- Nº 2670 (2025/01/30)

Tribuna defendeu controlo público no sector dos resíduos

Trabalhadores

Cerca de uma centena de trabalhadores dos resíduos participaram, no dia 23, numa tribuna pública em frente ao CCB, promovida pelo STAL e pela FIEQUIMETAL, para denunciar a difícil realidade vivida no sector.


A iniciativa, que contou com testemunhos de trabalhadores da recolha de resíduos e limpeza urbana, realizou-se ao mesmo tempo em que decorria, dentro do CCB, o Encontro Nacional sobre Resíduos, organizado pela ANMP, informam as estruturas sindicais.

Na tribuna, denunciaram-se os graves problemas vividos no sector, nomeadamente: salários de miséria; imposição da polivalência; precariedade; despedimentos abusivos; desrespeito por direitos; insuficiente ou completa ausência de reconhecimento e compensação da insalubridade, penosidade e risco; ataques à liberdade sindical; e bloqueio da negociação e contratação colectivas.

Este quadro, lembram as organizações, contrasta com os exorbitantes lucros das empresas do sector, nomeadamente da EGF (antiga empresa pública, agora detida pela Mota-Engil) que, só em 2023, arrecadou mais de nove milhões de euros em lucros.

Gestão pública do sector

No final da tribuna, os trabalhadores reunidos aprovaram uma carta aberta, dirigida ao Governo e aos participantes do encontro da ANMP, onde afirmam que a prestação dos serviços de recolha de resíduos e limpeza urbana «não deve ser subordinada à lógica do lucro, mas antes assentar num modelo de gestão pública», determinada «pelo interesse das populações e por razões ambientais».

Nesse sentido, na carta é exigida não só a valorização do trabalho e dos trabalhadores como, também, a reversão da privatização da EGF e a instituição de uma gestão de serviços democrática, transparente e participativa.

Além disso, é defendida a atribuição de mais meios financeiros, humanos e técnicos, a garantia da proximidade com as populações, e uma nova política de preços e tarifas (que chegam a ter subidas superiores a 200 por cento, como é o caso da Amarsul, entre 2019 e 2024).

Cabe lembrar que, durante muito tempo, a organização deste sector foi baseada na prestação directa por parte dos municípios (na recolha e limpeza), e na cooperação destes com a EGF, pública (no tratamento e valorização de resíduos urbanos).

«Fruto dessa realidade, o País registou enormes avanços, alcançando a recolha de resíduos uma cobertura de 100 por cento da população portuguesa», afirma-se na carta.

No entanto, a situação mudou em 2014, com a venda da EGF à Mota-Engil, que transformou o serviço público num negócio e os municípios em meros clientes, e desvalorizou profundamente os trabalhadores.