Política de direita é nefasta ao País
Abrir o caminho a uma política alternativa foi questão central no Encontro Nacional. Esse é um objectivo que se impõe – e as próximas eleições são uma oportunidade, dando mais força à CDU -, porque essa política alternativa corresponde a uma necessidade objectiva, que decorre da persistente falta de resposta aos problemas originados por décadas de política de direita ao serviço dos grupos económicos e das multinacionais.
Foi essa avaliação da realidade que perpassou no Fórum Lisboa em dezenas de intervenções ricas de exemplos que identificaram com clareza os factores que estão na base da injusta distribuição da riqueza, do agravamento das desigualdades, dos constrangimentos que bloqueiam o nosso desenvolvimento soberano.
Desse retrato minucioso e fiel ali traçado emergiu desde logo como factor negativo a submissão do poder político aos interesses dos poderosos. Dessa relação promíscua e seus reflexos falou Vasco Cardoso para realçar que hoje temos um «País mais desigual», capturado, devido às privatizações, por interesses estrangeiros, como sucede com a banca, em mãos espanholas, ou com os aeroportos, em mãos francesas. Privatizações que, para além da delapidação de património público, tiveram outras consequências como o «ataque a direitos (veja-se a PT), a «destruição de serviços essenciais para a população, como os CTT», lembrou Carlos Prazeres.
Para o drama das «milhares de famílias sujeitas à chantagem do despejo», dos que sofrem os «custos brutais dos juros» e das 100 mil famílias que vivem em alojamentos indignos chamou a atenção Alfredo Maia, frisando que a habitação é um direito, «não pode ser tratada como um negócio».
Indignação suscitou igualmente o profundo contraste entre os 25 milhões de lucros acumulados diariamente pelos grupos económicos e o «quadro de agravamento da situação social e de sacrifícios impostos ao povo», com Ricardo Costa a defender que «é preciso romper com as injustiças». Injustiças como as que atingem o mundo do trabalho, seja, desde logo, pelos baixos salários, seja pelo conjunto de normas gravosas que persistem na legislação laboral e que fragilizam os direitos dos trabalhadores, apontou Rogério Silva.
O avolumar dos problemas
Como factor de agravamento da exploração, há ainda o «aumento do custo de vida, a «ausência de resposta dos serviços públicos, em particular da saúde», referiu Isabel Cristina, no que foi corroborada por Sandra Cardoso, que insistiu no grave problemas dos baixos salários, em particular do SMN, que «não chega para as despesas e empurra os jovens para a emigração», situação dominante, por exemplo, no sector têxtil em Braga.
A forma como os serviços públicos têm sido sacrificados pelas opções da política de direita, executada ora por PS, ora por PSD, foi igualmente denunciada por Catarina Marques, que trouxe à colação os ataques à Escola Pública, nomeadamente por via da falta de financiamento e da desvalorização dos profissionais. A mesma denúncia fez Leonel Ferreira, que assinalou como essa degradação, em particular no acesso à saúde, agrava ainda mais os problemas do Interior, como é a perda de população. Flagelo que atinge também o Alto Alentejo, marcado por uma população envelhecida e pelo isolamento, como deu conta Fátima Vitorino. Do mesmo mal se queixa Vila Real, onde o envelhecimento é também «preocupante», tal como a «precariedade, os baixos salários, os atropelos aos direitos dos trabalhadores», a difícil «sustentabilidade e sobrevivência da agricultura familiar», segundo David Leite.
Dificuldades e preocupações do sector agrícola que foram expostas por José Pedro Branquinho, como sejam os «elevados custos de produção», o «escoamento dos produtos», o «esmagamento de preços impostos pela grande distribuição».
Também João Dias, depois de lembrar os milhares de explorações agrícolas liquidadas, teceu críticas à «política de desprezo pela soberania alimentar» e alertou para o défice produtivo e para a «dependência alimentar do País».
Investimento, precisa-se
Alvo de crítica cerrada foram, por outro lado, as «opções de política orçamental e a política de “contas certas”», com Duarte Alves a sublinhar que as opções do PS não se distinguem da direita e a frisar que as suas «contas certas» foram o «contrário da prudência e responsabilidade», foram «”contas certas” para os grupos económicos».
Ao tema voltou Bruno Dias para anotar que ao deixar «investimento público por executar», que tanta falta faz ao País - na última década Portugal foi o 2.º país da UE com menos investimento público -, o Governo optou pela «redução acelerada do défice e da dívida», assim comprometendo as gerações futuras. É também em seu nome que é preciso e «urgente mudar de política ambiental», frisou Jorge Fael, deixando claro que a «crise ambiental resulta da natureza do capitalismo» e que as soluções «não são compatíveis com as políticas do costume».
Do Reino Unido veio o testemunho de quem emigrou - uma de entre os 850 mil portugueses, entre os 15 e os 39 anos, que nas duas últimas décadas saiu do País –, que partiu «fugindo da precariedade, do desemprego, dos baixos salários», numa «escolha que não foi verdadeiramente livre», com a «tristeza de deixar para trás amigos, família», relatou Joana Carvalho.
Abordado foi ainda o movimento inverso, o dos que escolhem o nosso País para trabalhar e viver, com Seyne Torres a trazer para primeiro plano as condições de exploração a que são sujeitos os trabalhadores imigrantes e a apelar à necessidade de intervenção dos sindicatos de classe em defesa dos seus direitos.
Já noutro plano, não menos negativa foi a avaliação da política cultural. Tiago Santos lembrou que não pode ser um elemento «decorativo», defendendo uma «viragem na política cultural que possa trazer dignidade ao sector».
Do «quadro internacional complexo e perigoso» falou Ângelo Alves para evidenciar o «muito que está em jogo - «vida, segurança, verdade» - no confronto entre «os que defendem a paz» e os que «tentam manter o seu poder» face à luta dos povos, recorrendo à barbárie. «Os 100 dias de inferno em Gaza e na Cisjordânia» são disso exemplo, acentuou, antes de concluir, perante uma sala que se ergueu solidária, que o PCP estará «sempre com a Palestina e o seu direito a um Estado soberano».