- Nº 2650 (2024/09/12)
Festa do Livro

Mudam-se os tempos, reforçam-se as vontades

Festa do Avante!


Em construções e trabalhos esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
Entre esta gente nossa edificaram
Nova Festa do Livro, que tanto sublimaram.

 

Na Quinta do Cabo plantada, a Festa do Livro voltou este ano, num novo local e com uma nova, maior, disposição, a demonstrar que os livros e a literatura têm lugar cativo na cultura popular de massas e, claro está, na Festa do Avante!. Ao longo destes três dias, autores, intelectuais e milhares de leitores misturaram-se e, em conjunto, partilharam a rara oportunidade de conversar, discutir e experimentar literatura longe das amarras de classe e autoridade que constrangem o diálogo na nossa sociedade. Para além dos milhares de títulos de todos os géneros e para todas as idades presentes, a Festa do Livro de 2024 contou com várias novidades das Edições Avante! e da Editora Página a Página como é o caso da publicação da tese de Álvaro Cunhal, O Aborto: Causas e Soluções.

No espaço de debates, mesmo à margem dos portões pelos quais sempre fluiu uma maré de visitantes de todas as idades, o destaque foi para o cinquentenário da Revolução de Abril, momento maior da história do nosso povo. Em torno da edição do livro Ataques à Banca Nacionalizada e o Seu Contexto Político, Económico e Social, de Anselmo Dias, presidente do Sindicato dos Bancários de Lisboa entre 1972 e 75, o historiador Manuel Loff e o economista Agostinho Lopes conversaram com o autor sobre a alienação de um dos mais importantes sectores económicos para assegurar a soberania nacional. No mesmo dia, sábado, Edgar Silva apresentou Vendaval de Utopias – Os Católicos da Revolução e o PCP, que motivou a partilha de experiências de muitos membros do público. No domingo, o 25 de Abril foi novamente evocado na apresentação do livro Atitude 74 – Pichagem e Pintura Mural na Revolução de Abril, de Cristina Cruzeiro, um novo contributo para aprofundar o conhecimento sobre as pinturas políticas realizadas durante o período revolucionário.

Nas mesmas linhas, domingo foi ainda ocasião para uma conversa entre os ilustradores André Letria, António Jorge Gonçalves, Madalena Matoso e Susana Matos sobre a tarefa de ilustrar, pelos dias que correm, a Revolução de Abril.


Outras artes e novos engenhos. Se Camões é o poeta do povo e da pátria portuguesa, pois esta Festa do Livro teve de ser, por força das circunstâncias, também sua. O V Centenário do nascimento do autor dos Lusíadas e a republicação da obra Os Lusíadas- Antologia Temática e Texto Crítico, de António Borges Coelho, motivaram uma conversa entre Hélio Alves, Director do Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras de Lisboa, e o autor João Pedro Mésseder, onde se vincou o carácter popular da obra camoniana e a permanente dialéctica em ebulição nos 10 cantos, confrontando a glória oficial do período dos descobrimentos e uma perspectiva profundamente antibélica: «Alguns vão maldizendo e blasfemando/Do primeiro que guerra fez no mundo/Outros a sede dura vão culpando/Do peito cobiçoso e sitibundo/Que, por tomar o alheio, o miserando/Povo aventura às penas do Profundo».

Dando expressão a estas angústias na actualidade corrente, Bruno Amaral de Carvalho (autor de A Guerra a Leste – 8 Meses no Donbass) e Luís Caparinha debruçaram-se sobre trabalhos literários escritos acerca da guerra na Ucrânia e do genocídio em Gaza para reafirmar, perante centenas de espectadores, a paz como um direito de toda a humanidade.

Camões podia ainda ter sido o mote para a conversa sobre a escritora Djaimilia Pereira de Almeida, vencedora do Grande Prémio de Romance APE 2024, coordenada pela professora Isabel Araújo Branco, que incidiu sobre as muitas questões espelhadas pela autora na sua última obra: O que é ser uma escritora negra hoje, de acordo comigo.

No espaço do livro houve ainda lugar para autógrafos em que participaram diversos autores, nomeadamente: Ana Biscaia, Domingos Lobo, João Carlos Gralheiro, Nuno Martins, Pedro Estorninho, Ricardo Correia, Rita Taborda Duarte, Sofia Sampaio, Alfredo Lourenço Pinto, Ana Paula Sacramento, Duran Clemente, Jorge Plácido, José Pinheiro, Pedro Penilo, Armando Sousa Teixeira, Catarina Sobral e Manuel Veiga.