Faleceu Odete Santos
Aos 82 anos de idade, faleceu Odete Santos, informou ontem, dia 27, o Secretariado do Comité Central do PCP.
Numa nota à comunicação social, foi destacado o compromisso de Odete Santos com os trabalhadores e o povo, e uma particular ligação com a juventude, afirmando a sua notável capacidade, profundidade de análise, solidariedade, dedicação, frontalidade, coragem e força de intervenção.
Mulher de Abril, destacada deputada e dirigente comunista, Odete Santos foi uma figura marcante na construção do Portugal de Abril e na afirmação dos direitos que a Constituição da República Portuguesa consagra, em particular sobre os direitos dos trabalhadores, sobre a igualdade e a emancipação da mulher; teve uma presença constante na solidariedade com os povos de todo o mundo; foi uma incansável participante na concretização do ideal e projecto do Partido.
Maria Odete Santos nasceu a 26 de Abril de 1941, na Freguesia de Pêga, Concelho da Guarda. Estudou no Liceu de Setúbal, licenciou-se em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e exerceu advocacia durante anos.
Membro do PCP desde 1974, integrou a Comissão Concelhia de Setúbal, a Direcção da Organização Regional de Setúbal e o Comité Central do Partido, do qual fez parte de 2000 a 2012.
Mulher de cultura, desde muito jovem teve intervenção cultural e antifascista em associações de cultura e recreio do distrito de Setúbal, nomeadamente no Clube de Campismo de Setúbal. Esse activismo e essa intervenção suscitaram a perseguição da PIDE/DGS, a polícia política do regime fascista.
Logo a seguir ao 25 de Abril de 1974, integrou a Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Setúbal. Entre muitas das suas intervenções na nova vida democrática do concelho, está o seu papel como principal impulsionadora da criação do Teatro de Animação de Setúbal (TAS), onde representou conhecidos dramaturgos.
É autora dos livros «Em Maio há cerejas» (Ausência, 2003) e «A Bruxa Hipátia – o cérebro tem sexo?» (Página a Página, 2010) e da colectânea de poesia «A argamassa dos poemas» (jornal Público, 2002). Nas ruas de Setúbal disse poesia de Bocage. Sucessivas gerações ouviram e recordam a força que imprimiu ao declamar «Calçada de Carriche», de António Gedeão. Teve ainda participação, nos anos de 2004 e 2005, em teatro de revista no Parque Mayer.
Foi deputada da Assembleia da República, de Novembro de 1980 a Abril de 2007. Destacou-se na área dos Direitos, Liberdades e Garantias, em defesa dos direitos dos trabalhadores e dos direitos das mulheres, assuntos que abordou em conferências, debates, entrevistas e artigos.
É de particular significado a sua intervenção na conquista de novos direitos para as mulheres, nomeadamente o combate ao aborto clandestino e pela despenalização da interrupção voluntária da gravidez ,de que foi principal rosto na Assembleia da República.
Destacou-se também na criação dos Julgados de Paz, um nível de instituição para a justiça mais próxima dos cidadãos, sendo reconhecida como a sua principal impulsionadora.
Foi membro da Assembleia Municipal de Setúbal, de 1979 a 2009, epresidiu a este órgão entre Janeiro de 2002 e Novembro de 2009. Foi homenageada pela Câmara Municipal de Setúbal com a Medalha de Honra da Cidade.
Integrou o Conselho Nacional do Movimento Democrático de Mulheres (MDM) e a Associação de Amizade Portugal-Cuba.