- Nº 2597 (2023/09/7)
Concerto sinfónico

Lopes-Graça nos 50 anos de Abril

Festa do Avante!

No garbo da «Marcha do MFA» – pela Sinfonietta de Lisboa, pelo maestro Pearce de Azevedo e pelas palmas do público; nos silêncios expressivos – inquieto, na escuta de Peixinho, e embalado, pela soberba prestação de Armando Possante e de Joana Barata (herdeiros da tradição de excelência dos solistas da Festa); no canto de «Grândola, Vila Morena» a plenos pulmões pelo público, lembrámos o longo municiamento do desafio exigente e delicado de receber a Grande Música na Festa:

A presença do grande Luigi Nono na FIL, apresentando «Al gran sole carico d’amore»; a Orquestra da Festa, surpreendida entre stands e palcos do Jamor, dirigida e comentada por Álvaro Salazar; a prestação anual da Metropolitana de Lisboa de Graça Moura já no Alto da Ajuda/Palco 1.º de Maio; por fim, a sua colocação amplificada no palco 25 de Abril, passando mais tarde o testemunho à Sinfonietta e ao maestro Pearce de Azevedo, agigantando o público e baixando o seu nível de esforço (e de compromisso) na ida ao concerto.

Resistiria ao repto este tipo de Música – popular, pois Património de todos; anatemizada, por preconceito classista e pelo temor do capital ao seu poder emancipatório; exigente de condições técnicas (donde sobressai o proscrito silêncio) para o seu democrático usufruto?

Lopes-Graça propõe que, para promover a Música, se ofereça «a melhor música, executada pelos melhores artistas, pelas melhores orquestras, pelos melhores coros». Este requisito – difícil de atingir nas parcas condições concretas de quem organiza e de quem, em Portugal, é contratado para tocar e dirigir – terá sempre resultado de excelência, quer nos que assistem pela primeira vez a um concerto, quer no crescente número de músicos e de melómanos que vem à Festa.

No concerto, Lopes-Graça pairou em permanência. No que lhe ouvimos e ficou por ouvir, mas também pelas suas advertências sobre a divulgação da Música. Presenteou-nos com «Divertimento», que iniciou o concerto em excelente disposição. Mostrou como compor Música de Intervenção de qualidade (iminente a edição das «Heróicas» pelo Coral de Letras da UP!) e como pôr Música Tradicional Portuguesa e sons do século XX na boca e no coração dos coros amadores, neste caso do Lisboa Cantat, dirigido por Jorge Carvalho Alves. Por último a Sinfonieta, obra significativa do seu catálogo.

O programa, que se ancorou solidamente nos 50 anos de Abril, para além da fecunda humildade com que Graça tratou «Grândola» e José Afonso, veio lembrar também a profética inclusão da «Carvalhesa» nas suas «Melodias Rústicas (IV)», bem antes da renovada funcionalidade da moda transmontana, bem patente na Festa, após o exemplar arranjo de Fausto Bordalo Dias.