«Europeus» e «nacionais»

Ângelo Alves

«Gos­tava que os temas eu­ro­peus ti­vessem sido mais pro­ta­go­nistas e que a parte na­ci­onal fi­casse para os po­lí­ticos na­ci­o­nais e não para aqueles que vão de­fender os por­tu­gueses na Eu­ropa, que é o nosso caso.» A frase é de Se­bas­tião Bu­galho, pri­meiro can­di­dato da AD às elei­ções para o Par­la­mento Eu­ropeu, e diz imenso sobre a forma como está a ser ma­ni­pu­lada a cam­panha elei­toral e como al­guns can­di­datos olham para os cargos a que se pro­põem ser eleitos.

Co­me­cemos pelo as­pecto formal: apesar da sua na­tu­reza fe­de­ra­lista, a União Eu­ro­peia não é nem um país nem um Es­tado. É um pro­cesso de re­la­ci­o­na­mento entre Es­tados for­mal­mente so­be­ranos. Nestas elei­ções, cada país elege de­pu­tados ao Par­la­mento Eu­ropeu. Os de­pu­tados eleitos em Por­tugal re­pre­sentam o povo por­tu­guês.

Pas­semos ao as­pecto po­lí­tico. Re­pre­sentar os por­tu­gueses sig­ni­fica pugnar pelos seus di­reitos, in­te­resses e as­pi­ra­ções e de­fender os in­te­resses do seu país. Ou seja, os de­pu­tados ao Par­la­mento Eu­ropeu es­tarão lá acima de tudo para tratar da vida e da re­a­li­dade dos por­tu­gueses e do seu país, in­ter­vindo para que as po­lí­ticas da União Eu­ro­peia es­tejam em linha com os seus di­reitos.

É por isso que a frase de Bu­galho é uma con­fissão das suas in­ten­ções, assim como dos que in­sistem na ma­ni­pu­la­tória di­co­tomia «as­suntos eu­ro­peus» versus «as­suntos na­ci­o­nais».

Na CDU não vemos as coisas assim. Os sa­lá­rios, os di­reitos, as pen­sões, a saúde, a edu­cação, a ha­bi­tação, o sis­tema pro­du­tivo na­ci­onal, os MPME, os di­reitos da ju­ven­tude, a se­gu­rança so­cial, são e têm de ser os pro­ta­go­nistas dos «as­suntos eu­ro­peus», a par com ou­tras ques­tões que, ditas «eu­ro­peias» – como o meio am­bi­ente, a paz, as mi­gra­ções, entre ou­tras – são na­ci­o­nais, pois exigem me­didas e mo­bi­li­zação do nosso povo.

A di­co­tomia deste e de ou­tros Bu­ga­lhos só serve para duas coisas: para jus­ti­ficar a priori a sua fu­tura am­nésia sobre quem os elegeu; e para ali­mentar po­lí­ticas «eu­ro­peias» cada vez mais des­li­gadas das re­a­li­dades dos povos e con­trá­rias aos seus in­te­resses. É que a União Eu­ro­peia não é a Eu­ropa. A Eu­ropa são os seus povos. E é por isso que de­fender a Eu­ropa é ques­ti­onar esta visão e con­testar po­lí­ticas da União Eu­ro­peia que já pro­varam estar a fazer mal à Eu­ropa. Isso faz-se com o voto na CDU.

 



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