Regras flexíveis no plano inclinado das TV

A meio da maratona de debates televisivos, há uma coisa em que existe uma certa unanimidade: o ridículo de termos debates de meia hora entre candidatos seguidos de horas e horas de comentário. Esta indignação até já se estende a alguns dos próprios comentadores, que ainda assim não dispensam as suas notas e coisas que tais para transformar debates eleitorais em concursos de variedades. No fim ganham sempre os mesmos, os que já estavam pré-definidos como as surpresas, os mais preparados, os mais telegénicos. Nada de novo.

Mas esta temporada de debates trouxe também uma ou outra novidade no que ao tratamento diferenciado e discriminação entre candidaturas diz respeito, já não apenas nos aspectos mais subjectivos (na selecção dos temas, como começar o debate entre a CDU e o PAN pela regulamentação do lobbying, proposta pelos segundos) mas também na medida mais objectiva para medir o equilíbrio entre os participantes, o tempo.

O primeiro episódio vimo-lo no debate de Paulo Raimundo com André Ventura, na CNN. Depois de vários debates em que aquela estação adoptou uma certa flexibilidade na duração dos debates (que, de acordo com a proposta das televisões, deveriam ter todos uma duração de meia hora), nessa noite o controlo do tempo de debate foi férreo. O problema é que, chegados aos 30 minutos, a discrepância entre os intervenientes cifrava-se em cerca de dois minutos. Apesar do facto não ter passado despercebido ao Secretário-Geral do PCP, a quem ainda era devido esse tempo, o jornalista moderador fez orelhas moucas e deu por fechado o debate.

Já no início da semana revelou-se um novo caso, talvez o mais escandaloso até agora. Recordam-se das regras que ditam que os debates ficam pelos 30 minutos? Na segunda-feira, quem estava ao comando da emissão da RTP1 esqueceu-se e deixou que o debate entre Luís Montenegro e André Ventura prosseguisse para lá da meia hora. É certo que, como dissemos, já outros debates tinham beneficiado de alguma flexibilidade na gestão dos tempos, mas naquele dia os minutos foram passando: chegou aos 40 minutos.

A opção da RTP foi deliberada, como atesta a grelha de programação desse dia, que previa já mais de 40 minutos para aquele debate. E as explicações podem ser várias, mas todas eles lamentáveis. Seja porque a estação pública e quem a dirige quis mostrar distanciamento do Governo ainda em funções, seja porque cedeu ao sensacionalismo e abdicou do equilíbrio e isenção pelas audiências esperadas, seja por engajamento político de alguém, o que se passou foi uma violação grosseira das regras acordadas por todos (candidaturas e televisões), para os debates. Seria sempre incompreensível que fosse a RTP a tomar uma atitude como esta, mas é ainda mais quando, objectivamente, favoreceu forças políticas que tentaram e seguramente voltarão aos planos para destruir a estação pública – um dos velhos intentos de ataque ao regime democrático que une PSD, CDS, IL e Chega.

A face mediática da campanha é um plano sempre inclinado a desfavor do PCP e da CDU, já o sabemos. Façamos da denúncia destes truques também uma arma neste combate eleitoral para demonstrar qual é a força que obriga os poderosos a medidas extraordinárias para tentarem apagar a nossa intervenção.

 



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