- Nº 2631 (2024/05/2)

Os valores de Abril no futuro de Portugal

Opinião

As comemorações dos 50 anos da Revolução de Abril, com milhares de iniciativas por todo o País, foram uma extraordinária afirmação dos ideais e dos valores de Abril e revestem-se de particular significado no quadro político actual, representando uma resposta à ofensiva ideológica há muito levada a cabo.

Houve quem as tenha tentado desvalorizar, enquanto outros se dedicaram a silenciamentos, deturpações, mentiras e deliberadas falsificações da história, aliados a uma não menos intensa operação de branqueamento da ditadura fascista, apagando ao mesmo tempo o papel dos comunistas e do seu Partido na resistência ao fascismo e na construção e defesa do regime democrático.

A borracha dos novos censores e dos seus serventuários instalados nos cadeirões da reescrita da história e nas poltronas da comunicação social apagou muitos dos mais importantes construtores de Abril – de que é exemplo gritante o desaparecimento do General Vasco Gonçalves, primeiro-ministro de quatro governos provisórios, relevando Spínola e omitindo o seu papel em sucessivos golpes contra-revolucionários (Julho e Setembro de 1974, 11 de Março de 1975) e na rede terrorista que assolou o País entre Maio de 1975 e Abril de 1977.

Dessa época relevam-se organizações terroristas como o ELP e o MDLP, a Flama (na Madeira) e a FLA (nos Açores). Apoiadas pela CIA e demais serviços secretos estrangeiros, ex-pides, empresários, parte significativa da igreja, militares, quadros, dirigentes e homens de mão do PSD e do CDS, entre outros, coadjuvados por gente do MRPP, da AOC, do pcp-ml, entre outros, constituíram a santa aliança que não se eximiu de recorrer ao terrorismo para abrir caminho à contra-revolução.

Das 566 acções registadas (310 à bomba, 136 assaltos, 58 incêndios, 36 espancamentos, 16 atentados a tiro, 10 apedrejamentos), 160 tiveram como alvo o PCP.

José Freire Antunes (antigo deputado do PSD e adjunto de Cavaco Silva entre 1988 e 1993) num seu livro O Segredo do 25 de Novembro diz que o «incêndio e a perseguição tornaram-se pão nosso de cada dia. Multidões em fúria tomavam de assalto as sedes do Partido Comunista e de outros partidos de esquerda. O comunismo é a oitava praga». Mário Soares nunca escondeu a sua admiração e gratidão por Spínola: enquanto Presidente da República fez-se acompanhar em Belém por destacadas figuras do spinolismo, como Almeida Bruno, Manuel Monge e o general Azeredo. Spínola viria a ser agraciado com as estrelas de Marechal e foi ainda premiado com a Presidência das ordens Honoríficas.

O mesmo Mário Soares que caracterizou por diversas vezes a vaga terrorista de «rejeições populares» do comunismo, «indignação genuína contra a comunização». Sobre o papel da Igreja e as suas ligações ao MDLP: «sinceramente, acho que não.» Afirmações corroboradas por Carlucci: Foi quando o «povo do Norte começou a resistir à influência do Partido Comunista que teve início a reviravolta»; «foi espontâneo, ninguém esteve por detrás»…

Com afirmava Álvaro Cunhal, em Agosto de 1975, «o anticomunismo dirige-se preferencialmente contra o PCP, mas visa a liquidação das liberdades não apenas dos comunistas, mas de todo o povo português (…) uma vez mais são os que acusam os comunistas de serem contra as liberdades que de facto as liquidam. E são os comunistas que corajosamente se erguem em defesa das liberdades». Estas palavras bem poderiam ser escritas hoje!

50 anos depois de Abril, importa valorizar o papel da luta de massas e do PCP na luta contra a ditadura fascista, no processo revolucionário e na sua defesa e na aprovação da Constituição. 50 anos depois de Abril, o PCP continua a destacar-se como a força mais empenhada e coerente na defesa dos valores de Abril e da sua projecção no futuro de Portugal.

 

Octávio Augusto