A Costa do Marfim anunciou a «retirada concertada e organizada», com efeitos imediatos, das tropas francesas expedicionárias nesse país da África Ocidental.
Na sua mensagem de fim do ano, o presidente Alassane Ouattara, até agora um firme aliado de Paris, revelou que a base militar de Port-Bouet, no sul, com mais de 600 efectivos franceses, será «devolvida» às forças armadas marfinenses durante este mês de Janeiro. Explicou que a decisão se enquadra nos esforços para «modernizar» e desenvolver as capacidades do exército do país, realçando que a Costa do Marfim «está disposta a assumir plenamente a gestão da sua segurança nacional».
Desde 1960 – com o «pai» da independência, o presidente Félix Houphouet-Boigny, que dirigiu o país ao longo de mais de 30 anos –, a Costa do Marfim acolheu no seu território tropas da França, que intervieram em diversas crises políticas e militares internas, e mesmo regionais, apoiando quando necessário as forças favoráveis aos interesses neocoloniais da antiga metrópole.
Outra ex-colónia francesa no ocidente africano, o Senegal, que durante décadas manteve estreitos laços de dependência com a França (iniciados e consolidados no tempo do presidente Léopold Senghor, no poder entre 1960 e 1980), fez saber que vai encerrar as bases militares francesas no seu território. O actual chefe do Estado senegalês, Bassirou Diomaye Faye, que tem assumido posições progressistas – propõe um «pan-africanismo de esquerda» –, considera ser a presença de tropas estrangeiras «incompatível» com a soberania nacional. Também o primeiro-ministro, Ousmane Sonko, reiterou em Dakar que serão encerradas todas as bases militares estrangeiras no Senegal, «num futuro próximo», ainda em 2025.
Outro rompimento recente e inesperado com Paris foi o do Chade, país centro-africano até há pouco visto como um parceiro privilegiado da França em África, em particular no alegado combate contra grupos secessionistas e terroristas no Sahel. Em finais de Novembro do ano findo, o governo do presidente chadiano, Mahamat Idriss Déby Itno, rescindiu os acordos de cooperação na área militar que ligavam Paris e N’Djamena, invocando razões de defesa da soberania.
Estes desaires da política neocolonialista francesa na África Ocidental seguem-se às posições soberanistas dos novos governos do Mali, Burkina Faso e Níger, que decidiram expulsar as tropas francesas dos seus países. No caso do Níger, também os militares norte-americanos, presentes em duas bases, em Niamey e Agadez, foram convidados a deixar o país.
Face às pressões e até ameaças de uso da força, da parte da Cedeao (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental), os três países abandonaram essa organização regional, assinaram um pacto de defesa colectiva e constituíram a Aliança dos Estados do Sahel.
Agora, os líderes militares do Mali, Assimi Goita; do Burkina Faso, Ibraim Traoré; e do Níger, Abdourahamane Tiani, ao mesmo tempo que organizam a luta contra o terrorismo saheliano, estabelecem relações de cooperação entre si e com diversos actores – China, Rússia, grupo BRICS, entre outros – e defendem o reforço da sua independência e soberania, assim como o desenvolvimento dos seus países em benefício dos respectivos povos.