Los Angeles
A dimensão da destruição causada pelos fogos em Los Angeles impressiona: 12 mil habitações destruídas, 150 mil deslocados, 24 mortos. A previsão é de agravamento das condições climatéricas para os próximos dias.
As reportagens sobre a tragédia sucedem-se. As histórias das vítimas, do medo, da fuga, da dor de quem perdeu família e amigos, a casa, são impressionantes. Tal como o são os gestos de solidariedade. A interrogação que fica é porque é que não há tratamento noticioso igual em situações de tragédia humanitária de dimensão semelhante, ou piores ainda, noutros pontos do globo.
Há motivos objectivos: os órgãos de comunicação social têm correspondentes nos EUA, as televisões portuguesas têm acordos com congéneres americanas, em poucas horas foi possível localizar portugueses emigrados em Los Angeles. Esses são elementos que nos aproximam dos sentimentos de quem vive aquela tragédia, mais do que ficar só a saber dos números.
Na Palestina, por exemplo, onde o número de habitações destruídas, de pessoas deslocadas, de mortos e feridos é muitíssimo superior, não há nenhum desses meios para fazer notícias para as televisões. Em primeiro lugar porque o país que ocupa e pratica genocídio não só não deixa entrar jornalistas estrangeiros, como tem por alvo os que resistem no território. Mas as histórias terríveis das vítimas existem e são possíveis de ver, até no telemóvel de cada um. E os seres humanos que as vivem, iguais na sua humanidade aos de Los Angeles, sentem a mesma dor, o mesmo medo.
Da próxima vez que falarmos de desumanização, tantas vezes deliberada, pensemos neste exemplo. Seria possível fazer horas de reportagens igualmente terríveis com vítimas de guerras e catástrofes noutros pontos do mundo. Talvez isso tornasse a paz mais urgente e a guerra mais insuportável. Enquanto isso, que ninguém falte, sábado, à manifestação pela paz em Lisboa.