- Nº 2628 (2024/04/11)

Pela verdade, custe o que custar

Opinião

Os sinistros acordes dos tambores da guerra continuam a soar, e cada vez mais alto. A corrida aos armamentos e a construção de uma «economia de guerra», em que a NATO e a União Europeia estão empenhadas, chegam a ser apresentadas como «oportunidade a não perder» para modernizar e desenvolver o País, e aqueles que votaram o fim do SMO para afastar as Forças Armadas do povo aparecem subitamente a defendê-lo, não para cumprir as missões de soberania e paz que a Constituição atribui às FFAA, mas para comprometer ainda mais Portugal na estratégia agressiva do imperialismo.

Claro que nunca devemos tomar à letra as campanhas de manipulação e condicionamento ideológico com que a classe dominante, seguindo o ensinamento nazi de Goebbels, pretende transformar a mentira em indiscutível «verdade». Mas os perigos com que Portugal está confrontado são bem reais e tanto mais que, mal tomou posse, o Governo da direita anunciou querer ir ainda mais longe que o governo do PS na submissão de Portugal à NATO e à União Europeia. Temos de intensificar a luta para o impedir.

Os falcões da guerra estão a procurar, por todos os meios, inculcar nas massas trabalhadoras, o fantasma da «ameaça de Moscovo» e a paranóia de uma «Europa em perigo!»; é necessário desmascarar um tal alarmismo que, além do mais, visa iludir os reais problemas das massas e travar a sua luta contra a exploração capitalista e contra o crescente ataque às liberdades democráticas.

Se a segurança dos povos da Europa está em perigo, porque é que as grandes potências capitalistas esconjuram a palavra paz e recusam soluções políticas? Porque é que, depois de fracassada a operação «G8» (G7+Rússia), rejeitaram e rejeitam reiteradas propostas sobre a Segurança na Europa ao mesmo tempo que, sem vergonha, tentam impor a narrativa da «ameaça russa» como a «versão pós-guerra fria» da «ameaça soviética»? Porque fingem ignorar que a guerra na Ucrânia tem atrás de si um rosário de violações de compromissos e acordos (a começar pelo de não alargar a NATO «nem mais um centímetro» após a absorção da RDA pela RFA)? Porque liquidaram a neutralidade de países há séculos neutrais como a Suécia, ou como a Finlândia, o país anfitrião da histórica Conferência de Helsínquia para a Paz e a Cooperação na Europa de 1975, em que já participou o Portugal de Abril, atirando para a sarjeta da história a participação do fascismo português na fundação da NATO? E porque é que, na sequência de sucessivos alargamentos, a NATO (dita do «Atlântico Norte») está a estender os seus tentáculos à Ásia-Pacífico com o activo empenho do militarismo nipónico, apesar da forte oposição do povo japonês, que não esqueceu o holocausto de Hiroxima e Nagasáqui? E porque é que, na frenética multiplicação de «cimeiras» do campo imperialista (NATO, UE, G7, etc.), não há praticamente nenhuma que, de um ou outro modo, não acabe por apontar baterias contra a República Popular da China?

É preciso calar os tambores da guerra antes que seja tarde demais. Caminho difícil, mas que é necessário percorrer. Sem simplificações redutoras, mas apontando com coragem o principal inimigo da paz, o imperialismo, e defendendo a verdade histórica, custe o que custar.

 

Albano Nunes