Pela verdade e a paz

Pedro Guerreiro (Membro do Secretariado)

O PCP defende a paz desde o primeiro momento

Em 22 de Fevereiro assinala-se dez anos sobre o golpe de Estado na Ucrânia, promovido pelos EUA e a União Europeia e levado a cabo por grupos de cariz fascista e nazi, que levou à imposição de um regime xenófobo e belicista, cuja violenta acção foi e continua a ser responsável, entre outros gravosos aspectos, pelo agravamento de fracturas e divisões entre o povo ucraniano, pela repressão e a perseguição política, pela ilegalização de partidos políticos, pela proibição de órgãos de comunicação social, pela discriminação e negação de liberdades e direitos fundamentais – incluindo de cidadania – a milhões de ucranianos, ou pela deflagração da guerra neste país há cerca de uma década.

Com o golpe de Estado de 2014, a Ucrânia foi efectivamente inserida na estratégia de cerco e confrontação dos EUA e da NATO visando a Rússia, passando a constituir mais uma plataforma daquele bloco político-militar junto das fronteiras deste país. Uma realidade que retomou uma acrescida dinâmica – com a aposta na intensificação do conflito militar na Ucrânia e das provocações dirigidas à Rússia – a partir do início de 2021, com a eleição de Biden a presidente dos EUA.

Recorde-se ainda que, para que tal fosse possível, Alemanha e França negociaram os Acordos de Minsk com a premeditada intenção de não os cumprir e de apenas ganhar tempo para possibilitar a militarização da Ucrânia, tal como Merkel e Hollande posteriormente admitiram. Acordos de Minsk que, se respeitados pelos EUA, a NATO e a UE, teriam permitido uma solução política para o conflito e, consequentemente, evitar a continuação da guerra e o seu ulterior agravamento.

Factos que sendo inseparáveis entre si, são igualmente indissociáveis da política de sistemático alargamento e avanço da infra-estrutura militar da NATO para o Leste da Europa (assim como da ampliação do campo de actuação deste bloco político-militar à Ásia-Pacífico); do abandono de importantes acordos de desarmamento por parte dos EUA, entre os quais o tratado de mísseis antibalísticos, o tratado para a eliminação dos mísseis nucleares de curto e médio alcance ou o tratado de céus abertos; do aumento das despesas militares por parte dos EUA e dos seus parceiros da NATO (que em 2022 representaram cerca de 55% das despesas militares no plano mundial); ou da sua constante rejeição de propostas que visem assegurar a diminuição da tensão, a segurança colectiva e a cooperação na Europa.

Por uma solução política

Tais desenvolvimentos, que antecederam a intervenção militar da Rússia em 24 de Fevereiro de 2022, são metodicamente omitidos ou manipulados pela permanente campanha de propaganda promovida pelos EUA, a NATO e a UE em prol da guerra – aliás, como se verifica de forma similar relativamente à dramática situação na Palestina, com o veto dos EUA a todos os apelos e iniciativas com vista a um cessar-fogo – e diligentemente repetida até à exaustão pela comunicação social dominada por estes, que igualmente deturpa as posições daqueles que defendem a paz e não alinham com esta campanha.

No entanto, por maior que seja a operação de desinformação, a realidade continua a demonstrar quem tudo continua a fazer para prolongar a guerra e agravar a escalada armamentista, com as acrescidas consequências e perigos que tal comporta para os povos ucraniano e russo, para os povos da Europa e de todo o Mundo. Como continua a demonstrar que são as grandes empresas que estão a ganhar com a guerra, o militarismo e as sanções – veja-se, a titulo de exemplo, os mais de mil milhões de euros de lucros que a GALP acumulou em 2023 – e que são os trabalhadores e os povos que estão a pagar os seus custos, com o retrocesso nos seus direitos e condições de vida.

Defendendo a paz desde o primeiro momento, o PCP há muito que afirma que é urgente que os EUA, a NATO e a UE cessem de instigar e alimentar a guerra na Ucrânia e que se abram vias de negociação com os demais intervenientes, nomeadamente a Federação Russa, visando alcançar uma solução política para o conflito, a resposta aos problemas de segurança colectiva e do desarmamento na Europa, o cumprimento dos princípios da Carta da ONU e da Acta Final da Conferência de Helsínquia – uma exigência a que a realidade vem dar crescente razão.



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