Da confrontação à hipocrisia

João Pimenta Lopes

O Parlamento Europeu é um palco que serve os propósitos de legitimação, ou até mesmo de lançamento, das políticas da União Europeia. Entre elas estão as políticas de confrontação, de chantagem, de pressão, de ingerência sobre países terceiros. A cada sessão plenária, este é sempre prato forte, visando, sistematicamente, em função de interesses de momento, aqueles países que rejeitam submeter-se à cartilha da hegemonia dos EUA, a que se associa a UE.

A sessão plenária que decorreu a semana passada não poderia falhar nesse registo. Aí tivemos um debate sobre Moçambique, outro sobre a situação na Argélia. Além das resoluções ditas de “urgência”, em torno do Camboja, do Irão, ou da situação em Hong Kong, um favorito destas lides. E ainda uma resolução sobre as eleições na Geórgia, desconsiderando, sem surpresas, os resultados eleitorais e reivindicando mais sanções contra o país.

Instrumentalizando muitas vezes situações concretas e aspectos, por vezes justos até, das reivindicações dos povos, estes debates e resoluções traduzem-se invariavelmente (denunciando os seus verdadeiros propósitos) em inaceitáveis abordagens que se intrometem em assuntos internos de países soberanos, muito para lá da solidariedade com as lutas dos povos.

O que não deixa de estar presente a cada sessão é a resolução e debate sobre a guerra na Ucrânia. Aí ficou plasmado, mais uma vez, o apelo ao prolongamento e escalada do conflito, incluindo pela réplica da perigosa decisão dos EUA a respeito do uso de mísseis de longo alcance em território russo; a mobilização de mais meios para a guerra; a omissão das causas do conflito e a obstaculização de soluções de paz por parte de EUA, Reino Unido e UE; o alargamento da confrontação a outros países na Europa, no Médio Oriente e na Ásia; o apelo a mais sanções, omitindo as consequências para os povos, para proveito dos grandes grupos económicos, inclusive da indústria de armamento.

Quando os riscos iminentes exigem medidas para pôr fim à escalada armamentista e abrir caminhos de diálogo com vista a uma solução política do conflito, o Parlamento Europeu dá gás à obstaculização desse caminho pela UE, insistindo na instigação da confrontação e da escalada da guerra, alinhando com a política de EUA e NATO.

Esta postura de confrontação faz sobressair, além do mais, a profunda hipocrisia da UE, que continua a apoiar, inclusive militarmente, e a proteger a política genocida de Israel contra o povo Palestiniano. A gravidade da situação no terreno levou o PCP a propor um debate sobre a decisão de Israel de tentar impedir a acção da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA). Debate que acabou por se realizar, não obstante resistências e tentativas feitas para o impedir.

 



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