Parecem bandos de pardais à solta, escreveu Ary dos Santos n’ Os Putos, esse belíssimo e magistral poema cantado por Carlos do Carmo que assenta tão bem para descrever o Espaço Criança da Festa do Avante!. Ao longo de três dias, foi um chilrear constante, um autêntico esvoaçar entre escorregas e baloiços, túneis e gincanas de pneus, pinturas faciais e teatros de fantoches, oficinas de cinema de animação e contos lidos ou encenados, jogos e insufláveis.
Uns, mais crescidos ou afoitos, aventuravam-se sozinhos neste mundo que estavam ávidos de explorar, ao passo que outros, mais novos ou simplesmente mais tímidos, requeriam a companhia dos pais, dos avós, dos tios ou dos irmãos mais velhos. Assim se concretizavam, em simultâneo, o direito a brincar e o direito à família, reivindicações expressas em duas belas camisolas da associação «Os Pioneiros de Portugal», que ali era possível adquirir.
Falta, agora, que para lá dos portões da Atalaia haja creche pública para todos os bebés, uma escola de qualidade para as crianças, pais e mães a quem sobre tempo para estar – e para brincar – com os filhos: também neste aspecto, a Festa do Avante! constitui uma pequena amostra do que os comunistas portugueses defendem para o País. E tão bom que é...
A brincar, a brincar…
«Crescer em Paz» foi o tema do debate realizado na tarde de sábado no Espaço Criança. O que é a paz? O que a perturba? foram as questões a que se procurou responder, sem guiões prévios e estimulando a reflexão própria das crianças: com o seu quê de inocência, talvez, mas seguramente mais rica e profunda do que muitas vezes se imagina.
Os resultados desta conversa ficaram registados em duas folhas coloridas. Numa lia-se que a paz é «brincar em segurança», «brincar com amigos», «partilhar brinquedos», «animais de estimação», «desporto», «cultura» e «educação». Noutra revelava-se que a violência, a solidão, a fome, a falta de casa e não ter família são factores que a perturbam.
Um Mundial de futebol jogado por países imaginários ajudou os mais novos a pensar o mundo. As profundas diferenças económicas e de meios, ali representadas por uma desigual quantidade de berlindes à disposição de cada um dos «países» participantes, reflectiam-se depois no resultado do torneio. Colocadas perante este cenário, as crianças «consertaram» esse mundo imaginado (que não é, afinal, tão diferente assim daquele em que vivemos): redistribuíram os berlindes, equilibraram as forças, tornaram-no dessa forma mais justo.
A brincar, a brincar, estimula-se o pensamento crítico de uma forma que por vezes nem a própria escola faz, realçou ao Avante! o dirigente dos Pioneiro José Albuquerque, que participou no debate juntamente com Julie Neves, do CPPC.
Na parede exterior da banca da associação – oposta àquela onde se anunciava, numa pintura, a realização da Festa da Criança no próximo dia 23 de Setembro, no Seixal – um outro poema garantia que Nós somos o fruto e a semente/ o voo de uma ave que nos traz/ uma rosa, um cravo, um malmequer/ a esperança de vivermos em paz.