«Les Mystères de Paris», de Eugène Sue, romance em capítulos publicado em Le Journal des Débats, são um fenómeno ímpar de sucesso mundial. Relato das aventuras de Rodolphe, a obra, pioneira do romance urbano e popular, descreve o mundo das «classes perigosas», o mundo subterrâneo dos que habitam a selva urbana de Paris, ignorada pela burguesia dominante. O herói mostra a luta dos pobres pela sobrevivência, os seus dramas, enquanto combate o crime e denuncia as desigualdades sociais, antecipando as bandeiras da Revolução de 1848. A maestria da publicação em fascículos alimenta o interesse. «Toda a gente devorou “Os Mistério de Paris”, até os que não sabiam ler», escreve Théophile Gautier. «Estes faziam-nos ler por algum erudito, que acedia de boa vontade... Durante mais de um ano, a França inteira ocupou-se primeiro das aventuras do príncipe Rodolphe antes de tratar dos seus póprios assuntos. Os doentes esperavam pelo fim dos Mistérios de Paris para morrer; o mágico “Continua amanhã” sustinha-os de dia para dia, e a morte compreendia que eles não ficariam tranquilos no outro mundo se não conhecessem o desfecho desta bizarra epopeia.» A obra teve versões em todo o mundo, incluindo Portugal, com «Os Mistérios de Lisboa», de Camilo Castelo Branco (1854).