Volkswagen impõe sacrifício pesado para custear as suas opções erradas

A VW Autoeuropa e a multinacional alemã têm instrumentos e condições para pagarem os salários na íntegra e preservarem os postos de trabalho de todos os trabalhadores, mas decidiram cortar e despedir.

Os trabalhadores não têm nenhuma responsabilidade na falta de componentes

Logo que a administração da fábrica automóvel de Palmela anunciou a intenção de suspender a produção «por algumas semanas», por falta de componentes, o SITE Sul lembrou que existe uma ferramenta para paragens deste tipo.

Num comunicado de 29 de Agosto, o sindicato da Fiequimetal/CGTP-IN exigiu que a administração recorresse aos «down days» (dias de não laboração, sem perda de remuneração, introduzidos na Autoeuropa para justificar o não aumento dos salários, há quase uma década). Defendeu ainda que deviam ficar garantidos todos os direitos, como o subsídio de refeição e o prémio de assiduidade.

A Comissão Sindical do SITE Sul na empresa, acautelando a opção patronal pelo lay-off (suspensão dos contratos de trabalho), deixou sublinhado que há «todas as condições para garantir o emprego, o salário e todos os direitos a todos os trabalhadores, inclusive os que têm contrato temporário com a Autovision».

A reunião com a administração, pedida com urgência nessa terça-feira, só se realizou na quarta-feira da semana seguinte, dia 6 de Setembro. Ao tomar conhecimento das condições acordadas com a Comissão de Trabalhadores, para um «lay-off» entre 11 de Setembro e 12 de Novembro, o sindicato reafirmou que «a empresa e o Grupo VW têm condições para garantir o pagamento integral dos salários e manter o volume da mão-de-obra».

«Como já fez noutras paragens de produção», a administração poderia ir além de seis dias de acréscimo no limite anual de «down days». Além disso, podia e devia «garantir o posto de trabalho e os rendimentos a todos os trabalhadores, incluindo os que laboram com contrato temporário». Por fim, o valor da compensação pelo trabalho ao fim-de-semana deveria ser incluído no cálculo do valor do lay-off, tal como o subsídio de refeição.

No dia 8, o SITE Sul condenou «a intransigência das administrações da VW Autoeuropa e de algumas empresas suas fornecedoras», que recusaram esta via, e expressou «preocupação com o impacto desta situação no emprego e salários dos trabalhadores das empresas fornecedoras, a nível nacional, devido a uma situação que lhes é alheia». Segundo o sindicato, a VW Autoeuropa e empresas fornecedoras já tinham despedido 560 trabalhadores, mas muitos mais empregos poderiam ser destruídos nos dias seguintes.

A falta de componentes, acusou o SITE Sul, deve-se a erros de gestão do Grupo Volkswagen, que por sua opção ficou a depender de um único fornecedor. Assim ficam comprovadas as fragilidades do sistema «Just In Time» (produção sem acumular stock).

Também no dia 8, sexta-feira, a União dos Sindicatos de Setúbal manifestou-se solidária com os trabalhadores da VW Autoeuropa e do seu parque industrial. Numa nota de imprensa, a estrutura distrital da CGTP-IN questionou:

– Porque é que os trabalhadores têm de perder, quando a Autoeuropa prevê realizar toda a produção perdida e 2023 está a ser um bom ano?

– Porque é que, desta vez, não são os accionistas a deixar de ganhar?


PCP solidário interpela Governo

«Não é minimamente admissível que, perante o surgimento de problemas, a solução que a VW encontra seja recorrer ao lay-off, mesmo que mitigado, quando a empresa tem ao seu dispor mecanismos para fazer frente a este problema», protestou, no dia 7, o Executivo da Direcção da Organização Regional de Setúbal do PCP. Numa nota de imprensa, chamou a atenção para a situação dos trabalhadores das empresas do parque industrial, «mais desprotegidos» devido à elevada precariedade.

No dia seguinte, o grupo parlamentar comunista dirigiu duas perguntas ao Governo.

Da ministra do Trabalho, o PCP quer saber que medidas está o Governo a tomar, para garantir que todos os trabalhadores atingidos pela decisão da VW Autoeuropa, incluindo os que laboram com vínculos laborais precários, têm as retribuições defendidas e os direitos garantidos.

Ao ministro da Economia, foram pedidos esclarecimentos sobre medidas do Governo para minimizar os impactos no aparelho produtivo nacional e nos rendimentos e condições de vida dos trabalhadores, bem como para a rápida superação do problema verificado na cadeia de fornecedores da Autoeuropa.

O Partido perguntou qual o nível de acompanhamento da incorporação nacional e que medidas vão ser tomadas para o seu incremento e para o aumento de valor e importância estratégica no produto final da fábrica automóvel. Por fim, o Governo deve dizer que mecanismos criou para acompanhar os projectos de modernização na Autoeuropa.



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