«As pessoas acima dos lucros» apelam trabalhadores nos EUA

In­dús­tria au­to­móvel, ae­ro­náu­tica e ali­mentar: a luta de classes in­ten­si­fica-se nos EUA, onde se agravam as con­tra­di­ções do ca­pi­ta­lismo à me­dida que crescem os lu­cros dos mo­no­pó­lios à custa do au­mento da ex­plo­ração e do agra­va­mento das de­si­gual­dades.

Sa­lá­rios baixos, res­trição de di­reitos e en­cer­ra­mento de fá­bricas são re­a­li­dades diá­rias nos EUA

Tra­ba­lha­dores do grupo au­to­móvel Stel­lantis, mul­ti­na­ci­onal que con­grega a Fiat Chrysler e a PSA, estão em luta nos EUA contra a in­tenção da em­presa de manter en­cer­rada a fá­brica em Bel­vi­dere, no Es­tado do Il­li­nois, con­tra­ri­ando assim os termos do acordo as­si­nado no ano pas­sado. Em Denver, na costa Leste, e em Los An­geles, do lado oposto, os tra­ba­lha­dores res­pon­deram ao apelo lan­çado pelo sin­di­cato UAW e estão dis­postos a partir para a greve caso o grupo Stel­lantis se re­cuse a re­a­brir a uni­dade e a re­con­tratar os tra­ba­lha­dores.

Ci­tado pelo jornal Pe­o­ple’s Daily, um dos par­ti­ci­pantes numa ma­ni­fes­tação em Washington, no dia 10, ques­ti­onou: «se a Stel­lantis vi­olar esta cláu­sula con­tra­tual, que foi um re­qui­sito fun­da­mental da greve Stand Up da UAW do ano pas­sado, e sair im­pune, o que é que a em­presa vi­o­lará a se­guir? Sa­lá­rios? Be­ne­fí­cios? En­cerrar ou­tras fá­bricas (…)?» Esta ma­ni­fes­tação, re­a­li­zada no dia 10, foi a úl­tima de uma série de pro­testos pela re­a­ber­tura da­quela fá­brica da Chrysler. Outro tra­ba­lhador do grupo, pre­sente no pro­testo, lem­brou que a re­a­ber­tura da­quela uni­dade in­dus­trial, «para manter a eco­nomia forte e as pes­soas nos seus em­pregos», foi uma pro­messa do grupo mul­ti­na­ci­onal.

Os sin­di­ca­listas acusam a ad­mi­nis­tração de apenas se pre­o­cupar com os ac­ci­o­nistas: «a Stel­lantis está len­ta­mente a pegar em partes desta em­presa e a des­pachá-las.» Se­gundo o Pe­o­ple’s Daily, meios de co­mu­ni­cação norte-ame­ri­canos re­fe­riram-se re­cen­te­mente à in­tenção da mul­ti­na­ci­onal em «trans­ferir quatro quintos da sua pro­dução para fora dos EUA».

Lu­cros, be­ne­fí­cios e ex­plo­ração

Na Bo­eing, a greve de mais de 30 mil tra­ba­lha­dores en­trou há dias no se­gundo mês. No dia 15, em Se­attle, teve lugar uma ma­ni­fes­tação na qual se exigiu me­lhores sa­lá­rios e pen­sões e a re­versão dos «cortes» anun­ci­ados pela ad­mi­nis­tração, de 17 mil postos de tra­balho. A greve co­meçou a 13 de Se­tembro, ha­vendo per­ma­nen­te­mente pi­quetes à porta da fá­brica da­quela ci­dade do Es­tado de Washington, onde se produz o Bo­eing 737. Os tra­ba­lha­dores exigem au­mentos de 40 por cento, dis­tri­buídos por quatro anos.

Re­gis­tando lu­cros su­pe­ri­ores a 62 mil mi­lhões de dó­lares desde 2002, a Bo­eing pagou apesar disso poucos im­postos. Em 2013, não pagou mesmo qual­quer im­posto fe­deral e, apesar de ter anun­ciado lu­cros de 5,9 mil mi­lhões, rei­vin­dicou ainda 82 mi­lhões de re­em­bolso de im­postos. Ao longo dos anos re­cebeu ainda avul­tados be­ne­fí­cios.

No Es­tado de Washington, onde a Bo­eing está se­diada, não existe im­posto sobre ren­di­mentos, seja ele in­di­vi­dual ou co­lec­tivo. As re­ceitas fis­cais do Es­tado – con­si­de­rado o se­gundo pior para os tra­ba­lha­dores com ren­di­mentos mais baixos – as­sentam nos im­postos re­gres­sivos, os mais in­justos e “cegos”. Para No­vembro está pre­visto um re­fe­rendo sobre a re­vo­gação do im­posto sobre as mais-va­lias, que be­ne­fi­ci­aria par­ti­cu­lar­mente a Bo­eing e o seu ad­mi­nis­trador, o mi­li­o­nário Ro­bert “Kelly” Ort­berg.

Greve na gi­gante da ali­men­tação
Na gi­gante do sector ali­mentar Car­gill cresce o des­con­ten­ta­mento dos tra­ba­lha­dores. Há dias, no Leste do Es­tado do Iowa, uma cen­tena de tra­ba­lha­dores das fá­bricas de milho es­tavam em greve por sa­lá­rios dignos.

Pro­tes­tavam contra a pro­posta da em­presa, que não cor­res­ponde às suas exi­gên­cias. O seu tra­balho, ga­rantem, produz lu­cros de mi­lhares de mi­lhões para a em­presa. Em 2022 e 2023, a Car­gill al­cançou lu­cros su­pe­ri­ores a 150 mil mi­lhões de dó­lares anuais. A quebra ve­ri­fi­cada este ano, de 17 mil mi­lhões, é usada como ar­gu­mento para não va­lo­rizar os sa­lá­rios e para ini­ciar uma “re­es­tru­tu­ração” – em­bora os lu­cros al­can­çados sejam ainda con­si­de­ra­vel­mente su­pe­ri­ores ao pa­tamar de 100 mil mi­lhões, ha­bi­tuais até 2020.

O au­mento subs­tan­cial dos lu­cros ve­ri­ficou-se du­rante a pan­demia de CO­VID19 e na sequência do agra­va­mento do con­flito na Ucrânia, as­sen­tando na es­pe­cu­lação e no au­mento da ex­plo­ração. Uma sin­di­ca­lista do Iowa lembra-se de tra­ba­lhar 34 dias se­guidos sem folga e de não ter ob­tido por isso qual­quer be­ne­fício ou re­co­nhe­ci­mento.

No pi­quete à porta de uma fá­brica de milho está pen­du­rada uma faixa onde se lê «as pes­soas acima do lucro». É na ver­dade por isso que se luta hoje, nos EUA: na Car­gill, mas também na Bo­eing e na Stel­lantis.

 



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