Agricultores franceses levam protesto a Paris

Pros­segue a luta dos agri­cul­tores fran­ceses por me­lhores con­di­ções para a pro­dução agrí­cola, de vida e tra­balho. Uti­li­zando os seus trac­tores, os ma­ni­fes­tantes têm blo­queado auto-es­tradas em todo o país e ame­açam, nesta se­mana, «cercar» Paris.

Mi­lhares de agri­cul­tores fran­ceses ma­ni­festam-se por me­didas de apoio ao sector agrí­cola

Mais de uma de­zena de blo­queios de auto-es­tradas con­ti­nu­avam ac­tivos na terça-feira, 30, como re­sul­tado do mo­vi­mento de pro­testo dos agri­cul­tores fran­ceses que exigem me­lhores con­di­ções para a ac­ti­vi­dade agrí­cola.

Se­gundo fontes po­li­ciais, ci­tadas pelos meios de in­for­mação fran­ceses, cerca de 10 mil agri­cul­tores, com cinco mil trac­tores, par­ti­ci­param na con­tes­tação dos úl­timos dias. Os sin­di­catos avi­saram que po­derão blo­quear auto-es­tradas nas ime­di­a­ções de Paris, com o apoio dos seus fi­li­ados dos de­par­ta­mentos si­tu­ados nas ime­di­a­ções da ca­pital.

Os blo­queios afectam os acessos a grandes ci­dades, entre elas Paris e Lyon, e os prin­ci­pais sin­di­catos do sector, im­pul­si­o­na­dores das rei­vin­di­ca­ções, des­cartam, para já, cessar a mo­bi­li­zação.

Os agri­cul­tores em luta ex­pli­caram que o blo­queio a Paris não pre­tende pre­ju­dicar os fran­ceses mas sim «au­mentar a pressão» sobre o go­verno, in­sis­tindo que as pro­messas feitas pelos res­pon­sá­veis não res­pondem às suas rei­vin­di­ca­ções. «Que­remos en­con­trar ra­pi­da­mente uma saída para esta crise», as­se­veram.

Os lí­deres sin­di­cais já ti­nham ad­ver­tido que são in­su­fi­ci­entes as me­didas anun­ci­adas na se­mana pas­sada pelo pri­meiro-mi­nistro, Ga­briel Attal, entre as quais uma ajuda de 50 mi­lhões de euros para a agri­cul­tura bi­o­ló­gica, a sus­pensão do au­mento do preço do ga­sóleo agrí­cola, a sim­pli­fi­cação da bu­ro­cracia para aceder a sub­sí­dios e a ga­rantia de que a França não apoiará o acordo União Eu­ro­peia-Mer­cosul.

O go­verno francês pro­meteu mais me­didas de ajuda aos agri­cul­tores, que se queixam da sus­pensão da atri­buição de sub­sí­dios ao sector, do im­pacto da in­flação, da con­cor­rência «des­leal» de pro­dutos im­por­tados, das res­tri­ções ao uso da água para ir­ri­gação e das nor­mais am­bi­en­tais da UE, con­si­de­radas muito se­veras.

Ao mesmo tempo, o exe­cu­tivo de­clarou que «não per­mi­tirá» a en­trada de trac­tores nas grandes ci­dades. Para tal, o mi­nistro do In­te­rior, Gé­rald Dar­manin, mo­bi­lizou 15 mil po­lí­cias e guardas, apoi­ados por carros blin­dados e he­li­cóp­teros.

De­si­gual­dade e pre­ca­ri­zação

A Con­fe­de­ração Geral do Tra­balho (CGT), que já ma­ni­festou o seu apoio aos agri­cul­tores e à sua luta, de­nuncia as enormes de­si­gual­dades vi­vidas no sector, com «80 por cento da ajuda re­ce­bida» a be­ne­fi­ciar apenas 20 por cento dos agri­cul­tores. A cen­tral sin­dical re­fere ainda que a des­re­gu­la­men­tação do mer­cado a nível eu­ropeu, com o fim das quotas de leite e açúcar, «fa­vo­receu a es­pe­cu­lação sobre ma­té­rias-primas e o agro­ne­gócio».

Cri­ti­cando o cha­mado «co­mércio livre» e as suas con­sequên­cias na agri­cul­tura, a CGT re­alça que, tal como os tra­ba­lha­dores, e es­pe­ci­al­mente os tra­ba­lha­dores agrí­colas, cada vez mais os pró­prios agri­cul­tores já não con­se­guem viver apenas das suas ac­ti­vi­dades. Se o preço dos ali­mentos au­menta ao mesmo tempo que os pro­du­tores lutam para so­bre­viver, ga­rante a es­tru­tura sin­dical, é porque as mul­ti­na­ci­o­nais do agro­ne­gócio «cap­turam» a ri­queza pro­du­zida, re­gis­tando lu­cros re­corde. A subs­ti­tuição da pe­quena pro­dução por mega-ex­plo­ra­ções tem também como re­sul­tado a «de­gra­dação das con­di­ções de tra­balho», com re­curso a mão-de-obra «ul­tra­pre­ca­ri­zada».

Também o Par­tido Co­mu­nista Francês ex­pressou o seu apoio aos agri­cul­tores e às ra­zões do seu pro­testo, con­si­de­rando as me­didas anun­ci­adas pelo go­verno como in­su­fi­ci­entes não só para aplacar a «có­lera» dos agri­cul­tores como para res­ponder às suas rei­vin­di­ca­ções.

 



Mais artigos de: Europa

BCE: mãos largas ao capital, aperto do cinto ao povo

Quando, em Julho de 2022, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou o primeiro de dez aumentos consecutivos das taxas de juro de referência, como resposta, diziam, ao aumento da inflação – que já vinha em crescendo, tal como os preços da energia, desde meados de 2021 –, afirmámos que a inflação «deve ser combatida através...

João Oliveira no Parlamento Europeu

João Oliveira, primeiro candidato da CDU às eleições de 9 de Junho, para o Parlamento Europeu, participa hoje, 1 de Fevereiro, na conferência «Por uma Europa dos trabalhadores e dos povos». A conferência tem lugar entre as 14h30 e as 18h00 no Parlamento Europeu. Promovida pelo Grupo Confederal da Esquerda Unitária...