Resistência e solidariedade forçam cessar-fogo na Faixa de Gaza

En­trou em vigor um cessar-fogo tem­po­rário na Faixa de Gaza, que in­clui, além do calar das armas, a en­trada de ajuda hu­ma­ni­tária no ter­ri­tório e a troca de pri­si­o­neiros entre Is­rael e a re­sis­tência pa­les­ti­niana. Esta pri­meira fase do acordo es­tende-se por 42 dias.

Apesar do cessar-fogo, co­lonos e tropas is­ra­e­litas re­a­lizam novos ata­ques na Cis­jor­dânia

Lusa

Após 15 meses de per­ma­nentes ata­ques e bom­bar­de­a­mentos is­ra­e­litas contra a po­pu­lação pa­les­ti­niana da Faixa de Gaza, en­trou em vigor, no dia 19, um acordo que prevê um cessar-fogo, em­bora com ca­rácter tem­po­rário. Du­rante a pri­meira fase deste acordo, que se es­ten­derá por 42 dias, para além do cessar-fogo, está pre­vista a en­trada de ajuda hu­ma­ni­tária, a troca de pri­si­o­neiros entre Is­rael e a re­sis­tência pa­les­ti­niana, para além da re­ti­rada das forças is­ra­e­litas do ter­ri­tório da Faixa de Gaza.

O acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, as­si­nado no dia 15, em Doha, ca­pital do Catar, po­deria há muito estar im­ple­men­tado não fosse a ati­tude dos EUA em o im­pedir, como ficou de­mons­trado nos múl­ti­plos vetos que uti­lizou no Con­selho de Se­gu­rança das Na­ções Unidas. Se­gundo os me­di­a­dores ca­taris, o acordo a ser im­ple­men­tado visa pôr «um fim de­fi­ni­tivo à guerra» que de­vastou o ter­ri­tório pa­les­ti­niano.

No quadro do acordo, a re­sis­tência pa­les­ti­niana en­tregou no do­mingo as pri­meiras três pri­si­o­neiras is­ra­e­litas, que foram trans­fe­ridas para Is­rael, que, em con­tra­par­tida, li­bertou 90 pri­si­o­neiros pa­les­ti­ni­anos, na sua mai­oria mu­lheres e me­nores de idade. Entre os pri­si­o­neiros li­ber­tados fi­gura Kha­lida Jarrar, di­ri­gente da Frente Po­pular de Li­ber­tação da Pa­les­tina, que nesta sua úl­tima per­ma­nência na prisão passou cinco meses e uma se­mana em iso­la­mento total, para além de ou­tras vi­o­lên­cias co­me­tidas que agra­varam a sua saúde. Entre as mu­lheres pa­les­ti­ni­anas li­ber­tadas contam-se ac­ti­vistas, jor­na­listas, es­tu­dantes e tra­ba­lha­doras de or­ga­ni­za­ções hu­ma­ni­tá­rias.

Mi­lhares de pes­soas con­cen­traram-se, em­pu­nhando ban­deiras pa­les­ti­ni­anas e en­to­ando pa­la­vras de ordem de luta, para sau­darem a che­gada dos pri­si­o­neiros pa­les­ti­ni­anos agora li­ber­tados, sím­bolos da he­róica re­sis­tência pa­les­ti­niana face à agressão e ocu­pação is­ra­e­lita.

Nestes 42 dias, du­rante a pri­meira etapa do acordo, Is­rael deve li­bertar cerca de 2000 pri­si­o­neiros pa­les­ti­ni­anos, dos quais me­tade são ha­bi­tantes da Faixa de Gaza presos nos úl­timos 15 meses. Em troca, 33 is­ra­e­litas serão li­ber­tados.

É ur­gente a ajuda hu­ma­ni­tária
O pleno res­peito pelo cum­pri­mento do cessar-fogo na Faixa de Gaza e a en­trada no ter­ri­tório de cen­tenas de ca­miões com ajuda hu­ma­ni­tária (as Na­ções Unidas estão a or­ga­nizar a dis­tri­buição em toda a faixa, dando es­pe­cial atenção às pes­soas mais vul­ne­rá­veis) são apenas al­guns passos na di­fícil si­tu­ação en­fren­tada pelos pa­les­ti­ni­anos após 15 meses de bru­tais bom­bar­de­a­mentos e mas­sa­cres por parte de Is­rael, que pro­vo­caram de­zenas de mi­lhares de mortos, fe­ridos e de­sa­pa­re­cidos.

