Uma errata para a presidência polaca da UE

João Oliveira

“Se­gu­rança, Eu­ropa!” é o lema da pre­si­dência po­laca da UE.

Na­quelas duas pa­la­vras se en­cer­raram assim, de uma as­sen­tada, as mis­ti­fi­ca­ções da pro­pa­ganda com que se tenta sus­tentar uma po­lí­tica de­ter­mi­nada e ori­en­tada por op­ções de classe con­trá­rias aos in­te­resses dos tra­ba­lha­dores e dos povos. Isso jus­ti­fica que se faça uma er­rata da­quela pro­cla­mação. E a pri­meira nota de cor­recção é para que onde se lê “Se­gu­rança” se leia “Mi­li­ta­rismo e guerra”.

Na ver­dade, esse é o ele­mento po­lí­tico cen­tral desta pre­si­dência po­laca. Em con­so­nância com as ori­en­ta­ções po­lí­ticas es­tra­té­gicas da UE, a pre­si­dência po­laca propõe-se dar ao mi­li­ta­rismo e à guerra lugar de des­taque na sua acção.

In­sistir no for­ne­ci­mento de armas e equi­pa­mentos mi­li­tares para pro­longar a guerra na Ucrânia, au­mentar os gastos mi­li­tares no es­paço da UE, criar ca­pa­ci­dade de pro­dução in­dus­trial para ali­mentar a cor­rida aos ar­ma­mentos são al­guns dos as­pectos mais vi­sí­veis dessa opção. Soma-se a isso a in­sis­tência na po­lí­tica de san­ções, cujas con­sequên­cias con­ti­nuam a somar-se no fardo que pesa cada vez mais na de­gra­dação das con­di­ções de vida dos povos.

Ob­vi­a­mente que, se estes ob­jec­tivos fossem as­su­midos com essa fran­queza, o coro de crí­ticas e a re­jeição po­pular con­dená-los-iam ao fra­casso. Por isso se re­corre à velha téc­nica de pro­pa­ganda de falar de se­gu­rança sempre que se quer fazer o ca­minho do mi­li­ta­rismo e da guerra.

A se­gunda cor­recção que se impõe é a subs­ti­tuição da “Eu­ropa” que apa­rece como des­ti­na­tário da ordem de co­mando a ca­minho do mi­li­ta­rismo e da guerra. Na ver­dade, é para “servir os grandes in­te­resses eco­nó­micos e fi­nan­ceiros e não os povos” que esta po­lí­tica e as suas op­ções se fazem.

Quando a UE e a sua pre­si­dência po­laca apontam a pri­o­ri­dade ao mi­li­ta­rismo, fica pelo ca­minho a pri­o­ri­dade que devia ser dada à res­posta aos pro­blemas dos tra­ba­lha­dores e dos povos. O que “vai para os ca­nhões não vai para a man­teiga”... Por isso é pre­ciso pro­curar com uma lupa para en­con­trar nas pri­o­ri­dades da pre­si­dência po­laca re­fe­rên­cias a ques­tões como a saúde ou a co­esão. E re­fe­rência aos tra­ba­lha­dores e aos seus di­reitos, nem vê-la.

Em sen­tido con­trário, dá-se pri­o­ri­dade ao mi­li­ta­rismo fa­vo­re­cendo os grandes in­te­resses eco­nó­micos e fi­nan­ceiros que se movem por de­trás do ne­gócio bi­li­o­nário do ar­ma­mento e es­tende-se esse fa­vo­re­ci­mento a ou­tros sec­tores eco­nó­micos, como o da energia, sob o de­sígnio da “com­pe­ti­ti­vi­dade”.

Acres­centa-se a isto um con­junto de op­ções re­ac­ci­o­ná­rias em ma­téria de mi­gra­ções, fron­teiras, se­gu­rança in­terna, po­lí­ticas para o con­trolo da co­mu­ni­cação e in­for­mação.

O so­ma­tório é cla­ra­mente con­trário aos in­te­resses dos povos e fa­vo­rável aos de­síg­nios do grande ca­pital.

Da pro­cla­mação ini­cial, salvar-se-á talvez a vír­gula. Te­nhamos, no en­tanto, em conta que a soma que ela in­dicia é razão de uma luta que tem de pros­se­guir muito para lá da se­mân­tica.

 



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