A Revolução de Outubro – ideais e valores actuais

Manuel Rodrigues

É necessário, hoje, prosseguir a luta pela paz, pelos direitos, a democracia e a soberania, por uma sociedade nova

Assinalamos os 106 anos da Revolução de Outubro. Uma Revolução que se projectou em todo o mundo e deu um poderoso impulso à luta pela paz – dimensão que, de entre todos os seus extraordinários avanços e conquistas, se destaca neste texto.

Na sequência da Revolução de Outubro e sob a sua determinante influência, dezenas de partidos comunistas foram criados e desenvolveram-se grandes lutas populares. O movimento comunista internacional tornou-se numa força poderosa. Desenvolveu-se por todo o mundo um forte movimento sindical de classe e revolucionário.

Estimulada pelo exemplo e pelos sucessos da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, URSS, a classe operária dos países capitalistas impôs ao grande capital importantes conquistas democráticas e sociais, particularmente após o fim da Segunda Guerra Mundial, incluindo com novos países a colocarem como objectivo a construção de sociedades socialistas.

Por outro lado, a luta dos povos de África e Ásia contra o colonialismo e a agressão do imperialismo e pela sua autodeterminação conheceu um vigoroso desenvolvimento. Sobretudo após a vitória sobre o nazi-fascismo, e com o apoio e a solidariedade activa da União Soviética, praticamente todos os povos dominados conquistam a sua independência, levando à derrocada dos impérios coloniais, o último dos quais foi o português.

A URSS foi também solidária com a luta de libertação nacional dos povos sujeitos ao colonialismo português e, após a sua independência, desenvolveu uma intensa cooperação com os novos Estados.

A Vitória sobre o nazi-fascismo

Na Segunda Guerra Mundial, durante três anos, a URSS enfrentou sozinha a besta nazi e os seus exércitos, num processo que o povo soviético designou como a «Grande Guerra Pátria». O nazi-fascismo foi derrotado com o papel determinante da União Soviética, com o custo de mais de 20 milhões de vidas.

Foi o heroísmo do povo soviético, do Exército Vermelho e do Partido Comunista, inseparável do seu patriotismo e internacionalismo e do sistema social que então construía, que determinou o curso da guerra e permitiu libertar a Europa e a Humanidade da barbárie nazi-fascista.

Uma luta incansável pela paz

Em 1917, em plena Primeira Guerra Mundial, o primeiro decreto do governo soviético propunha «a todos os povos beligerantes e aos seus governos» o início imediato de negociações sobre «uma paz justa e democrática», a serem realizadas de forma aberta e com o contributo dos trabalhadores dos países em guerra.

No seguimento da Segunda Guerra Mundial e do decisivo contributo da URSS para a vitória sobre o nazi-fascismo, alterou-se profundamente a correlação de forças no plano mundial, dando origem a uma nova ordem democrática e antifascista, que inscreveu na Carta da ONU o respeito pela soberania dos povos, o desarmamento, a solução política de conflitos internacionais.

A violação destes princípios pelo imperialismo levou ao desencadeamento da chamada guerra fria, obrigando a URSS a um grande esforço e a dotar-se do mais moderno e avançado armamento.

A URSS colocou sempre o seu poderio militar ao serviço da causa da paz e da libertação dos povos, posicionamento que permitiu conter a agressividade do imperialismo e criar condições mais favoráveis para o avanço da sua luta libertadora, de que foi expressão a Revolução de Abril em Portugal.

A Conferência de Helsínquia para a Segurança e Cooperação na Europa, concluída em 1975, abriu caminho a importantes acordos de desarmamento e tratados para a limitação das armas nucleares, que se devem à decisiva e incansável política de paz da URSS. Ao conquistar a paridade militar estratégica com os EUA, a URSS impediu os círculos mais reaccionários e agressivos de desencadear uma Terceira Guerra Mundial.

Ideais e valores para o nosso tempo

Perante uma realidade como a que hoje vivemos, atravessada por enormes injustiças e desigualdades sociais, insegura e perigosa em consequência dos inúmeros conflitos e guerras que o imperialismo promove – de que são expressões as guerras na Ucrânia ou no Médio Oriente –, responsável por grandes flagelos (pobreza, fome, doença, corrupção, tráficos, etc.), é necessário prosseguir a luta pela paz, pelos direitos, a democracia e a soberania, pela sociedade nova cuja construção a Revolução de Outubro inaugurou, na marcha da Humanidade pela sua emancipação.

Para desencanto dos que proclamam a morte do comunismo, este continua a ser o tempo da afirmação do socialismo como exigência da actualidade e do futuro – sem o qual, aliás, nenhuma paz justa e duradoura será possível.




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