Pedro Neves falou sobre uma revolução inacabada e os ecos revolucionários no mundo de hoje na apresentação do seu Sonhos de uma Revolução (2023), rodado em Moçambique.
No sábado, a produtora de Sopa Fria (2023) de Marta Monteiro, Vanessa Ventura, salientou o facto de a realizadora fazer filmes de animação com protagonistas mulheres — desta vez em torno do tema, infelizmente actual, da violência doméstica. A realizadora Mónica Lima expressou a felicidade de mostrar Natureza Humana (2023), que nos fala de relações interpessoais e de laços de união, num evento como a Festa. Marco Martins, realizador de Great Yarmouth – Provisional Figures (2023), comentou que este filme compõe um díptico com São Jorge (2016), exibido no CineAvante em 2017. Na aldeia inglesa e na comunidade portuguesa emigrante que filmou, encontrou muitos trabalhadores que tinham emigrado na sequência dos anos de empobrecimento entre 2009 e 2014, foco do filme anterior.
A programação fechou no domingo com Quase Me Lembro (2023) de Miguel Lima e Dimitri Mihajlovic e Entre Ilhas (2022) de Amaya Sumpsi. O realizador do primeiro disse que se trata de uma experiência sensorial, com forte cariz pictórico, sobre as terríveis memórias do colonialismo. Na apresentação do segundo, a produtora Renata Sancho referiu os testemunhos a várias vozes sobre a crescente limitação nas deslocações marítimas entre as ilhas do arquipélago açoriano. Marco Varela, responsável pela Organização da Região Autónoma dos Açores do PCP, esclareceu que os comunistas entendem a cultura como um direito democrático que necessita de investimento público, a começar pela atribuição de 1% do Orçamento do Estado a este sector.
As duas sessões da Monstrinha no sábado e no domingo de manhã deram a conhecer o melhor do cinema de animação para crianças que se faz pelo mundo. Em complemento, nos mesmos dias, a Festa ofereceu uma oficina de cinema de animação em stop-motion no Espaço Criança, dirigida por Tiago Galrito, que também apresentou os filmes da Monstrinha. Os resultados foram projectados antes das outras sessões do CineAvante.