- Nº 2637 (2024/06/13)

No centenário do nascimento do camarada Ilídio Esteves

PCP

Passaram, no dia 3, 100 anos sobre o nascimento de Ilídio Dias Esteves, militante e dirigente do PCP, resistente antifascista e um dos participantes da célebre fuga da Cadeia de Caxias de Dezembro de 1961.

Ilídio Esteves nasceu em Canelas, no concelho de Estarreja, no ano de 1924, tendo entrado, em 1953, para o partido que escolheu como seu, e com o qual decidiu lutar durante toda a sua vida a favor da liberdade, da democracia e do socialismo. Veio a falecer no dia 12 de Março de 2013.

Membro do MUD Juvenil desde a fundação desta importante estrutura unitária da luta da juventude contra o fascismo, foi preso a 18 de Março de 1953, sendo libertado no dia 28 de Agosto do mesmo ano.

É nas páginas do Boletim do MUD Juvenil que encontramos referência a este facto, podendo ler-se no título de uma notícia: «Ilídio Esteves, Manuela Lopes e Henrique Cristo já estão em liberdade!». E continua: «Nos últimos dias, foram postos em liberdade estes jovens trabalhadores que a PIDE prendera ilegalmente em Março. Enquanto presos, todos eles se comportaram honrada e valentemente, recusando-se a denunciar os seus companheiros».

Prisão e fuga de Caxias

Ilídio Esteves, que passou para o quadro de funcionários do Partido em 1954, acabaria por ser aprisionado, novamente, pelos tenebrosos grilhões do fascismo, a 6 de Fevereiro de 1961, no Forte de Caxias. Uma prisão que, nunca demovendo quem verdadeiramente luta pelo fim da exploração, não retirou a Ilídio Esteves a vontade de lutar contra o fascismo, antes pelo contrário, e que não chegou a durar um ano.

Eram cerca das 9 de horas da manhã do dia 4 de Dezembro de 1961, no momento de chegada das visitas à prisão, quando o comunista António Tereso (que ganhara a confiança do director do forte, fingindo-se de traidor, ou «rachado», como se dizia) tomou assento no lugar do condutor do carro blindado de Salazar, que arranjara, no qual arrombou o portão de ferro de Caxias e levou consigo outros sete camaradas: Domingos Abrantes, António Gervásio, Francisco Miguel, José Magro, Guilherme Carvalho, Rolando Verdial e Ilídio Esteves. Todos em fuga para Lisboa.

Depois da fuga colectiva de Peniche, em Janeiro de 1960, a fuga de Caxias contribuiu para o reforço do trabalho do Partido, trazendo de volta para a luta clandestina destacados quadros e dirigentes.

Intervenção contínua

Ilídio Esteves continuou, mesmo acabado de sair da prisão, e vivendo nas duras condições da clandestinidade, a sua actividade enquanto comunista, agitando, mobilizando e organizando os trabalhadores e o povo na luta contra o fascismo.

Durante largos anos, com a sua companheira Adelina, montou várias casas clandestinas – em Benfica, Malveira, Alenquer, Almada e Lisboa –, a partir das quais desenvolveu a sua actividade partidária.

Nesta sua intervenção, acabou por ser preso novamente, a 6 de Outubro de 1965, numa prisão que foi noticiada, a 24 desse mês, pela imprensa, que escreve como título de notícia «As investigações da P. I. D. E. sobre a agitação na área de Pêro Pinheiro».

Aqui, foi relatada a captura de diversos militantes clandestinos do PCP (entre os quais Faustina Maria Condessa, Sebastião Camilo Barradas e Manuel Mendes Colhe) por «agitação político-social».

No texto refere-se a prisão, «dias depois», de Ilídio Esteves, identificado como culpado de «actividades subversivas», preso numa «casa de “ponto de apoio”» com «dois bilhetes de identidade falsificados e que continham os nomes de: Fernando Oliveira dos Santos e Bento Joaquim Areosa, ambos com a falsa profissão de desenhador».

Um retrato, pela imprensa controlada pela ditadura, das duras privações e medidas de segurança que este comunista, como muitos outros camaradas, tiveram de passar na clandestinidade.

Ilídio Esteves acabaria por ser libertado a 13 de Outubro de 1972.

Entrega ao Partido

Considerado modesto e discreto pelos seus camaradas, Ilídio Esteves deixou ao colectivo partidário, aos trabalhadores e ao povo uma vida de serviço à causa da democracia e do socialismo, que se reflectiu nas inúmeras funções que desempenhou: membro do Comité Local de Lisboa nos anos 50 e do Comité Central desde 1965 (primeiro suplente e depois, em 1976, efectivo), integrou, ainda, após a Revolução de Abril, as Direcções das Organizações Regionais de Lisboa e do Algarve, tendo nos últimos 25 anos da sua vida desempenhado tarefas em organismos junto da direcção central do Partido.

Ilídio Esteves, um combatente, viverá para sempre – como viveu até este centenário do seu nascimento – nas mentes e nos corações de todos os que, como ele, lutam por um mundo melhor, de progresso e de plena e verdadeira liberdade.