- Nº 2597 (2023/09/7)
Festa do Avante! assinalou 50 anos da Revolução

Abril em cada canto, em cada gesto

Festa do Avante!

Foi Álvaro Cunhal quem o disse, em 1976: a Festa do Avante! era um sonho antigo que a Revolução de Abril tornou possível. Essa edição pioneira, tal como todas as que se lhe seguiram, até à que há dias se realizou, expressou a vida «como a queremos e conseguiremos» e o mundo tal qual o «construiremos»: a fraternidade, a solidariedade, a liberdade, a igualdade, a paz, o esforço partilhado por um objectivo emancipador, elementos marcantes da Festa do Avante! – em cada recanto, em cada iniciativa, em cada tarefa – são eles próprios valores de Abril.

Juntemos a estes valores um outro, fundamental, o da alegria – e não foi Abril, ele mesmo, uma explosão de alegria? – e temos a Festa. Desde a abertura – e que abertura, com milhares de pessoas «acompanhadas» desde as entradas até ao interior do recinto pelo ritmo avassalador dos grupos de percussão – até à última Carvalhesa, ao último abraço, ao último «até para o ano».

Realizada, este ano, em plenas comemorações dos 50 anos da Revolução (que se cumprem já em 2024), a Festa dedicou-lhe vários e significativos momentos: espectáculos de música e teatro, debates, edições de livros, exibição de filmes e a decoração dos espaços de várias organizações regionais.

Na manhã de sábado, no Espaço de Lisboa, mais de centena e meia de pessoas de todas as idades e formações (entre as quais o Secretário-Geral do PCP, Paulo Raimundo) participaram na oficina de azulejo dirigida pelo artista plástico Miguel Januário. Cada contributo, devidamente numerado, integrará um dos dois murais colectivos que serão instalados em Lisboa e no Porto, sob o mote «Cumprir!». «Serão mais de 700 azulejos», revelou ao Avante! Miguel Januário, para quem «é lindo ver aqui tanta gente, de crianças a artistas plásticos, a construir este projecto, juntos, como se fez Abril». Nos próximos meses haverá mais oficinas.

Valores bem vivos
No coração do Espaço Central, uma enorme bandeira do Partido erguia-se de um monte de escombros, restos de muros e grades, instalação integrada na exposição 25 de Abril, uma revolução libertadora, de que era elemento preponderante. À frente, alinhados, cravos vermelhos brotavam do chão: muitos como as conquistas de Abril e viçosos como o seu legado.

Na primeira parte da exposição denunciava-se os crimes do fascismo e as suas vítimas, revelava-se os poderosos interesses económicos que a ditadura servia, valorizava-se a constante e multifacetada luta pela liberdade e a democracia, na qual o PCP se assumiu como vanguarda e polo aglutinador: ao texto e às fotos impressas nos painéis somavam-se os múltiplos jornais, folhetos e publicações clandestinas exibidos em vitrines e as enormes reproduções das ilustrações de Rogério Ribeiro e José Dias Coelho.

Depois da bandeira e dos cravos, um filme com depoimentos de militares de Abril abria para o que se seguia: com o preto a dar lugar ao vermelho, falava-se da Revolução e da contra-revolução, da poderosa luta de massas, da aliança do povo com os militares progressistas, dos golpes reaccionários, das conquistas – as que se perderam e as que subsistem, consagradas na Constituição da República Portuguesa.

Todas estas questões foram aprofundadas no debate 50 anos da Revolução de Abril – Abril é mais futuro!, que reuniu ali ao lado, no Fórum, José Capucho (Comissão Política e Secretariado), Rui Fernandes (Comissão Política), António Filipe (Comité Central), José Augusto Esteves (Comissão Central de Controlo) e Gonçalo Veiga (Comissão Política da Direcção Nacional da JCP). Tal como na exposição, esteve em destaque o papel do PCP na resistência ao fascismo, no avanço da Revolução e em defesa das suas conquistas. É este partido, recordou-se, que no seu Programa propõe uma democracia avançada que «projecta, consolida e desenvolve os valores de Abril no futuro de Portugal».

Concretizada todos os anos, ali, na Quinta da Atalaia.