- Nº 2650 (2024/09/12)
Espaço Ciência

A Ciência e a Paz tudo têm a ver com o 25 de Abril

Festa do Avante!


Esta experiência é de pôr os cabelos em pé. Enquanto o visitante coloca a mão sobre a esfera grande do gerador de Van de Graff, o monitor do Núcleo de Física do Instituto Superior Técnico (NFIST) aproxima uma mais pequena, provocando um «choque eléctrico». Nisto, os cabelos da «cobaia» ocasional, no Espaço Ciência, levantam-se um pouco. Que aconteceu? «Os electrões afastam-se o mais possível uns dos outros», explica.

Depois, o jovem coloca sobre a esfera maior uma «gaiola» metálica. Primeiro, com uma tampa com um fragmento de papel voltado para cima; nova carga eléctrica, o fragmento eriça-se. Depois, a tampa para baixo, com o papel invertido para o interior; segunda carga, o papelinho não se mexe: os electrões são contidos pela rede. «É como na rede da porta do micro-ondas lá de casa, para que as ondas não saiam e não me cozam em vez de cozerem a minha comida», explica.

A experiência é uma das actividades com que o NFIST anima o Espaço Ciência na Festa do Avante! – nesta edição sob o tema «As Ciências em Portugal, as portas que Abril abriu» – como as que leva durante o ano pelo país. Trata-se de «divulgar Física de forma divertida», diz Filipe Santos, presidente daquela associação juvenil, no debate «50 anos de Ciência em Portugal». «Antes do 25 de Abril, nada disto era possível», nota.

Para que serve a divulgação científica? «Para que os cidadãos, quer sejam serralheiros, médicos ou filósofos, tenham noções de ciência e sejam capazes de questionar», diz o astrónomo Máximo Ferreira. E o que falta fazer para fixar jovens cientistas em Portugal? «Elegermos políticos com visão de futuro para o País», responde. Com condições de trabalho, carreira, sem necessidade de «correr atrás de prémios de investigação, como os hamsters na rodinha» para garantir trabalho, anotou o moderador, Renato Pistola.

Disso falaram, no debate «Trabalhadores científicos: Luta e futuro!», Nuno Pinhão, da Organização dos Trabalhadores Científicos, e Sofia Lisboa, da Associação dos Bolseiros de Investigação Científica. Com o 25 de Abril surgiu um «movimento não só em torno da carreira de investigador, mas também sobre que investigação e como pô-la ao serviço do País», recordou, lamentando que o emprego científico nos laboratórios do Estado tenha estagnado, mas salientando a função de «instrumentos de desenvolvimento».

Nas universidades, o panorama é «frustrante»: os bolseiros não têm subsídio de férias, nem subsídio de Natal, nem subsídio de desemprego (situação em que muitos investigadores contratados vão cair) e o acesso à licença parental está ao critério do investigador principal que dirige a unidade, denunciou Sofia Lisboa, relatando também os casos dos bolseiros de investigação em universidades assediados para darem aulas para ganharem currículo e sem serem remunerados.