Serão precisos comentários?

Filipe Dinis

Uma história em dois tempos:

Tempo 1. Diz um estudo dos EUA: os motores diesel emitem uma mistura complexa de poluentes do ar, incluindo tanto material gasoso como sólido. É designada DPM (diesel particulate matter, partículas de matéria diesel). Estas partículas, da dimensão de menos de 1 µm, estão associadas a efeitos adversos no ambiente e na saúde humana (problemas cardiovasculares e respiratórios, mortes prematuras). Na Califórnia, o problema acentua-se, por motores potentes como os das locomotivas operarem em particular “próximo de centrais ferroviárias, portos de mar e instalações industriais, onde por vezes habitam comunidades de baixos rendimentos, daí resultando um fardo ambiental agravado para essas populações”.

O Departamento de Recursos do Ar da Califórnia (CARB na sigla em inglês) promulga em 2023 um regulamento visando a retirada de “velhas e sujas locomotivas diesel”. Bane locomotivas com mais de 23 anos, e indica que até 2030 deverão entrar ao serviço locomotivas de “zero emissões”. Cerca de metade das locomotivas ao serviço têm perto de 50 anos.

Tempo 2. O secretário de Estado Anthony Blinken foi na semana passada ao Peru fazer uma generosa oferta. Os EUA apoiam a cidade de Lima na construção de uma nova linha ferroviária suburbana que virá a transportar diariamente 200.000 peruanos. No seu floreado discurso, refere que o sistema ferroviário Caltrain, da Califórnia, “contribuirá com mais de uma centena de carruagens e locomotivas de alta qualidade”. A que vem essa empresa? Um jornal dos EUA explica: “A Caltrain encontra um cliente internacional para a frota diesel que vai retirar”. Como está a electrificar a rede californiana, nada melhor do que vender a Lima carruagens e locomotivas diesel velhas de 40 anos. Por 6,32 milhões de dólares. Blinken é o seu caixeiro viajante.

São escusados comentários. A dominação dos EUA durará, entre outras coisas, enquanto outros países alinharem em coisas destas.



Mais artigos de: Opinião

Um Partido forte para o presente e o futuro

Com 103 anos de vida e de luta ao serviço do povo e do País, o Partido Comunista Português, orgulha-se do seu passado e enfrenta o presente e o futuro com confiança e determinação – certo de que a sua força reside na profunda ligação aos trabalhadores e às massas populares. Como afirmou Álvaro Cunhal, em O caminho para o...

Não à apologia da guerra!

«Perante o prolongamento, os impactos e os riscos da guerra na Ucrânia, [...] os EUA, a NATO e a UE devem cessar de instigar e alimentar este conflito e [...] devem ser abertas vias de negociação com os demais intervenientes, nomeadamente a Federação Russa, visando alcançar uma solução política, a resposta aos problemas...

À espera

«O Complexo Militar Industrial parece querer certificar-se de que a III Guerra Mundial começa antes de o meu pai ter a oportunidade de criar paz e salvar vidas. Têm de garantir esses triliões de dólares. Que se lixe a vida!!! Imbecis!» As palavras de Donald Trump Jr., a propósito da autorização dada por Biden a Zelensky...

Etiquetas

Há quem, não tendo coragem para assumir que as proclamações mais ou menos altissonantes de apego revolucionário não encontram sequência coerente com uma certa rendição não confessada ao que é dominante, se refugie em etiquetar outros antes que, com mais fundamento, os etiquetem com o selo com que pretendem atingir...

Falta a palavra de síntese

Falta uma palavra capaz de sintetizar a dimensão monstruosa de horror, perversidade, maldade, barbárie, extermínio e terror, da acção do imperialismo, contra os povos que não se submetem, contra a humanidade que persiste em não trilhar o caminho de guerra e de avanço do fascismo com que o imperialismo procura superar o...