Infra-estruturas em desenvolvimento – uma história com décadas

Para o PCP, as grandes infra-es­tru­turas, como é o caso do Novo Ae­ro­porto de Lisboa (NAL), da Ter­ceira Tra­vessia do Tejo (TTT), e da Linha de Alta Ve­lo­ci­dade (LAV) e Alta Ve­lo­ci­dade Fer­ro­viária (AVF), ne­ces­sitam de ser in­te­gradas, ga­ran­tindo a sua na­tu­reza e gestão pú­blicas, ao ser­viço do de­sen­vol­vi­mento na­ci­onal.

O apoio do PCP a estas infra-es­tru­turas não é de agora: é de há largos anos

Nestes três casos, en­con­tram-se exem­plos de claro in­su­cesso da po­lí­tica de di­reita, que os de­cidiu ar­rastar du­rante anos até anun­ciar (sem pers­pec­tivas de ca­len­da­ri­zação con­cretas) a sua re­a­li­zação.

Há muito, muito tempo
O Ae­ro­porto da Por­tela (hoje Hum­berto Del­gado) foi inau­gu­rado em 1942, no fas­cismo, e já em 1969, surge o de­bate sobre a ne­ces­si­dade de uma nova lo­ca­li­zação, sendo criado o Ga­bi­nete do NAL, que avança, em 1972, a so­lução do Campo de Tiro de Al­co­chete (CTA).

Em 1978, com a ANA, co­meça-se a falar numa nova pos­si­bi­li­dade, na Ota, opção que é re­for­çada, em 1999, com a es­colha da lo­ca­li­zação pelo então Go­verno Gu­terres.

Volta-se a dis­cutir a questão no Go­verno Só­crates, que, após anun­ciar, em 2005, que a opção seria a Ota, es­colhe, em 2008, no­va­mente, o CTA (após um es­tudo do La­bo­ra­tório Na­ci­onal de En­ge­nharia Civil).

No en­tanto, es­tando já tudo de­ci­dido, es­tu­dado e pro­jec­tado para avançar, deu-se a pri­va­ti­zação da ANA, e tudo andou para trás.

O pro­jecto re­toma, no­va­mente, em 2015, no Go­verno Passos/​Portas, com a anun­ciada Por­tela+1, em que o «+1» seria… o Mon­tijo.

Assim, en­trou este con­celho «na calha», mesmo contra inú­meras mo­vi­men­ta­ções cí­vicas ou a von­tade de au­tar­quias (sendo de re­cordar o di­reito de veto que estas ti­nham sobre pro­jectos na­ci­o­nais, uti­li­zado pelas CM do Seixal e Moita, em 2021, contra a von­tade do Go­verno, que mudou as re­gras do jogo e re­tirou esse di­reito).

Entre dizer e fazer
Em De­zembro de 2023 (e após o Go­verno PS, li­de­rado por An­tónio Costa, ter anun­ciado e in­sis­tido na so­lução Mon­tijo), a Co­missão Téc­nica In­de­pen­dente (CTI) sobre a questão di­vulgou o seu re­la­tório onde di­vulgou o que já era por todos sa­bido: a so­lução do CTA é viável, a do Mon­tijo não.

De acordo com a CTI, a cons­trução do NAL na CTA im­pli­caria um ae­ro­porto num ter­reno pú­blico, custo mí­nimo de cerca de 8 mil mi­lhões de euros, e re­ceitas de 14 mil mi­lhões de euros (cerca de 2 mil em ac­ti­vi­dade não re­gu­lada, e 12 mil em ac­ti­vi­dade re­gu­lada de avi­ação).

Ra­zões pro­fundas
Para o PCP, há ra­zões de im­por­tância maior para a re­ti­rada do ae­ro­porto in­ter­na­ci­onal de dentro da ci­dade de Lisboa, sendo esta uma dis­cussão maior do que so­mente sobre a sua lo­ca­li­zação.

