Novos e perigosos saltos na UE

João Pimenta Lopes

Nas se­manas re­centes con­fron­támo-nos com de­sen­vol­vi­mentos da UE que con­fi­guram novos saltos do pro­cesso de in­te­gração ca­pi­ta­lista Eu­ropeu, com a apre­sen­tação da dita «Bús­sola da com­pe­ti­ti­vi­dade» e com a re­a­li­zação do re­tiro da «guerra», reu­nião in­formal dos «lí­deres» da UE.

Do pri­meiro a ideia traduz-se de forma sim­ples. É pre­ciso ga­rantir aos grandes grupos eco­nó­micos e mo­no­po­listas a acu­mu­lação de lu­cros e de ri­queza. E porque «o sector pri­vado não po­derá su­portar a maior parte do fi­nan­ci­a­mento do in­ves­ti­mento sem o apoio do sector pú­blico», é pre­ciso trans­portar a re­ceita para pagar o bu­raco da banca pri­vada para agora ga­rantir o lucro do ca­pital pri­vado, en­quanto os riscos ficam as­se­gu­rados e por conta de todos. Sendo que as po­lí­ticas de­fi­nidas apontam a uma «dí­vida» comum que pode as­cender a 800 mil mi­lhões de euros anuais, Von der Leyen, apre­sen­tando a dita «bús­sola» era clara: «a pou­pança das fa­mí­lias eu­ro­peias é de 1,4 bi­liões de euros por ano», «o que nos falta é um mer­cado de ca­pi­tais efi­ci­ente que trans­forme essas eco­no­mias em in­ves­ti­mentos e o ca­pital de risco que é tão ne­ces­sário».

Eis o ca­minho que jus­ti­fi­cará, entre ou­tros, o as­salto às Se­gu­ranças So­ciais, vi­sando trocá-las por fundos de pen­sões. E porque já não lhes basta a har­mo­ni­zação le­gis­la­tiva de­ter­mi­nada pela UE, trans­posta e apli­cada, ainda assim, de forma di­fe­ren­ciada em cada um dos 27 Es­tados-Mem­bros, pre­tendem agora a cri­ação de um 28.º re­gime ju­rí­dico que es­cape às ju­ris­di­ções na­ci­o­nais, para fa­ci­litar a ac­tu­ação das mul­ti­na­ci­o­nais que «sim­pli­fique» e har­mo­nize le­gis­lação de di­reito so­ci­e­tário, la­boral, fiscal e de in­sol­vência. Uma ainda maior li­be­ra­li­zação de sec­tores es­tra­té­gicos e apontar a com­pe­ti­ti­vi­dade também ao mi­li­ta­rismo, dando gás ao com­plexo mi­litar in­dus­trial (con­cen­trado nas grandes po­tên­cias), pa­dro­ni­zando equi­pa­mentos, im­pondo a in­te­ro­pe­ra­bi­li­dade e es­pe­ci­a­li­zando ca­pa­ci­dades, abrindo ca­minho à con­tra­tação pú­blica de equi­pa­mento mi­litar (à se­me­lhança da aqui­sição de va­cinas). E ainda, o apontar balas ao prin­cípio de de­cisão por una­ni­mi­dade no Con­selho, ins­tru­mento que ga­rante os in­te­resses de países com menor peso no ac­tual pro­cesso de de­cisão, como Por­tugal, subs­ti­tuindo-o por de­ci­sões por mai­oria qua­li­fi­cada.

Saído do re­tiro da «guerra», a de­cisão de au­mentar ainda mais os gastos mi­li­tares, nor­ma­li­zando des­pesas su­pe­ri­ores aos 2% do PIB de­ter­mi­nados pela NATO, mesmo que em 2024, essas te­nham as­cen­dido a 326 mil mi­lhões de euros, mais do dobro do valor de 2016. E se para os pro­blemas dos tra­ba­lha­dores, os baixos sa­lá­rios e pen­sões, o in­ves­ti­mento em ser­viços pú­blicos (saúde, edu­cação, ha­bi­tação), o in­ves­ti­mento nos sec­tores pro­du­tivos, os Es­tados-Mem­bros só en­con­tram res­tri­ções or­ça­men­tais de­ter­mi­nadas pela UE, ali se de­cidiu que tais res­tri­ções não contam para o mi­li­ta­rismo e a guerra.

 



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