Saque financeiro-mediático

Carlos Gonçalves

Os acontecimentos dos últimos dias no Global Media Group (GMG), que engloba Jornal Notícias (JN), Diário de Notícias (DN), TSF, mais uns tantos média e cerca de 500 trabalhadores, são um «regresso ao futuro» de saque e terror nos média, para destruir e roubar o património e vender os sobrantes como escravos. Marx, n’ O Capital, chamou a este saque «acumulação primitiva» de capital, brutal e intrínseca ao imperialismo, onde possa decidir sem freio.

Neste caso, há muito que o plano da administração do GMG é realizar capital, alienar «excedentes», despedir trabalhadores, explorar ainda mais, «reorganizar» as empresas para mais lucros, incumprir as obrigações legais de pluralismo e jornalismo, de direitos individuais e colectivos. O projecto tem avançado aos solavancos, com as limitações que a denúncia e a luta impuseram, ainda em Outubro assim aconteceu. Agora passaram ao «plano B», venda de empresas menores e alienação da maioria do capital da holding ao World Opportunity Group, registado no offshore das Bahamas, com capitais suíços e norte-americanos e outros, pelo menos em parte desconhecidos da própria Entidade Reguladora (ERC). Foi nomeado um novo CEO, que era já um alto quadro do GMG, mas o anterior CEO continuará a presidir à administração. Não é claro quem é testa de ferro de outrem.

E agora, o GMG iniciou o despedimento de 150 trabalhadores, mais de 30% do total, sobretudo do JN e TSF, para fugir às obrigações salariais e laborais, bloquear a legalidade e subverter o funcionamento desses média. Qual é o objectivo? É o «enlatado» desinformativo e a Inteligência Artificial nas redacções, ou apenas vender títulos históricos e realizar capital?

E este é «apenas» mais um caso do «receituário» do capital financeiro-mediático nesta realidade de concentração e centralização de capitais e poder; de alienação e anonimato do controlo dos média por fundos estrangeiros e offshore; de mais exploração - 100 de 150 trabalhadores do Grupo Bola despedidos após a compra pelos suiços do Ringier Sports Media Group, a juntar aos 150 do GMG e a tantos outros; de incontáveis ataques à liberdade de imprensa e informação e a quem trabalha nesta área estratégica para o País e o regime democrático.

É imperioso travar e reverter esta perversa realidade.

 



Mais artigos de: Opinião

A luta dos docentes em defesa dos direitos e da dignidade profissional

A luta desencadeada pelos professores e educadores contra a desvalorização da carreira docente constitui uma significativa resposta ao conflito aberto pelos sucessivos governos de PS, PSD e CDS e, mais recentemente, com o apoio de Chega e IL. No centro das reivindicações tem estado a...

Genocídio humanitário?

Há umas décadas venderam-nos a teoria das «guerras humanitárias», associadas à «responsabilidade de proteger» (que até tinha um acrónimo ‘pós-moderno’ em inglês, R2P). A teoria era que, quando confrontados com grandes crimes contra a Humanidade, a soberania dos países e o direito internacional tinham de ser postos na...

Nem sonham

«O povo judeu tem direito exclusivo e inquestionável a todas as áreas da Terra de Israel. O governo promoverá e desenvolverá colónias em todas as partes da Terra de Israel – na Galileia, Negev, Golã, Judeia e Samaria.» As palavras de Netanyahu, proferidas a 28 de Dezembro de 2022, não resultam de um ataque do Hamas nem...

Não perdem tempo

Ainda o cadáver do Governo PS não arrefeceu e já o grande capital decidiu montar o circo da alternância sem alternativa. Repare-se no notável exercício que a RTP, silenciando o facto dos partidos da CDU, PCP e PEV, se terem reunido para preparar as eleições, fez esta terça-feira chamando a debate, em horário nobre, PS e...

«Anarco-capitalismo»

Tal como o fascista Pinochet teve um guia económico em Milton Friedman e seus Chicago boys, o recém eleito presidente da Argentina, Milei, tem como farol espiritual Murray Rothbard, um «anarco-capitalista». Para os menos familiarizados com o marxismo poderá parecer extravagante a associação entre anarquia e o...