Trata-se de de­volver a ne­ces­sária qua­li­dade de vida das po­pu­la­ções da ci­dade, de re­duzir a po­luição so­nora e at­mos­fé­rica e os riscos à se­gu­rança das po­pu­la­ções que de­correm de um trá­fego cada vez mais in­tenso.

Mas também se trata de en­tender que este é um in­ves­ti­mento no País, que re­força a sua co­esão: o ae­ro­porto não pode estar con­fi­nado à zona da Por­tela, pre­cisa de se ex­pandir, ga­nhar con­forto, efi­cácia e se­gu­rança, e de estar li­gado a todas as ca­pi­tais de dis­trito (por trans­porte aéreo ou fer­ro­viário).

Ra­zões es­drú­xulas
Quanto à Vinci e à sua gestão da ANA, o PCP sabe porque é que não quer aban­donar a ci­dade de Lisboa: porque é muito mais ren­tável con­ti­nuar a ex­plorar um ae­ro­porto já cons­truído (mesmo com pro­blemas como o AHD estar a operar no li­mite da sua ca­pa­ci­dade nas horas de pico, se­gundo in­for­ma­ções de 2019).

Para o PCP, acima de tudo, não é ad­mis­sível que as op­ções na­ci­o­nais sejam con­di­ci­o­nadas aos lu­cros dos ac­ci­o­nistas de uma mul­ti­na­ci­onal.

Sobre as águas…
Já sobre a TTT (rodo-fer­ro­viária), o PCP também sempre foi claro: ela é cru­cial, não só para re­duzir para me­tade o tempo de li­gação entre Lisboa e Se­túbal, ou Lisboa e Beja, mas, também, para me­lhorar as li­ga­ções fer­ro­viá­rias entre Norte e Sul, re­tirar trá­fego das pontes 25 de Abril e Vasco da Gama, efec­tivar uma li­gação Lisboa-Ma­drid em menos de quatro horas.

Quanto a isto, por exemplo, já os de­pu­tados co­mu­nistas ha­viam pro­posto um adi­ta­mento à pro­posta de OE 2023, para o início dos pro­ce­di­mentos ne­ces­sá­rios à con­cre­ti­zação da TTT, im­pli­cando a re­a­li­zação plena de toda a rede com­ple­mentar de aces­si­bi­li­dades, as­su­mindo-a como uma infra-es­tru­tura de «enorme im­por­tância para a mo­bi­li­dade me­tro­po­li­tana e para a rede na­ci­onal de trans­portes e lo­gís­tica», fun­da­mental para «eli­minar blo­queios exis­tentes na mo­bi­li­dade das pes­soas e bens».

ou sobre carris
Por fim, quanto à LAV Lisboa-Porto, o PCP con­si­dera que esta cor­res­ponde a uma ne­ces­si­dade na­ci­onal, iden­ti­fi­cada há cerca de 30 anos, mas que nunca foi cons­truída.

O que faltou foi von­tade po­lí­tica, so­brando pro­blemas es­tru­tu­rais ex­ten­sí­veis a toda a fer­rovia, como o mo­delo de PPP na sua cons­trução (caso da LAV Lisboa-Évora, onde o País está ame­a­çado de pagar 220 mi­lhões de euros por algo nunca cons­truído).

O PCP propôs, en­tre­tanto, um con­junto de so­lu­ções que re­sol­ve­riam pro­blemas iden­ti­fi­cados neste pro­jecto: desde logo, a fase seis da obra, o troço Car­re­gado-Lisboa, passar a ser re­a­li­zado com pas­sagem no NAL e en­trada em Lisboa pela TTT; mas, também, o aban­dono do mo­delo PPP e aposta na ca­pa­ci­dade ope­ra­ci­onal da IP.

 

Op­ções de sempre!

