Rússia, China e Índia reafirmaram que os países BRICS vão continuar a avançar na criação de uma nova plataforma de pagamentos e transações internacionais e na dinamização do uso de moedas nacionais no comércio externo.
Depois de ter ameaçado com uma subida de tarifas aduaneiras o México, o Canadá e a China, Trump alargou os seus alvos – os BRICS, se decidirem criar uma nova moeda BRICS ou usarem uma outra moeda que substitua o dólar.
«Exigimos a estes países que não se comprometam a criar uma nova moeda BRICS nem a usar uma outra moeda para substituir o poderoso dólar americano» afirmou Trump, ameaçando que em caso contrário estes países enfrentarão tarifas alfandegárias de 100% durante a sua administração, que tem início em Janeiro de 2025. «A ideia de que os países BRICS estão a tratar de afastar-se do dólar, enquanto nós ficamos de braços cruzados a ver, acabou», escreveu o futuro presidente dos EUA.
O grupo de países BRICS integra Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, a que se juntaram a 1 de Janeiro deste ano Emiratos Árabes Unidos, Irão, Egipto e Etiópia e a que se associarão outros países, para já na condição de parceiros.
Cooperação entre BRICS «não é contra ninguém»
A China continuará a fortalecer a sua cooperação no quadro do grupo BRICS apesar das ameaças do presidente eleito dos EUA, declarou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Lin Jian.
«A China está pronta para continuar a trabalhar com os parceiros do BRICS para aprofundar a cooperação empresarial em diferentes esferas e dar uma maior contribuição ao crescimento sustentável e estável da economia mundial», realçou.
O diplomata chinês destacou que os países do grupo BRICS defendem a abertura, a inclusão, a cooperação mutuamente vantajosa, e a não participação em confrontações de blocos, nem o prejudicar terceiros.
Por seu turno, em Moscovo, o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov, considerou que as ameaças de Trump poderiam acelerar a transição para as moedas nacionais.
«Não se trata só dos países BRICS. Em geral, cada vez mais países estão a começar a usar as suas moedas nacionais em actividades comerciais e económicas externas. Este processo está a ganhar peso em todo o mundo. Por outro lado, se os EUA utilizarem a força, como diz, para pressionar economicamente os países a utilizar o dólar, provavelmente isso reforçará ainda mais essas tendências de transição para as moedas nacionais», explicou, acrescentando que a divisa norte-americana «começa a perder o seu atractivo como moeda de reserva para vários países». E acentuou que a cooperação no interior do grupo BRICS não é dirigida contra ninguém, nem contra o dólar ou outras divisas.
Anteriormente, o presidente da Rússia, Vladímir Putin, declarara que é demasiado cedo para falar da criação de uma moeda comum dos BRICS. Em sua opinião, a criação de uma moeda comum requer uma maior integração das economias dos Estados membros.
Também o governo da Índia assegurou que não existem pretensões dos BRICS de debilitar o dólar. O ministro dos Negócios Estrangeiros indiano, Subrahmanyan Jaishankar, descartou que o grupo BRICS tenha a intenção de enfraquecer a moeda norte-americana. Discursando no Fórum Mundial de Doha, no Catar, o governante indiano assegurou que tão-pouco existe alguma proposta de uma nova moeda para competir com o dólar.
Novo sistema de pagamentos e transações
O grupo BRICS continuará a trabalhar na criação do seu próprio sistema de pagamentos e transações apesar das recentes ameaças do presidente eleito dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump. «Uma plataforma de pagamentos é uma oportunidade, claro que continuaremos a avançar», afirmou recentemente o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Alexandr Pankin. Esclareceu que não se trata de criar uma moeda comum como fez a União Europeia com o euro: «Não é um euro-BRICS ou um BRICS euro», reforçou.