Mais força à CDU para combater o aumento do custo de vida

Paula Santos (Membro da Comissão Política)

Se as pro­postas do PCP ti­vessem sido apro­vadas os preços se­riam bem mais baixos

Inicia-se um novo ano e aí estão novos au­mentos de preços de bens e ser­viços es­sen­ciais: dos ali­mentos à energia, dos trans­portes à ha­bi­tação, são inú­meros os pro­dutos e ser­viços que estão mais caros.

As rendas vão subir 6,94%, o maior au­mento desde 1994, que acresce aos va­lores proi­bi­tivos de renda que as fa­mí­lias estão a su­portar porque o Go­verno não quis li­mitar o au­mento. Por outro lado, quem tem cré­dito à ha­bi­tação, a pers­pec­tiva é que as taxas de juro se man­te­nham muito ele­vadas, o que sig­ni­fica que os en­cargos das fa­mí­lias com as pres­ta­ções serão, para muitas, in­com­por­tá­veis.

De­pois de su­ces­sivos au­mentos, bem acima da in­flação, os preços dos ali­mentos con­ti­nu­arão a subir. Já sabe que, no mí­nimo, os pro­dutos ali­men­tares abran­gidos pelo IVA zero cres­cerão 6%, mas cer­ta­mente não fi­carão por aqui e po­derão ser bem mai­ores. Aponta-se para va­lores su­pe­ri­ores a 10%.

A ta­rifa re­gu­lada da elec­tri­ci­dade au­menta 3,7% face a De­zembro de 2023, su­pe­rior ao ini­ci­al­mente pre­visto. Nas te­le­co­mu­ni­ca­ções estão pre­vistos au­mentos na ordem dos 4,3%. Só em dois anos su­pe­raram os 12%.

Nos trans­portes, os preços dos bi­lhetes au­men­taram: a CP anun­ciou au­mentos de 6,25% nos Alfa Pen­du­lares e um au­mento médio de 6,43% nos res­tantes ser­viços. A Fer­tagus anun­ciou au­mentos mé­dios de 6,43%, mas há per­cursos cujos au­mentos são bem su­pe­ri­ores, como Cor­roios-Lisboa (9,5%). Na Trans­tejo/​So­flusa, Carris, Me­tro­po­li­tano de Lisboa, STCP os bi­lhetes também au­mentam. Não é de cer­teza assim que se pro­move a uti­li­zação do trans­porte pú­blico.

Mas há mais. As por­ta­gens au­mentam acima de 2%, os me­di­ca­mentos com preços mais baixos também po­derão au­mentar no­va­mente e, como se isto não fosse su­fi­ci­ente, em 2024 vai passar a ser co­brado quatro cên­timos pelos sacos de plás­tico leves e muito leves (uti­li­zados na compra de fruta e em com­pras a granel), com­pro­vando que o am­bi­ente tem sido o pre­texto para au­mentar os custos para as fa­mí­lias.

Os mesmos de sempre a pagar

São os mesmos de sempre a su­portar o au­mento do custo de vida: quem tra­balha e quem vive do seu tra­balho. Já os grupos eco­nó­micos con­ti­nuam a acu­mular lu­cros e a con­cen­trar a ri­queza, com o be­ne­plá­cito do Go­verno PS e dos par­tidos à sua di­reita: PSD, CDS, CH e IL. Se­gundo os úl­timos dados, re­fe­rentes ao 3.º tri­mestre de 2023, os prin­ci­pais bancos ob­ti­veram 12 mi­lhões de euros de lucro por dia. A Je­ró­nimo Mar­tins e a Sonae ob­ti­veram 744 mi­lhões de lucro, a EDP 946 mi­lhões, a GALP 718 mi­lhões, a NOS 126,4 mi­lhões.

O poder de compra dos tra­ba­lha­dores e dos re­for­mados, con­tra­ri­a­mente ao que é dito e à pro­pa­ganda do Go­verno, não foi efec­ti­va­mente va­lo­ri­zado. A vida está mais cara. Muitas fa­mí­lias já não têm onde cortar mais e nem mesmo assim o sa­lário e a pensão dão até final do mês.

Se as pro­postas do PCP ti­vessem sido apro­vadas, os preços dos bens e ser­viços es­sen­ciais se­riam bem mais baixos e o poder de compra dos sa­lá­rios e das pen­sões teria sido va­lo­ri­zado. O PS, so­zinho ou acom­pa­nhado por PSD, IL e CH – todos juntos ou à vez –, im­pe­diram o con­trolo e a re­dução de preços dos bens ali­men­tares; a re­dução do IVA da elec­tri­ci­dade e do gás para 6% e a das te­le­co­mu­ni­ca­ções para 13%; a li­mi­tação da ac­tu­a­li­zação das rendas em 0,43% nos ac­tuais e nos novos con­tratos; que os lu­cros da banca su­portem o au­mento das taxas de juro; a li­mi­tação da ac­tu­a­li­zação do valor das por­ta­gens cor­res­pon­dente ao valor de 2022; a gra­tui­ti­dade dos me­di­ca­mentos para as pes­soas com do­enças cró­nicas, com mais de 65 anos e com in­su­fi­ci­ência eco­nó­mica; ou a re­vo­gação das taxas sobre os sacos de plás­tico.

A de­gra­dação das con­di­ções de vida re­sulta de op­ções po­lí­ticas da­queles que se re­cusam a en­frentar e se sub­metem aos in­te­resses dos grupos eco­nó­micos, que não be­liscam os lu­cros desses grupos, mesmo que isso sig­ni­fique em­purrar os tra­ba­lha­dores e os re­for­mados para o em­po­bre­ci­mento.

Mais força ao PCP e à CDU

Esta é mais uma razão – a juntar a muitas ou­tras – para dar mais força ao PCP e à CDU. En­quanto há quem pro­cure co­locar tra­ba­lha­dores contra tra­ba­lha­dores para pro­teger os in­te­resses dos grupos eco­nó­micos, o PCP e a CDU dão com­bate às in­jus­tiças e às de­si­gual­dades na dis­tri­buição da ri­queza, à apro­pri­ação por uma meia dúzia da ri­queza criada pela ampla mai­oria.

Quanto mais força tiver a CDU, mais con­di­ções há para dar com­bate o au­mento do custo de vida e para me­lhorar a vida dos tra­ba­lha­dores, dos re­for­mados e do povo.




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