As op­ções e o apoio do PCP a estas infra-es­tru­turas não são de agora: são de há já largos anos, e estão ex­pressas, por exemplo, nos pro­gramas elei­to­rais do Par­tido desde o início do sé­culo XXI:

# «apostar de um modo de­ci­dido na AVF» e «ca­len­da­rizar a cons­trução do NAL» (2005);

# «a cons­trução do NAL, pro­jec­tando o seu papel como ins­tru­mento es­tra­té­gico», «o ne­ces­sário fa­se­a­mento da in­tro­dução da AVF» e «TTT, entre Chelas e Bar­reiro [deve] ser as­se­gu­rada» (2009);

# «são obras a pro­jectar e ca­len­da­rizar […]: a in­tro­dução da AVF em Por­tugal, pri­vi­le­gi­ando […] Lisboa/​Porto, o NAL, cuja lo­ca­li­zação se po­si­ciona na […] área do CTA […], a TTT» (2015);

# «[Pro­jectar e ca­len­da­rizar] a AVF na li­gação Lisboa/​Porto […]; a cons­trução da TTT [e o] NAL» (2019);

# «cons­trução fa­seada do NAL no CTA […]; a AVF na li­gação Lisboa/​Porto, [en­trando] em Lisboa pela TTT» (2024).

 

Per­gunto ao tempo que passa

«O PCP sempre afirmou que a de­cisão po­lí­tica sobre [o NAL] de­veria obe­decer ao in­te­resse na­ci­onal […]. Tendo sido di­vul­gada hoje a de­cisão do Go­verno de cons­truir o novo ae­ro­porto em Al­co­chete, o PCP não pode deixar de chamar a atenção para o facto de du­rante largos meses o Go­verno PS ter in­sis­tido numa so­lução que cla­ra­mente ca­recia de plena sus­ten­tação no plano téc­nico […]».

Nota do Ga­bi­nete de Im­prensa do PCP, pu­bli­cada há mais de 16 anos, a 10/​01/​2008

«[É] ne­ces­sário re­vi­ta­lizar o centro tra­di­ci­onal de Lisboa, bem como as orlas dos dois es­tuá­rios, […] e ainda a in­te­gração fun­ci­onal entre o centro de Lisboa e os pólos de Al­mada, Seixal e Bar­reiro. […] [A]ssume-se como pri­meira opção a tra­vessia Chelas-Bar­reiro […], [que] de­verá pos­si­bi­litar o atra­ves­sa­mento ro­do­viário e fer­ro­viário».

Re­so­lução do Con­selho de Mi­nis­tros, pu­bli­cada há mais de 22 anos, a 08/​04/​2002

«[O Go­verno aprova] o de­sen­vol­vi­mento das se­guintes infra-es­tru­turas que in­te­gram a rede fer­ro­viária de alta ve­lo­ci­dade: […] Linha Lisboa-Porto, como linha es­pe­ci­al­mente cons­truída para a alta ve­lo­ci­dade, com es­ta­ções in­ter­mé­dias em Leiria, Coimbra e Aveiro, com ho­ri­zonte tem­poral de 2013».

Re­so­lução do Con­selho de Mi­nis­tros, pu­bli­cada há mais de 20 anos, a 26/​06/​2004

 

Com­pro­missos claros

O PCP não ad­mite mais re­cuos nem anún­cios sem con­cre­ti­zação: é mesmo para avançar com a cons­trução da pri­meira fase do NAL no CTA e ace­larar o en­cer­ra­mento da Por­tela (e não in­vestir no seu alar­ga­mento), fa­zendo a TAP «voar» em vez de a pri­va­tizar; a TTT é para avançar de ime­diato, em modo rodo-fer­ro­viário; a LAV Lisboa-Porto é uma pri­o­ri­dade, deve en­trar em Lisboa pela margem es­querda e o seu in­ves­ti­mento deve ser acom­pa­nhado da compra de ma­te­rial cir­cu­lante para a CP aí operar.

In­te­resses como os da Vinci não podem con­ti­nuar a de­ter­minar as op­ções do País.

 



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