Se pedem, é atender o pedido

Filipe Diniz

Há coisas insólitas que nem há como classificar, nem que significado têm, admitindo que têm algum. Sabemos como os ricos tratam de apoiar e promover politicamente quem lhes garanta privilégios e evasão fiscal. Mas através da Oxfam ficamos a saber de uma organização chamada Patriotic Millionaires (Milionários Patrióticos). Dirigiu «aos líderes reunidos em Davos» um abaixo-assinado, reclamando pagar mais impostos (ver para crer em https://proudtopaymore.org/).

Dizem: «pedimos-vos que nos cobrem impostos, a nós que somos os mais ricos na sociedade. […] Isto converterá riqueza privada extrema e improdutiva em investimento para o nosso futuro democrático comum.» Querem «enfrentar a desigualdade extrema» e outras coisas positivas. Todo um programa, tanto mais que os «Patriotas» afirmam existir «para mudar o actual sistema económico que nos está a defraudar a todos». O mesmo em que se tornaram milionários (ou herdaram a fortuna).

A lista de milionários subscritores não inclui os mais ricos do mundo, nem as «famílias» Amorim, Soares dos Santos, Guimarães de Mello, Azevedo, Alves Ribeiro, só para se mencionar os que por cá possuem mais «riqueza privada extrema». É certo também que se dirigem ao Fórum de Davos, onde semelhante coisa não constituiria nunca tema.

Taxar como pedem (ou mais), certo. Mas uma política fiscal mais justa não basta. O sistema que afirmam querer mudar está moldado para «defraudar» outros que não eles.

Onde caberá isto na luta de classes? «Os cinco mais ricos do mundo mais do que duplicaram a sua fortuna desde 2020, […] os salários de 800 milhões de trabalhadores […] perderam 1,5 mil milhões de dólares no decurso deste período» (https://www.oxfam.org/en/research/inequality-inc). É na luta destes que residirá o futuro, e nunca em «boas intenções» de quem está na mó de cima.

Na campanha eleitoral irão aparecer vários desses.

 



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