A Festa, a luta e o futuro

Ângelo Alves (Membro da Comissão Política)

Vamos à luta, porque ela é uma Festa!

Persistem vivas na nossa memória as sensações, sentimentos, sons, cores, conteúdos e a extraordinária liberdade, força, confiança e alegria que emanaram de cada canto e momento da Festa do Avante!. Terminada a Festa persiste um orgulho imenso na vontade, criatividade, força, ideais, trabalho e entrega de todos (e tantos milhares que foram) os que ergueram e fizeram funcionar a festa, de todos os que materializaram naquela cidade de três dias as ideias, o ideal, a vontade e o projecto que fazem da Festa uma iniciativa ímpar no panorama nacional.

A Festa é uma das mais belas obras colectivas existentes em Portugal, que muitos apelidam justamente de «terra dos sonhos». Mas é muito mais do que isso, mesmo que isso já seja tanto. É uma poderosa realidade.

Ao vermos a torrente de mulheres, homens, jovens e menos jovens «invadirem» as quintas da Atalaia e do Cabo com sorrisos rasgados de alegria, sabemos que ali não estão a entrar «apenas» pessoas felizes. Naquela terra de liberdade vivem e convivem alguns dos mais bonitos sonhos individuais e colectivos e convergem inúmeras lutas, grandes e pequenas, passadas e futuras. É isso que é a Festa: um gigante, poderoso, real e bonito ponto de encontro e catapulta colorida de sonhos feitos lutas por um mundo melhor, por justiça, liberdade, paz e progresso para todos.

É esta a matriz diferenciadora da Festa – ideológica, popular e de massas. A Festa é o que é porque quem a organiza é o PCP. E é exactamente por isso que no seu âmago e natureza política, cultural, social e de classe ela é a Festa de um povo que não desiste de lutar e que de forma natural se apropria de sentimentos, generosidade, solidariedade, princípios e perspectiva, derrubando preconceitos, construindo amizades e cumplicidades, edificando e solidificando força, apontando e tornando mais próximos horizontes de futuro.

A Festa é muita coisa ao mesmo tempo, ela parece (e é de facto) feita à medida de cada um de nós. Ali cada um se sente construtor, dono e herdeiro de uma diversidade que a todos une e completa. Ali nasce, cresce e floresce uma simbiose perfeita nascida dessa ideia simples e poderosa de que a acção, o conhecimento e a contribuição individual, inserida na vontade, intervenção e luta colectivas, faz com que todas as utopias e sonhos sejam possibilidades, e o futuro uma realidade palpável à distância de mais uma luta. Na Festa, que é da luta, e na luta que ecoa na Festa, a sociedade e o Mundo confirmam-se como realidades que podemos de facto transformar, pelas nossas mãos e vontade.

Na Festa confluíram todas as lutas. Ali estiveram os operários e os trabalhadores que lutam por melhores salários e direitos, contra a exploração. Ali chegaram as lutas em defesa do SNS, da educação pública e dos serviços públicos. Ali foram felizes os reformados que não desistem de exigir a simples ideia do respeito por quem produziu riqueza, construiu País e vidas. Ali conviveram aqueles que vão sair à rua pelo direito à habitação. Ali esteve a juventude (e tantos que eram) que constrói presente e futuro com as suas lutas pelo direto à educação, ao emprego com direitos, a um futuro de estabilidade. Ali estiveram os artistas e intelectuais sem medo, comprometidos com o seu povo e as suas justas lutas. Ali estiveram as mulheres, as crianças, os micro, pequenos e médios empresários, as populações, o povo que acredita que Abril se deve e pode cumprir. Ali esteve também o Mundo que luta pela Paz, que é solidário, que vive da amizade e cooperação e não das guerras, imposições e chantagens.

Tudo isto é a Festa. E foi tudo isto que, mais uma vez, a Festa potenciou. É exactamente por isso que ela é tão temida por aqueles que vêem na luta do povo uma ameaça e não a mais sólida garantia de que o futuro irá ser melhor. A Festa é a luta e a melhor forma de a continuar já hoje é dar seguimento às lutas que já neste mês de Setembro temos pela frente. Vamos à luta, porque ela é uma Festa!




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