- Nº 2675 (2025/03/6)

Interpelação do PCP desmonta suposta «coragem» do Governo

Assembleia da República

O Grupo Parlamentar do PCP realizou, no dia 26 de Fevereiro, uma interpelação ao Governo sobre política geral, centrada na degradação da situação social do País, em consequência da política de direita.

Lusa

«O PCP traz hoje à Assembleia [da República], mais uma vez, o confronto entre a realidade do País e as opções de um Governo ao serviço de uma minoria e cuja propaganda, por maior que seja, não apaga a realidade das injustiças e desigualdades», assinalou Paulo Raimundo.

O Secretário-Geral lembrou as palavras utilizadas pelo primeiro-ministro, na semana anterior, para classificar a sua governação – «liderança de coragem» – inquirindo se é corajoso baixar o IRC, entregar benefícios fiscais às grandes empresas e a não residentes, impor mais horas e mais anos de trabalho, apostar em privatizações ou desmantelar serviços públicos.

«Isto, governar para os poderosos, não é acto de coragem, mas demonstração de vassalagem e submissão aos interesses dos grupos económicos, às multinacionais e às imposições da UE e do imperialismo», destacou.

Governo ignora problemas...
Paulo Raimundo apontou um conjunto de áreas onde o Governo, afirmando a sua suposta «coragem», não dá verdadeiras respostas aos problemas do País, a começar pelos direitos dos trabalhadores, para quem a distribuição da riqueza, a depender do Executivo, «é sempre para depois, tal como é para quem trabalhou uma vida inteira e para os dois milhões de pessoas, 380 mil das quais crianças, que estão na pobreza».

«Essa conversa», sublinhou, «cai por terra perante os 32 milhões de euros de lucros por dia de 19 grupos económicos», que «nunca precisam de esperar pela riqueza do amanhã» e que «lucram, e de que maneira, com a riqueza de hoje, criada pelos 4,8 milhões de assalariados. Esses que põem o País a funcionar, trabalham por turnos e à noite, têm dois e três empregos, sujeitos à precariedade, com a maioria, desde logo as mulheres, a não levar mil euros para casa».

O Secretário-Geral referiu, ainda, muitos outros problemas que se agravam, dia após dia, com as opções políticas do Governo, como o aumento do custo de vida (particularmente grave quanto ao preço da botija de gás, que subiu 28 por cento desde 2022), a degradação do SNS e a aposta no negócio privado da doença, a crise na habitação, ou a subserviência a uma «minoria que quer sempre mais exploração, lucro, favores, benefícios e benesses», de que o recente perdão à multa da banca «é só mais um escândalo que se junta a muitos outros».

...e não dá respostas
Também os demais deputados da bancada comunista, ao longo do debate, apontaram os muitos erros e problemas da actual governação, que insiste, como referiu a líder parlamentar Paula Santos, em «desviar a atenção das dificuldades de quem trabalha e trabalhou toda uma vida, para ocultar o seu compromisso com as opções da política de direita, responsáveis pelo agravamento das condições de vida».

Por seu lado, Alfredo Maia lembrou o «País real que a Direita não vê», um País onde grassam os baixos salários e pensões, os insuportáveis aumentos de preços e a pobreza. O deputado lembrou algumas das soluções (propostas pelo PCP), que permitiriam contrariar este caminho, desde logo, o aumento geral de todos os salários em 15 por cento (pelo menos 150 euros), a fixação do salário mínimo nacional em 1000 euros, e a actualização geral das pensões em cinco por cento, num mínimo de 70 euros).

Crise na habitação
Já António Filipe, comentando declarações da secretária de Estado da Habitação, considerou que o Executivo minimizou a «gravidade da situação que se vive no nosso País em matéria de acesso à habitação», questionando «o que é que o Governo já fez, de facto, para alterar esta situação».

«O Governo fez alguma coisa para limitar os aumentos das rendas de casa, que têm desalojado milhares de famílias no nosso País?», inquiriu, sabendo que a resposta é «não».

O deputado recordou, ainda, outros problemas relacionados com a habitação, e também não solucionados pelo Executivo, como o número de pessoas em situação de sem abrigo, as borlas fiscais a residentes não habituais, ou a chamada «gentrificação das cidades».