Os derrotados

João Frazão

Uma das novidades com que a comunicação social nos brindou nestas eleições para o Parlamento Europeu foi catalogarem o Chega no lote dos derrotados, em função da meta que os próprios tinham definido para si.

Sendo certo que é compreensível a aversão dos democratas perante a entrada no Parlamento Europeu, a partir de Portugal, de duas sinistras figuras desta agremiação política, com o seu discurso de ódio, retrógrado, discriminatório, racista e xenófobo, ou mesmo o sentimento dos que considerem que ter dois deputados daqueles é menos mau que ter quatro ou cinco, como alguns anunciaram e tudo fizeram para isso, não podemos deixar de alertar para o engodo com que os centros de desinformação do capital procuram iludir os mais incautos.

O Chega está a ser usado como seguro de vida do conjunto das forças e, principalmente, das ideias reaccionárias.

Concentrando as atenções no resultado do Chega (que, repare-se, não tinha deputado nenhum e agora tem dois), o que nos querem fazer crer é que o resultado do PSD e do CDS na AD, em que avulta o discurso arrogante e conservador do cabeça de lista, nada tem a ver com os objectivos reaccionários daqueles.

De igual modo, se procura passar a ideia de que uma outra direita, a IL, não apenas não constituiria um perigo tão grande para a democracia, nas suas vertentes económica, social, política e cultural, como seria dela uma defensora, ainda por cima numa versão moderna e dinâmica.

Aliás, descarregando a bílis no resultados do Chega para o PE e particularmente no seu candidato, procurarão que alguns não vejam que estes estão metidos no mesmíssimo caldeirão de reaccionarismo que o PSD, o CDS e o IL, e que, todos juntos, vão continuar a convergir nas opções a favor do grande capital.

Longe vão os tempos das linhas vermelhas que ninguém cruzaria. Agora é a fase em que Meloni, a reaccionaríssima primeira-ministra italiana, que se movimenta debaixo do lema «Deus, Pátria, Família» e cujo partido tem como símbolo os fachos, um e outro, de muito má memória, se encontra no centro de decisões essenciais, incluindo na escolha dos cargos na UE, para garantir que continua tudo na mesma.

Como afirmámos na campanha eleitoral, a extrema-direita convive bem com a UE e a UE convive bem com a extrema-direita.



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