O PCP voltou a exigir o reconhecimento por Portugal do Estado da Palestina, defendendo que essa é uma «decisão que não depende de ninguém, uma decisão soberana do País» - e se o Governo não a toma é «por opção política».
«Apesar de toda a retórica, não se encontra qualquer justificação para que o Governo não adopte o posicionamento que se exige, no respeito pelo direito à autodeterminação dos povos, em cumprimento da Constituição da República», sublinhou a líder parlamentar do PCP, lembrando que a realidade a que o povo palestiniano está sujeito «não começou no ano passado», tem «décadas de agressão, de violência, de barbárie por Israel».
Paula Santos, que falava na semana finda, dia 21, em debate de actualidade agendado pelo Livre, realçou que as «atrocidades contra o povo palestiniano prosseguidas por Israel não têm fim», não escondendo a sua indignação pelo assassinato de mais de 37 mil palestinianos, a maioria mulheres e crianças, só na Faixa de Gaza, ao mesmo tempo que se «agudizam os ataques» na Cisjordânia e prossegue a «expansão dos colonatos».
«De que está à espera Portugal para dar um contributo decisivo para que se cumpram as Resoluções das Nações Unidas?», interrogou-se a parlamentar comunista, advertindo que a «cada dia que passa há mais destruição e mais mortos».
Depois de recordar que corresponde já a 75% do total os países das Nações Unidas que reconhecem o Estado da Palestina, Paula Santos voltou a exigir, entre outras medidas, o cessar-fogo imediato e permanente, o fim definitivo dos bombardeamento e das deslocações forçadas da população, a entrada da ajuda humanitária necessária, a libertação de todos os detidos, palestinianos e israelitas.
«Não fazer o que se impõe, não querer enfrentar Israel, só revela a cumplicidade do Governo com a agressão e violência de Israel contra o povo palestiniano», concluiu a presidente da formação comunista.
A diplomacia como desculpa
No dia 18, em audição na AR ao ministro dos Negócios Estrangeiros requerida pela sua bancada, Paula Santos alertara já para esse imperativo que é o reconhecimento do Estado da Palestina por parte de Portugal. Não só o fez como se insurgiu contra a escalada de Israel na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, fonte inenarrável de destruição e sofrimento humano.
Sabendo que para o cessar fogo e para o cumprimento das resoluções das Nações Unidas é necessário um «conjunto alargado de acções pelas diversas instituições», sublinhou por isso que também neste plano o Estado português pode dar um contributo, nomeadamente por via do reconhecimento do Estado da Palestina.
Paulo Rangel foi ainda confrontado com a impunidade de que goza Israel face ao seu incumprimento e violação das resoluções das Nações Unidas, das determinações do Tribunal Internacional de Justiça, o seu desrespeito sistemático pelo direito internacional, pelas Nações Unidas e suas instituições.
Na resposta, sem fazer qualquer alusão à impunidade de que goza Israel e seus crimes, o governante procurou justificar esse não reconhecimento por Portugal do Estado da Palestina sob a alegação de que o nosso país tem «um papel de mediação muito importante», que «dentro da UE está a conseguir trazer para a defesa da Autoridade Palestiniana uma série de Estados que estavam mais relutantes», e que «consegue falar com o governo israelita».
Paula Santos quis ainda saber qual a razão para não ter havido - depois de ter sido possível em Dezembro retirar de Gaza um familiar de um cidadão português -, novas diligências para resgatar os restantes familiares.
O ministro descartou responsabilidades, argumentando que esse cidadão, João Tomás Rosa, é casado com uma luxemburguesa, pelo que, sendo as pessoas em causa familiares desta cidadã, é ao Estado do Luxemburgo que cabe o «encargo» de as resgatar.