Quem quer a guerra no Médio Oriente?

Ângelo Alves

Is­rael pro­cura pro­vocar um con­flito mais ge­ne­ra­li­zado para ter­minar o ge­no­cídio de Gaza

Se fal­tassem pro­vo­ca­ções para in­cen­diar ainda mais o Médio Ori­ente, o bom­bar­de­a­mento no Do­mingo do com­plexo es­colar Al Ta­baeen em Gaza, quando se fa­ziam as ora­ções da manhã, e que matou cerca de 100 civis, é mais uma prova dos mé­todos e in­ten­ções do cri­mi­noso re­gime si­o­nista e seus ali­ados. Quando o Mundo que de­seja a paz está le­gi­ti­ma­mente pre­o­cu­pado com o pe­rigo de uma guerra re­gi­onal no Médio Ori­ente – que teria sempre uma com­po­nente in­ter­na­ci­onal –, e quando pa­recia haver al­guma pos­si­bi­li­dade de ne­go­ci­ação sobre Gaza, Is­rael in­ten­si­fica a acção ter­ro­rista e pro­vo­ca­tória, pra­ti­cando crimes de guerra im­pen­sá­veis, como o re­fe­rido em que foi usada pelo menos uma bomba norte-ame­ri­cana GBU-39, e alarga no­va­mente a guerra a todo o ter­ri­tório de Gaza, bem como à Cis­jor­dânia.

Não há hi­po­crisia ou ma­ni­pu­lação que es­conda o óbvio. A si­tu­ação tensa e pe­ri­gosa no Médio Ori­ente, e tudo o que vier a acon­tecer, é da res­pon­sa­bi­li­dade de Is­rael e dos seus apoi­antes – com des­taque para os EUA. A cor­re­lação de forças na re­gião é cada vez menos fa­vo­rável à es­tra­tégia si­o­nista. O ge­no­cídio na Pa­les­tina está a criar di­fi­cul­dades po­lí­ticas aos pró­prios apoi­antes de Is­rael. E é por isso que este pro­cura pro­vocar um con­flito mais ge­ne­ra­li­zado que lhe per­mita criar o caldo para ter­minar o ge­no­cídio de Gaza (nem que para isso «seja moral e jus­ti­fi­cável» (…) «matar à fome dois mi­lhões de civis», como afirmou o Mi­nistro das Fi­nanças de Is­rael); para eli­minar re­sis­tên­cias, ten­tando virar os países árabes uns contra os ou­tros; e para usar esse mesmo con­flito em que se co­loca na po­sição de ví­tima para, em nome do “di­reito à de­fesa” (o mesmo com que “jus­ti­fica” a car­ni­fi­cina em Gaza), per­mitir um en­vol­vi­mento mais di­recto dos seus apoi­antes, de­sig­na­da­mente os EUA, no con­flito.

Mas é um erro pensar que esta es­tra­tégia saiu apenas da ca­beça de Ne­tanyahu e do seu go­verno fas­cista. A questão é muito mais séria, en­volve muitos ac­tores e não é dis­so­ciável da es­tra­tégia im­pe­ri­a­lista. É pre­ciso dizer cla­ra­mente que as de­ci­sões do ataque ter­ro­rista em Te­erão (Irão) que as­sas­sinou o líder po­lí­tico do Hamas; do bom­bar­de­a­mento em Bei­rute (Lí­bano) que matou um dos prin­ci­pais di­ri­gentes mi­li­tares do Hez­bollah; do ataque aéreo em Ho­deidah (Iémen), que matou vá­rios civis; ou dos ata­ques na Síria e Iraque nos úl­timos dias, nunca se­riam to­madas sem, pelo menos, o co­nhe­ci­mento dos EUA - que con­ti­nuam a for­necer ar­ma­mento a Is­rael e a re­forçar po­si­ções na re­gião - bem como de ou­tros apoi­antes de Is­rael no quadro da NATO. In­de­pen­den­te­mente de hi­po­cri­sias, di­fe­renças e con­tra­di­ções, a ver­dade é que Is­rael nunca po­deria avançar para tão grande pro­vo­cação sem o acordo dos cen­tros de co­mando im­pe­ri­a­listas. Tal es­tra­tégia en­caixa no ob­jec­tivo im­pe­ri­a­lista de con­tra­riar uma ver­dade e uma ten­dência: a ver­dade é que por mais bombas que caiam na Pa­les­tina a re­sis­tência pa­les­ti­niana está viva e é apoiada em todo o Mundo. Is­rael e seus apoi­antes estão a perder po­li­ti­ca­mente a guerra. A ten­dência é que os EUA, a França e a Grã-Bre­tanha têm cada vez menos in­fluência e margem de ma­nobra na re­gião e no Mundo Árabe. Aos povos árabes não in­te­ressa a guerra. A guerra in­te­ressa a Is­rael e seus apoi­antes. Lu­temos então cá, também, pela paz e pelos di­reitos do povo pa­les­ti­niano.

 



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