- Nº 2597 (2023/09/7)
Palco 25 de Abril

Uma festa dentro da Festa

Festa do Avante!

No início do segundo dia de música, o público vai ocupando o relvado verde da grande praça do Palco 25 de Abril a convite do grupo Impale, vencedor do Concurso de Bandas Novos Valores. Rock cantado em inglês – às vezes suave, outras vezes frenético.

«Nada na vida se alcança / sem dar sentido e amor à luta!» – palavras de Criatura, espalhando o refrão-manifesto por milhares de vozes mais. O concerto iniciou-se sereno, mas depressa o terreiro seria inundado de música da terra e da urbe, «cortada» por palavras de agitar pensamentos. Criatura e o Coro dos Anjos foi a festa popular.

Com Francisco, El Hombre, a denúncia da sociedade em que «o dólar vale mais que eu», não é independente da instalação da festa total ao ritmo da música sul-americana. É o canto antifascista da América dos pobres, da defesa dos direitos, da esperança colectiva. Festa na Festa, uma vez mais!

Ratos do Porão é tribuna do Brasil na linguagem do intencional caos sonoro do punk-rock. Gritou-se «Bolsonaro na cadeia» e «Alerta antifascista», num brado intenso e emocionado.

«Vocês estão com boa energia e eu estou a ficar tímida», disse Nenny, mas não era caso para isso – o público da Festa é tão parte do concerto como a música que o palco gera. Como ficou provado!

O Palco 25 de Abril tanto fica cheio com uma orquestra sinfónica como com «apenas» uma cantora, um guitarrista e um percussionista. Depende do significado e da dimensão da música que ali se leva. A Garota Não levantou voz na defesa das mulheres, da dignidade das vidas, na exigência de soluções. Forma e conteúdo: o timbre precioso, a lucidez das palavras, a fluência da melodia, a sobriedade dos arranjos. Com ela, Luca Argel trouxe o seu canto – e a denúncia.

«A lua estava lá fora, para além do firmamento», quando Jorge Palma entrou no palco e saudou «a grande Festa, cada vez melhor!». Traria consigo Rui Reininho num belo encontro de canções. E dedicou «Na Terra dos Sonhos» aos construtores da Festa.

«Chegou» é nome de canção e foi saudação de Bateu Matou mal pisou o palco: «ô-é-ô/Avante chegou» foi logo refrão para milhares de vozes. «Vamos montar o baile!», prometeram. E assim fizeram.

No domingo, o programa abriu com o som alegre de José Barros com grupo o Navegante. Convidados por este artista actuaram também, vindo de Itália, do «tacão da Bota» (de Puglia), o cantor Mimmo Epifani, acompanhado pelo seu bandolim, o grupo de cante alentejano Planície e o colectivo de percussão Tocá Rufar. Foi um espectáculo de diálogo trepidante entre as sonoridades tradicionais portuguesas e italianas, com espaço para «Todo Cambia», eternizada por Mercedes Sosa.

Com a palavra de ordem «a crise aumenta e o povo não aguenta» entrou o projecto Luta Livre, de Luís Varatojo. A plateia seguiu com entusiasmo vibrante a música e as palavras inteligentes, com humor, sobre as grandes questões que ensombram a vida dos portugueses: os problemas laborais, as desigualdades sociais, o aumento do custo de vida.

Também de Puglia veio Loredana Savino, com o seu «concerto antifascista e comunista». Um espectáculo de música de intervenção com uma bela voz, acompanhada por bons músicos, que nos trouxe canções do movimento revolucionário italiano e internacional: dos hinos italianos «Bandiera Rosa» e «Bella Ciao» ao cubano «Hasta Siempre».

Com o recinto cheio, a jornada encerrou com a actuação de Agir «Cantando Abril», acompanhado pelos convidados Milhanas, Lura, Carolina Deslandes e Paulo de Carvalho. Em plenas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril estes artistas revisitaram alguns dos grandes temas que marcaram a resistência antifascista e o período revolucionário.

Assim como começou, acabou este último dia da Festa: com a alegria da Carvalhesa, dançada e pulada com entusiasmo pelos mais jovens – e pelos menos jovens. A Festa segue para o ano.

A apresentação esteve a cargo de Candido Mota, Maria João Luís e Marina Albuquerque.