Conselho: dupla bitola, ausência de soluções

João Pimenta Lopes

Nos pas­sados dias 26 e 27 de Ou­tubro, teve lugar a reu­nião do Con­selho Eu­ropeu. Ucrânia, Médio Ori­ente, Quadro Fi­nan­ceiro Plu­ri­a­nual, eco­nomia, mi­gra­ções, foram os temas da reu­nião.

Aos pri­meiros temas, fica evi­dente a hi­po­crisia, a du­pli­ci­dade de cri­tério na abor­dagem feita. Nas quatro pá­ginas dis­pen­sadas à Ucrânia, a «firme con­de­nação» à Rússia, o apoio in­con­di­ci­onal e por tempo ili­mi­tado à Ucrânia, com par­ti­cular en­foque na de­fesa e ma­te­rial mi­litar para ali­mentar a guerra, a de­núncia de ata­ques a infra-es­tru­turas civis, a cri­ação de um tri­bunal par­ti­cular e o en­vol­vi­mento do Tri­bunal Penal In­ter­na­ci­onal, mais san­ções (as mesmas que além de ine­fi­cazes – como de resto o são his­to­ri­ca­mente – têm con­tri­buído para a fac­tura que os povos sempre pagam com língua de palmo).

Na pá­gina de­di­cada ao Médio Ori­ente, só se en­contra a con­de­nação ao Hamas, o di­reito de Is­rael a de­fender-se (a carta branca para a ca­tás­trofe em curso), um sin­gelo (cí­nico, face à re­a­li­dade) apelo à pro­teção de todos os civis. Nem uma pa­lavra de con­de­nação a Is­rael sobre os ata­ques e des­truição in­dis­cri­mi­nada de infra-es­tru­turas civis (hos­pi­tais, am­bu­lân­cias, es­colas e ins­ta­la­ções das Na­ções Unidas, uni­ver­si­dades, bairros in­teiros, campos de re­fu­gi­ados, em­bar­ca­ções de pesca, es­tru­turas de ar­ma­ze­na­mento de água, etc.).

Nem uma pa­lavra de con­de­nação para o mas­sacre e os crimes de guerra já si­na­li­zados pela ONU, com largos mi­lhares de mortos civis, dois terços dos quais mu­lheres e cri­anças – de acordo com a or­ga­ni­zação Save the Chil­dren, em apenas três se­manas foram mortas mais cri­anças em Gaza que em todos os con­flitos no mundo desde 2019. Nem uma pa­lavra para o cerco total que im­pede a en­trada de água, man­ti­mentos, com­bus­tí­veis, me­di­ca­mentos e ou­tros bens es­sen­ciais. Nem uma pa­lavra sobre san­ções, a ne­ces­si­dade de tri­bu­nais in­ter­na­ci­o­nais. Nem uma pa­lavra sobre a in­ten­si­fi­cação da agressão, per­se­gui­ções e até ex­pul­sões na Cis­jor­dânia - onde o ar­gu­mento do com­bate ao Hamas não cola. Nem uma pa­lavra para o fim ime­diato desta tra­gédia que se abate sobre o povo Pa­les­ti­niano e sobre o cessar fogo que 120 países (muitos dos quais mem­bros da UE) vo­taram fa­vo­ra­vel­mente nas Na­ções Unidas. Só o hi­pó­crita apelo a pausas hu­ma­ni­tá­rias, como se de uma pausa para re­mover os ca­dá­veres sob os es­com­bros e pros­se­guir o mas­sacre se tra­tasse.

O resto da reu­nião e das suas con­clu­sões não faz his­tória. Uma re­fe­rência la­có­nica ao or­ça­mento da UE, sem con­clu­sões. A de­fesa do apro­fun­da­mento a todo o custo do mer­cado único, da «com­pe­ti­ti­vi­dade» e da «con­cor­rência», ga­ran­tindo os in­te­resses dos grupos eco­nó­micos e das prin­ci­pais po­tên­cias. Quanto às so­lu­ções aos pro­blemas das pes­soas, essas são tão ine­xis­tentes como a con­de­nação a Is­rael.




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