Sessão evoca vida e legado de luta e resistência de Urbano Tavares Rodrigues

No dia em que se celebrava o centenário do seu nascimento, 6 de Dezembro, Urbano Tavares Rodrigues foi evocado numa sessão realizada pelo PCP, com o apoio da Sociedade Portuguesa de Autores, na sede desta. Ali foi destacada a sua vida, obra e luta.

Urbano Tavares Rodrigues é exemplo alto da cultura e literatura portuguesas

Escritor, ensaísta, poeta, crítico literário, jornalista, candidato a deputado, militante comunista, activista pela paz, resistente antifascista – Urbano Tavares Rodrigues foi muitas coisas e o seu percurso dificulta a tarefa a quem o pretender descrever. Assim o provou a sessão realizada no Auditório Maestro Frederico de Freitas, na sede da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), em Lisboa, dedicada ao autor que, com as suas palavras e exemplo, permitiu a todos vislumbrar «uma clareira de infinita fraternidade».

Se mais se pode dizer, Urbano foi um intelectual comprometido com os melhores valores da humanidade e um escritor multifacetado que experimentou diferentes estilos e géneros literários. A sua vida e obra testemunham um profundo compromisso com a luta pela libertação dos explorados e dos oprimidos, pela democracia e o socialismo.

Paulo Raimundo, Secretário-Geral do PCP e o último orador a usar da palavra na sessão, escolheu iniciar a sua intervenção enaltecendo o escritor: «uma figura incontornável da literatura portuguesa, em todos os domínios da escrita – do jornalismo ao romance, passando pela novela, pelo conto, teatro, poesia, crónica, ensaio, viagens – fosse qual fosse a forma, os valores humanos que norteavam a vida de Urbano marcaram sempre presença».

Assim foi, ao longo de toda a sua vida. Nascido em Lisboa, ainda cedo a sua família instala-se em Moura. Foi no Alentejo onde o escritor cresceu e foi junto do povo alentejano que – nas sua palavras – abriu «olhos para o mundo».

Logo em 1947, participa na greve académica de solidariedade com os estudantes de Medicina. Participa igualmente nas campanhas eleitorais do General Norton de Matos e de Humberto Delgado. Foi dos escritores com mais livros apreendidos pela polícia política. Sofreu várias prisões ao longo da década de sessenta, em todas elas submetido a brutais torturas da PIDE e chegando a cumprir cinco meses de isolamento em Caxias.

Em 1969, no mesmo ano em que participa na lista da Comissão Democrática Eleitoral de Beja para as eleições legislativas, adere ao PCP. Viria a aderir ao Conselho Mundial da Paz e, em 1971, participa na Conferência preparatória da Conferência de Helsínquia sobre a Paz e o Desarmamento. Obrigado a abandonar o cargo de assistente na Faculdade de Letras de Lisboa, onde começou a leccionar em 1957. Foi candidato à Assembleia Constituinte pelo PCP.

«Lembremos», apelou o Secretário-Geral, «o exemplo e o legado de Urbano Tavares Rodrigues, que sempre esteve “ao lado dos que levam pancada”. E estaria, como esteve, até ao fim da sua vida, “do lado dos fracos contra os fortes”».

Cultura continua a ser desvalorizada

Na véspera de o Governo ser demitido e num quadro marcado pelas graves dificuldades sociais que se reflectem nos baixos salários, na degradação do SNS, nos obstáculos crescentes no direito à habitação, Paulo Raimundo salientou ainda que «a cultura continua a ser esquecida, desvalorizada e ameaçada. Tantas e tantas estruturas culturais, elegíveis, sem apoio. Tantos e tantos trabalhadores da Cultura afectados pelos baixos salários, precariedade, horários desregulados», salientou. «Nenhuma manobra orçamental, mesmo que sustentada numa enorme operação de propaganda, consegue apagar a realidade. Realidade bem expressa na sub-orçamentação crónica da Cultura», acrescentou.

«Não nos conformamos com esta situação. Estamos empenhados, assim como o estão os agentes da cultura, em alterar o caminho, em mudar a política no que diz respeito também à produção e fruição culturais», afirmou, referindo ainda a necessidade de uma alternativa política, que só o PCP e a CDU estão em condições de protagonizar.

Bonita homenagem

Excertos do filme Memória das Palavras – Urbano Tavares Rodrigues, de António Castanheira, iniciaram a sessão – o primeiro dos três momentos culturais que pontuaram a iniciativa. O músico Rogério Charraz interpretou duas músicas de Adriano Correia de Oliveira com poemas de Urbano Tavares Rodrigues e ainda ofereceu uma versão, por si musicada, do poema Primavera. A actriz Maria João Luís declamou Os meus desejos para um novo ano.

Na sessão evocativa apresentada por Marta Boavida, estiveram presentes familiares, entes queridos e amigos de Urbano Tavares Rodrigues e dirigentes do Partido.

«Urbano seria uma lenda»

«Num país como a França, ou mesmo em Espanha, Urbano seria uma lenda», foi assim, ao citar Pompas Fúnebres, de Eduardo Pitta, que Domingos Lobo, escritor, começou a sua intervenção. «Cumprem-se 100 anos sobre o nascimento de Urbano Tavares Rodrigues, um dos nossos autores fundamentais da segunda metade do século XX e início do século XXI», continuou, explicando a «singela evocação» que faria ao «grande escritor, camarada e amigo», autor de uma obra de mais de 80 livros que faz uma análise profunda do país, das suas idiossincrasias e do modo singular, «por vezes perverso», em que vivem e resistem os portugueses.

«Generoso e solidário, estimado e admirado pelos seus pares, homem da resistência à ditadura, da palavra como modo de intervenção cívica, autor que esteve na vanguarda da oposição à ditadura, que combateu os dislates da censura», assim descreveu ainda Domingos Lobo a figura de Urbano Tavares Rodrigues.

O primeiro orador da tarde foi José Jorge Letria, escritor e presidente da direcção da Sociedade Portuguesa de Autores, que leu de Urbano Tavares Rodrigues: O Livro aberto de uma vida ímpar, um livro da sua autoria que homenageou o escritor ali evocado. Recordou igualmente diferentes momentos por ambos partilhados e abordou o esforço que considera ser necessário para que os livros de Urbano sejam reeditados, lidos e integrados nos programas escolares.

 



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