O primeiro-ministro francês, Michel Barnier, apresentou a sua demissão no seguimento da aprovação de uma moção de censura contra o seu governo. A denominada Nova Frente Popular exige que o presidente Macron nomeie um primeiro-ministro que emane deste conjunto heterógeneo de forças políticas, que em conjunto alcançaram o maior número de deputados nas últimas eleições legislativas.
Apresentada pelas forças que se candidataram no quadro da Nova Frente Popular (NFP) – nomeadamente A França Insubmissa (LFI), o Partido Socialista (PS), a Europa Ecologia Os Verdes (EELV) e o Partido Comunista Francês (PCF) –, a moção recebeu os votos dos deputados da extrema-direita, o que levou à sua aprovação.
Entretanto, Emmanuel Macron anunciou que vai designar nos próximos dias um novo primeiro-ministro para formar um governo «de interesse geral», com o suporte de diversas forças políticas, pelo que está a fazer uma ronda de consultas aos diferentes grupos parlamentares.
A Nova Frente Popular reclama que deve ser esta coligação eleitoral a propor o primeiro-ministro, já que nas legislativas de Junho passado foi quem elegeu mais deputados. Logo após as eleições, a NFP tinha reclamado a designação de Lucie Castets à frente do governo, mas Macron optou por indigitar, em Setembro, Michel Barnier, que agora se demitiu, apenas três meses depois da sua nomeação.
«Diplomacia activa em favor da paz»
O secretário nacional do PCF, Fabien Roussel, divulgou uma carta enviada antes a Macron, subscrita também por eleitos comunistas na Assembleia Nacional e no Senado, com contributos do partido para enfrentar a crise.
Na missiva, o PCF explica as razões da sua rejeição da proposta de orçamento para 2025, como a perda de rendimentos para os reformados e os trabalhadores em geral, perda de verbas para os departamentos, as regiões, perda de verbas para os hospitais, para a educação ou a falta de meios para a justiça, a segurança e o ambiente. E questiona: «Como deixar passar um orçamento que provocará a cólera de todos aqueles que vêem o seu poder de compra uma vez mais afectado? Como aceitar um orçamento que conduzirá o nosso país a uma recessão dramática num momento em que dos dois lados da Europa, tanto nos EUA como na China, a hora é de investimentos maciços dos Estados para proteger e dinamizar a economia, o consumo, o crescimento?»
Assim, o PCF apela «a construir rapidamente um pacto republicano e social, respeitando as escolhas expressas pelos cidadãos e trazendo respostas imediatas às suas exigências» e formula seis propostas essenciais: anulação das alterações da legislação sobre as reformas; indexação dos salários e pensões à inflação; baixa do custo de energia; apoio aos serviços públicos e às colectividades; apoio à indústria; e uma diplomacia activa em favor da paz.
O PCF lança um desafio a Macron: «Olhe para a esquerda do hemiciclo e respeite o parlamento, os franceses. Nós estaremos sempre lá para travar estas discussões e encontrar um caminho para responder às urgências do nosso país, pondo primeiro o acento na defesa dos interesses do povo».