Os ha­bi­tantes co­me­çaram a re­gressar às suas casas, des­truídas ou gran­de­mente da­ni­fi­cadas, de­pois de terem pas­sado meses des­lo­cados à força, so­frendo de mal­nu­trição, sem acesso a água po­tável e a fontes de hi­gi­e­ni­zação, ex­postos aos cons­tantes ata­ques is­ra­e­litas, vendo os hos­pi­tais, es­colas e ou­tras infra-es­tru­turas serem trans­for­madas em es­com­bros.

A ajuda hu­ma­ni­tária que está a en­trar na Faixa de Gaza in­clui ali­mentos e pro­dutos bá­sicos, água po­tável, ma­te­rial sa­ni­tário e hi­gié­nico, com­bus­tível, além de 200 mil tendas de cam­panha e 60 mil casas ro­lantes para abrigo de emer­gência.

Quinze meses de agressão ge­no­cida is­ra­e­lita contra a po­pu­lação pa­les­ti­niana pro­vo­caram pelo menos 46.913 mortos, 110.750 fe­ridos e 11 mil de­sa­pa­re­cidos. Além disso, se­gundo dados da ONU, 92 por cento das ha­bi­ta­ções no ter­ri­tório foram des­truídas e 90 por cento dos seus ha­bi­tantes foram for­çados a des­locar-se dos seus lares.

Um re­pre­sen­tante da Or­ga­ni­zação Mun­dial da Saúde (OMS) na Pa­les­tina re­sumiu a si­tu­ação afir­mando que «o anúncio do cessar-fogo é uma fonte de es­pe­rança, mas o de­safio que temos pela frente é es­ma­gador».

 

Pros­se­guir a so­li­da­ri­e­dade

O anun­ciado acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, cujo cum­pri­mento e con­cre­ti­zação ca­re­cerá de ve­ri­fi­cação, deve as­se­gurar o efec­tivo fim dos ata­ques e dos mas­sa­cres le­vados a cabo por Is­rael, o in­con­di­ci­onal acesso da ur­gente ajuda hu­ma­ni­tária à po­pu­lação pa­les­ti­niana da Faixa de Gaza (que tem vindo a ser im­pe­dido por Is­rael) e a total re­ti­rada das forças mi­li­tares is­ra­e­litas deste ter­ri­tório pa­les­ti­niano, de­fende o PCP.

Numa nota de im­prensa, di­fun­dida no dia 18, o Par­tido con­si­dera que «o acordo al­can­çado é in­se­pa­rável da per­sis­tente e co­ra­josa re­sis­tência do povo pa­les­ti­niano em de­fesa dos seus di­reitos, do amplo mo­vi­mento mun­dial de con­tes­tação à po­lí­tica de ocu­pação e aos crimes de Is­rael e de so­li­da­ri­e­dade com a Pa­les­tina, bem como do cres­cente iso­la­mento de Is­rael e dos EUA».

O PCP con­si­dera ainda que o «acordo deve cons­ti­tuir um pri­meiro passo para um con­se­cu­tivo cessar-fogo per­ma­nente que ponha fim ao so­fri­mento do povo pa­les­ti­niano, abra ca­minho ao cum­pri­mento dos seus di­reitos na­ci­o­nais com a cri­ação do Es­tado da Pa­les­tina, con­forme as re­so­lu­ções das Na­ções Unidas, e a uma paz justa e du­ra­doura no Médio Ori­ente, o que tem vindo a ser su­ces­si­va­mente obs­ta­cu­li­zado e boi­co­tado pelos EUA e Is­rael».

Para o PCP, «impõe-se o pros­se­gui­mento da so­li­da­ri­e­dade com o povo pa­les­ti­niano, exi­gindo o fim do ge­no­cídio e da po­lí­tica cri­mi­nosa de Is­rael, o cessar-fogo per­ma­nente na Faixa de Gaza, o acesso da ajuda hu­ma­ni­tária à po­pu­lação pa­les­ti­niana – de­sig­na­da­mente pelas agên­cias da ONU, in­cluindo a Agência das Na­ções Unidas de As­sis­tência aos Re­fu­gi­ados da Pa­les­tina no Pró­ximo Ori­ente (UNRWA) –, o fim da agressão por parte das forças e co­lonos is­ra­e­litas na Cis­jor­dânia e em Je­ru­salém Leste, o fim da ocu­pação e a cri­ação do Es­tado da Pa­les­tina com as fron­teiras de 1967 e ca­pital em Je­ru­salém Leste, o cum­pri­mento do di­reito de re­torno dos re­fu­gi­ados pa­les­ti­ni­anos».

 



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