CGD não cumpre missão de serviço público
A Caixa Geral de Depósitos (CGD) encontra-se num «quadro de risco absoluto e serviço mínimo» com recentes decisões da administração, afirma a Comissão de Trabalhadores (CT) do banco público.
As «novas agências» da CGD não respondem às necessidades da população e das autarquias, alerta a CT da CGD
Em nota de imprensa do início de Outubro, a CT deu conta de uma situação preocupante no banco, contrária ao «seu dever de serviço público bancário, no respeito pela sua Carta de Missão», que justificou, no final de Setembro, a entrega de um memorando ao ministro da Coesão Territorial.
Os problemas, lembra, não são de agora, arrastando-se desde 2016 (com o início de mandato do actual presidente executivo, Paulo Macedo), mas conheceram um novo escalar com o «Plano de Transformação» aprovado este ano pela administração, num claro ataque ao papel do banco na coesão do País.
Serviço mínimo
Entre as críticas feitas à gestão do banco, destaca-se a drástica redução de agências e trabalhadores em todo o território nacional (com especial relevância no interior e nas ilhas).
Fruto de reformas e rescisões, aponta a CT, o quadro de pessoal passou de 10 083, em 2012, para 6243, no final de 2023, estando previstas, ainda, diminuições até ao final de 2024, resultando em mais carga laboral, perda de conhecimentos sobre o negócio e falhas na capacidade de concorrer no sector e assegurar um serviço público completo e de qualidade.
A estas saídas soma-se o encerramento de agências (de 830, em 2010, passaram a 461, em 2023) e a implementação, com particular incidência no interior e ilhas, das agências «Noma Smart»: serviçosque têm entre um e três trabalhadores (o quadro habitual é de quatro), sem responsável de gestão e sem tesouraria (que passa a ser automatizada).
«A CGD tinha, em 2015, presença em todas as sedes de concelho, com todas as valências e capacidades de executar todas as operações bancárias, tendo, também, tesouraria em todas as agências do interior e ilhas, como recursos de atendimento presencial», recorda.
Estas novas agências, afirma a CT, não conseguem dar as respostas necessárias à população, em zonas com altos índices de analfabetismo, iliteracia e envelhecimento. Além disso, também o Estado sai lesado desta operação: onde antes autarquias e organismos públicos podiam realizar operações bancárias numa agência próxima, agora têm, muitas vezes, de se deslocar para outro concelho, «tendo necessariamente um constrangimento de tempo de resolução e de cumprimento do serviço na hora, que a CGD, de forma permanente, divulga no seu marketing».
Audição parlamentar
A Comissão de Orçamento da Assembleia da República aprovou, na quarta-feira da semana passada, um requerimento do Grupo Parlamentar do PCP, apresentado a 25 de Outubro, para audição do presidente executivo da CGD, sobre a diminuição de serviços bancários no território nacional.
No documento, os deputados comunistas destacam que a CGD «é a única instituição bancária de capitais exclusivamente públicos, o que lhe atribui um papel central no funcionamento do sistema financeiro, na defesa do interesse nacional e no serviço às populações». São igualmente criticadas as opções da administração pela automação e minimização dos serviços.